Antônio Heberlê*
Não conheço toda a África, mas sei que muita gente quer participar do crescimento dos países africanos, por isso é comum encontrar pessoas de todo o mundo passando pelos países dessa parte do planeta. Gente curiosa, mas também que se interessa pelas suas riquezas minerais, pela energia, pelos transportes, pelas construções, pela agricultura e pelo comércio, que hoje a cortejam
Além dos tradicionais turistas, o novo despertar da África é motivado pela estabilidade trazida pela onda de paz, já que foi só muito recente que as colônias do continente adquiriram independência dos jugos europeus e hoje os povos da região retomaram a autonomia dos seus destinos. Não foi sem guerras, mas a África está encontrando o seu caminho democrático aos poucos e o orgulho de ser africano já está nos alvos sorrisos que cruzam alegres as ruas e as ruelas locais.
O africano é, por natureza, um povo festivo, cantante e dançante, ainda que as marcas do sofrimento permaneçam no dia-a-dia e tornem-se completamente desumanas nas regiões desérticas, onde a fome impera em meio a fuzis. Mas, apesar disso, emerge uma nova África, que tem, na terra de Mandela, um grande espelho.
Todo africano sabe que Johanesburgo é outra coisa e isto tem servido de incentivo para se acreditar que é possível vencer preconceitos e construir nações independentes e produtivas com o que restou de dignidade após o cheiro de pólvora que ficou suspenso no ar.
Moçambique, por exemplo, é um país rico de recursos naturais que se fortalece por entre as sombras das guerras internas recentes, que refletem a luta pelo aprendizado em se transformar povos servis em democracias modernas. Isto não é nada fácil, porque tende a queimar as etapas naturais da evolução política, sempre lenta e sustentada por interesses diversos.
Então se poderia perguntar por que Moçambique está indo em frente com passos firmes. A resposta é simples. O país tem um potencial imenso para evoluir em todas as áreas. Explora ao seu compasso tudo o que tem e, por isso, é alvo dos desejos imediatos do progresso acelerado, ávido de retornos. Mas não nos enganemos, porque o sofrimento faz perder a ingenuidade, e Moçambique está aprendendo o que fazer com a sua autonomia, uma coisa que precisa ser resgatada, principalmente em cada cidadão e cidadã, antes acostumados a dizer sim, sim, meu amo, meu senhor.
Viver em liberdade nem sempre é fácil, porque, sorrateiramente, tem alguém esperando, querendo levar vantagem. Mas o povo moçambicano está ciente de que precisa escrever a própria história, com erros e acertos, sabendo de quem depende para tomar o melhor caminho. De si mesmo.
Antes eu não entendia por que, quando se quer dizer que uma coisa é imensa, quase sem limites, diz-se que é uma “África”. Hoje sei. Porque a única forma de perceber esse lado do planeta, sua vida e cultura é andar com eles, nos seus ritmos, conviver com as pessoas, ouvir suas histórias e perceber os significados de, por vezes, elas ficarem caladas, pensativas e responderem com a gentileza de um sorriso singular, o que para bom entendedor é uma África de sinceridade, de brandura e muita história pessoal.
* Professor da UCPel, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, consultor da Embrapa na África
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