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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A revolução na música pop: reedição em CD's dos New Order

Poucas bandas conseguiram chamar a si a admiração dos músicos e a aclamação do grande público como os New Order. A sua obra, sobretudo a que gravaram nos anos 80, é hoje aceite como uma das cartilhas de referência da música pop. De resto, não é difícil, ao caminhar entre muitas bandas pop/rock da actualidade, tropeçar entre referências evidentes à memória de 80 dos New Order. É todo esse corpo de canções, editado entre 1981 e 1989, que agora surge numa série de cinco reedições, todas elas em formato de CD duplo, com booklets com novos textos e faixas extras (recuperando lados B de singles, versões longas e remisturas).


Esta é, sobretudo, "a" história da redescoberta do prazer da dança por uma banda nascida no clima sombrio da Inglaterra de finais de 70. Ou, para ser mais preciso, a obra que reflecte como a cultura da música de dança que agitava a Nova Iorque de inícios de 80 chegou à música pop deste lado do Atlântico, gerando uma verdadeira revolução.


O primeiro single dos New Order, todavia, nada fazia antever a agitação que se seguiria. Editado em Março de 1981, Ceremony, assim como o lado B In a Lonely Place, não era mais que uma continuação directa do trabalho com os Joy Division, de cujas cinzas os New Order então nasciam, juntando aos três "sobreviventes" da banda cessante a presença (nas teclas) de Gillian Gilbert. Os temas do single foram ainda compostos com Ian Curtis, surgindo em disco já na voz de Bernard Sumner. Em Novembro, o primeiro álbum, Movement, era a evolução directa da etapa final dos Joy Division, em canções assombradas, mas ainda hoje estranhamente cativantes.


O verdadeiro nascimento dos New Order chega como consequência de uma viagem a Nova Iorque, em finais de 1981. É nas discotecas mais entusiasmantes da Big Apple que se deixam encantar pela nova música de dança. O italo disco, o electro, o hi-nrg. Sons que assimilam, cruzam com a sua identidade pop... E a revolução não tardou.


Singles como Everything's Gone Green, Temptation e, depois, o "clássico" Blue Monday mudam, literalmente da noite para o dia, a relação de uma multidão de músicos (e seus admiradores), nascidos em clima urbano e cinzento, com o prazer da música de dança. A obra dos New Order ganhou depois verdadeiro fôlego com a relação que a sua editora (a Factory Records) e os próprios músicos foram criando com a Hacienda, discoteca que faria de Manchester (a cidade-berço da banda) uma capital de acontecimentos na história da música de dança (sobretudo em finais da década de 80).


O lote de reedições (que gerou polémica depois das críticas à qualidade do som dos discos-bónus das primeiras prensagens editadas) recorda os dias em que o grupo ajudou a reinventar a música pop. Separaram--se em 1993. Reuniram-se em 1998. E, este ano, o baixista Peter Hook anunciou novo fim...

Cinema: "Madagáscar 2", aguardado com muita expectativa

É uma das mais aguardadas estreias do ano e o primeiro grande 'blockbuster' para a quadra festiva que se aproxima, com resultados de bilheteira a anunciarem recordes: “Madagáscar 2”, num momento em que a DreamWorks já anuncia a preparação do terceiro filme. Alex, Gloria, Melman e Marty perdem-se em África.


Veja mais: Cinema: Madagáscar 2, perdidos em África

Novo CD do Queen, 'The Cosmos Rocks', soa ultrapassado

Jotabê Medeiros, de O Estado de S. Paulo

As faixas de The Cosmos Rocks foram escritas por Brian, Roger e Rodgers em 2007 e no início de 2008. O início foi com um carácter meio beneficente, tanto que a música Say It's Not True, que foi lançada para angariar fundos destinados a pesquisas contra a SIDA, numa campanha internacional comandada por Nelson Mandela. As guitarras são bem tocadas, a bateria é das melhores, a voz do cara à frente é boa e bem colocada e potente. Mas então, por que o disco novo do Queen é tão ruim? Bem, por diversas razões, a primeira delas porque é um pop-rock ultrapassado e com letras sem imaginação, mais para Air Supply do que para o velho Queen.

Apesar da excelência dos seus artífices, a criatividade ficou de fora desse Cosmos Rockin’, que está a ser lançado no País simultaneamente à passagem da nova digressão do grupo pela EMI (acompanha um DVD de uma hora com imagens do show da banda no Japão, aí sim com os velhos sucessos do Queen do tempo de Freddie Mercury).
Quando o novo Queen é mais pesado é bem melhor. É o caso da faixa Still Burnin, a única que se salvaria desse lote de 14 canções novas. "Ainda queimando, ainda berrando, ainda dando um rolê. Melhor do que nunca, cara. Ainda dançando, ainda pilotando, mergulhando no céu. O rock'n'roll nunca morre", diz a letra.
Bom, pode ser que o rock’n’roll não morra jamais, mas que ele fica baleado ele fica. Chris Jones, da BBC, escreveu que o Queen era como um híbrido de Led Zeppelin e de Royal Opera House, por conta de sua cozinha de peso e seu senso teatral, operístico. Perdendo-se essa possibilidade, o novo Queen está mais próximo de um travesti num show de boate decadente imitando seus ídolos, uma Gloria Gaynor com pegada de blues rock.
Há algumas tentativas de crítica social e política, como em Celebrity e Warboys, mas que soam inócuas, meio tardias, sem fundamento. Os veteranos do Queen + Paul Rodgers têm todo o direito de tentar uma nova vida, e é salutar que tenham resolvido gravar um disco com canções inéditas, inovando com algum tempero reggae (Call Me) e condimentos tex mex (Voodoo). Mas ainda não foi dessa vez que acertaram o ponto de cozimento.

Caetano Veloso realiza sonho de criança e vira professor

Caetano Veloso, ministrando uma aula em Ribeirão Preto

O cantor Caetano Veloso realizou na tarde desta quarta, 26, em Ribeirão Preto, um sonho de criança: foi professor por quase duas horas. Mas a aula foi diferente, interactiva, via satélite. E para cerca de 40 mil alunos, de 280 pólos da rede ligada ao Sistema COC de ensino em todo o Brasil. "Foi muito boa a experiência", disse Caetano, que falou de um tema que entende, viveu e gosta: "Da Bossa Nova ao Tropicalismo". Pelo acordo com a instituição, e a pedido dele, a aula será disponibilizada a toda a rede pública do País. Caetano também falou, depois, dos seus novos DVD e CD, além de seu blog, e procurou minimizar a crítica do amigo Tom Zé, que o ofendeu num show, domingo (23), no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo.



Veja aqui: Caetano Veloso realiza sonho de criança e vira professor

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

José Saramago fala de seu novo livro, "A Viagem do Elefante"

Uma certa fragilidade ainda é aparente, resquício de uma grave enfermidade respiratória que quase o matou. Mas, aos 86 anos, o escritor português José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura, enfrenta com rara lucidez e energia renovada o seu novo tour pelo Brasil, promovendo agora o lançamento mundial de A Viagem do Elefante, livro em que narra a aventura verídica de um elefante que rumou, em 1531, de Lisboa a Viena, presente de um rei português.
"Tive algo semelhante a três pneumonias, perdendo 20 quilos em pouco tempo", disse o autor de sucessos como Ensaio sobre a Cegueira, A Caverna e O Evangelho Segundo Jesus Cristo, em entrevista ao Estado, na segunda-feira, depois de homenageado por funcionários da editora.


Leia a entrevista: wwwnantchite.blogspot.com

Luís Represas prova a lingua viperina da Rosa Langa

Extractos de uma longa entrevista que o cantor português concedeu à jornalista da Rádio Moçambique, Rosa Langa.
Represas esteve este mês em Maputo para abrilhantar dois espectáculos ao lado de músicos moçambicanos como Stewart Sukuma e Hortêncio Langa.
Na íntegra vai aí mais uma das "ireverências" da nossa "4x4"
Rosa Langa (RL) – Na sua carreira, qual foi até agora o seu “cachet” mais alto que recebeu?
Luís Represas (LR)Não faço a mínima ideia e vou dizer-lhe porquê ... porque, felizmente, desde há muito que os contratos e os dinheiros não passam por mim. Passam pelo meu agente no qual eu tenho total confiança. Uma boa relação. Isso é uma enorme tranquilidade para o artista.
RL
– Sempre que precisa de dinheiro, ele está lá?
LR – Ou não (risos) ... mas que as contas estão certas ... há uma total liberdade da parte dele para negociar as coisas ... estou perfeitamente tranquilo... havendo sempre uma conversa, obviamente, mas muito mais do lado artístico, sobre o que eu quero fazer ou não em termos artísticos. Do lado negocial, do lado monetário ... eu acho que é engraçado, os artistas têem que ter algum pudor, claro que gostam de receber algum dinheiro. Mas no geral todos têem algum pudor em falar, em negociar essas coisas. Não é porque sujam as mãos, porque não ... porque é dinheiro limpo.
RL
– Antes pelo contrário ....
LR – Porque é legítimo, não é? Acho que nós não nos valorizamos se não valorizamos com quem trabalhamos. Nós, tendencialmente, seriamos mais enganados ...
RL
– Esta é mesmo para fechar ... hé... de cada show que tem realizado em Portugal e por esse mundo fora, faz antes um ritual?
LR – Há uma coisa que eu gosto muito de fazer sempre, que é jantar antes de tocar. E jantar com toda a minha equipa: os músicos e os técnicos. Não é um ritual mas acaba por ser um ritual quase ... não quer dizer que se não jantarmos qualquer coisa vai correr mal.
RL
– Não terminam assim numa reza, uma “Ave Maria”?
LR – Não, não, não. Eu acho que essa reza tem muito mais a ver com a comunhão entre nós todos que estamos à mesa antes do espectáculo, com um bom jantar, onde falamos de tudo menos de música. Das coisas da vida, falamos ....
RL
– Falam de mulheres, por exemplo?
LR – Falamos de mulheres, falamos de homens, de tudo ....
RL
– De que mulheres vocês falam mais?
LR – Falamos das nossas mulheres, porque falar das mulheres dos outros é complicado, não é?
RL
– Mas existem mulheres de ninguém?
LR – Há sim. Mas isso cabe a quem descobri-las e ficar com elas. Mas falamos da mulher. Ela, por si, é um tema fantástico, porque é sempre um tema misteioso.
RL
– Que partes da mulher é que aprecias mais?
LR – A cabeça.
RL
– Porquê a cabeça?
LR – Porque é um mistério.
RL
– E quando está com ela começa a carícia pela cabeça?
LR – (Risos) Ah ... estás a falar disso? Não. Fisicamente para mim, as mãos e os olhos são elementos fundamentais numa mulher. As mãos dizem muito.
RL
– E o olhar também ... começa aí uma boa conquista...
LR – Obviamente que sim. Não vou dizer aquela frase “que os olhos são a porta da alma”, mas que são, isso são.
RL
- Obrigrada

Ponte sobre o Zambeze: O sexo, o alcool e a Sida


Sexo e alcool. Alcool e sexo. Tanto faz. Nestas míseras cabanas a Sida impera. As vítimas desta mórbida pandemia são os incautos: os motoristas de longo-curso e os passageiros dos autocarros que circulam do sul para o norte, vice-versa.
Estes abrigos são construções (?) de caniço, bambu e estacas. Cobertas de capim, lonas ou plástico esburacados. Ou papelão. A iluminação é por vela (que o cliente compra). Não têm roupa de cama. Nem banheiro. Na hora da aflição o rio serve para "descarregar" o estomâgo.
Nelas se albergam as centenas de pessoas que tanto em Caia (Sofala) ou em Chimuara (Zambêzia) aguardam pela travessia através do batelão. O aluguer não chega aos 100 meticais/noite.
Como mochos à caça de ratos, as "trabalhadoras do sexo" deambulam por ali, tresandando a suor e ao sémen de muitos corpos, de vários homens de desconhecidas investidas relações. A cerveja a rodos e as místelas etílicas com nomes pomposos são a grande armadilha para "apanhar" os clientes.
Poucos são aqueles que dormem: uns porque se "afogam" no alcool, outros porque estão entretidos em verdadeiras orgias sexuais, cujas consequências só avaliam depois de largar do lugar.
A construção e entrada em funcionamento da ponte sobre o Rio Zambeze em 2009, afinal, não só vai minimizar os custos adicionais que os operadores económicos suportam devido à sua falta, como também irá certamente encerrar um antro de propagação da Sida.

Ponte sobre o Zambeze: a última travessia de barco?


Prevista para 2009, a ponte que estabelecerá a ligação rodoviária entre a região sul e o centro-nordeste de Moçambique representa a maior infra-estrutura realizada em território moçambicano desde a sua independência.
Com 2,4 km de comprimento, dos quais 1,6 km serão executados em viaduto, a ponte representa um investimento de 66 milhões de euros.
A construção da ponte, em betão armado, vai substituir a actual travessia em batelão, assegurada pela Administração Nacional de Estradas, e que se revela insuficiente face ao intenso tráfego de pessoas e mercadorias que se regista entre Sofala e Zambézia.
Por diversas vezes empreendi de barco ou de batelão aquela travessia, a última das quais foi em outúbro deste ano. Espero que seja a última, para mim e para os grandes "maltratados" da sua falta: os motoristas de longo-curso que, não raras vezes permaneciam de um lado e do outro (Caia e Chimuara) vários dias, entregues ás investidas dos mosquitos e ... das chamadas "trabalhadoras do sexo", muitas delas transportando no corpo o mortal vírus da Sida.
Quem vai sair a perder são as proprietárias das míseras barracas de comes e bebes pois, com a entrada em funcionamento da ponte, ninguém dependerá da "boa disposição" dos marinheiros que manejam os caquéticos batelões.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Fim do caso "Beatles são mais populares que Jesus Cristo"

Em 1966, no auge da beatlemania, John Lennon disse a um jornal britânico a famosa frase: "Os Beatles são mais populares do que Jesus Cristo", acrescentando que não sabia qual iria morrer primeiro, se o cristianismo, se o rock. Estas afirmações - sobretudo a primeira - foram muito comentadas e criticadíssimas à época, nomeadamente pelo Vaticano, mas também nos EUA.


Mais de 40 anos depois, a Santa Sé decidiu "perdoar" Lennon através de um artigo no seu órgão oficial, o diário L'Osservatore Romano. Na peça, publicada para assinalar os 40 anos do histórico Álbum Branco dos Beatles, e que elogia a banda e John Lennon, lê-se que o desabafo do músico foi uma forma de "exibicionismo, de gabarolice por parte de um jovem músico inglês pertencente às classes trabalhadoras, que havia crescido na era de Elvis Presley e do rock and roll, e alcançado um sucesso inesperado".


O artigo de meia página, ilustrado, diz ainda que os Beatles conseguiram "uma única e estranha alquimia de sons e palavras" e que demonstraram uma extraordinária capacidade de sobrevivência. Quanto ao Álbum Branco, é elogiado por ser "uma antologia musical mágica".


Segundo o correspondente da BBC em Roma, David Wiley, este artigo é fruto de o L'Osservatore Romano ter um novo director, que começou a dar mais atenção o mundo do entretenimento nas suas páginas, bem como a assuntos de política internacional, para além da cobertura das actividades diárias do Papa e da publicação de discursos seus.

Fela Kuti e Ginger Baker na Rádio Moçambique

Fela Kuti, um dos maiores músicos que a Africa já produziu, o revolucionário da música africana e intenso activista político da Nigéria na sua época, juntou-se em 1971 nada mais nada menos que Ginger Baker.
Ambos produziram este disco que, dentre tantas outras do Afro-Beat, tornou-se numa legenda e um material cobiçado pelos entusiastas da World Music e da música africana.
O Afro-beat foi criado por Fela Kuti em meados dos anos 60 quando ele uniu a complexidade rítmica da África com a batida do funk e os improvisos do jazz. O resultado não pôde ser melhor: surgiram entusiastas do novo estilo em todo o mundo e o nigeriano passou a ser conhecido como o maior músico de toda a Africa, e inclusive passou a fazer sucessivas apresentações nos Estados Unidos da América e na Europa com a sua banda.
Por outro lado, Fela Kuti colocou a Nigéria no mapa da música: muitos músicos viajavam para o país afim de conhecer o novo estilo musical e conhecer, como um todo, os diversos rítmos do continente negro. Ginger Baker foi um deles: o baterista e ex-membro da banda de rock Cream esteve em África em 1970 para pesquisar a música africana e obter ricas influências para os seus primeiros discos solo.
Foi a partir daí que conhece o fantástico músico nigeriano que, de imediato, o convida para tocar neste concerto ao vivo com o seu conjunto Africa 70.
Este disco é caracterizado por uma sessão rítmica das mais ricas e abundantes: são oito percursionistas entre baterias e congas e na última faixa há um dueto interessante entre os bateristas Tonny Allen e Ginger Baker.
Fela Kuti no vocal tem o suporte que precisa com uma “orquestração” bem interessante e exótica na sua formação.Eis então a ficha técnica do álbum “Fela Kuti and Ginger Baker – Live” de 1971.
Fela Ransome-Kuti: voice; Tunde Williams: 1st trumpet (solo); Eddie Faychum: 2nd trumpet; Igo Chiko: tenor sax (solos); Lekan Animashaun: baritone sax; Peter Animashaun: rhythm guitar; Maurice Ekpo: bass guitar; Tony Allen: drums; Ginger Baker: drums; Henry Koffi: 1st conga; Friday Jumbo: 2nd conga; Akwesi Korranting: 3rd conga; Tony Abayomi: sticks; Isaac Olaleye: shekere.



O "Clube dos Entas" pode ser escutado na Rádio Moçambique a Quinta-Feira (22H05) e Segunda-Feira (02H05) em 92.3 (FM) ou na internet: www.rm.co.mz

Pemba: O futuro alimentado pelo "Jhojhopué"



Estas crianças, cujas imagens foram registadas na Praia da Maringanha, a escassos quilometros da cidade de Pemba, para além de não estudarem, aprendem muito cedo a valerem-se a si próprias para as suas mais elementares necessidades: alimentação e vestuário.
Frequentam as praias e outros locais de grande concentração de pessoas, onde passam o tempo a pedir esmolas, algumas a realizar roubos de pequena monta, e com o resultado das suas "investidas" adquirem qualquer coisa, normalmente pão e algum "frito" e, se puderem, uma ou outra quinquilharia.
O seu contacto diário com artigos de consumo fúteis e para os quais não têm como adquiri-los, leva-as a enveredar para práticas ilícitas ou a sujeitarem-se aos jovens mais velhos de quem recebem instrução para a prática de furtos de telemóveis, brincos, carteiras, acessórios de automóveis como espelhos retrovisores, piscas, etc. Sabem que por serem menores nunca poderão responder junto das autoridades pelas suas falcatruas.
A mais emblemática praia da cidade de Pemba, Wimbe, regista aos sábados e domingos ou feriados, impressionantes enchentes. Só que a grande maioria são estas crianças que mais não fazem do que deabular pela orla da praia, a incomodar aqueles que para lá se deslocam para o merecido descanço e, o que é pior, para se apoderarem dos bens dos incautos.
Os pais dessas crianças onde estão? "Por aí" é a resposta mais que provável. Também eles, os pais, quando petizes, levavam o mesmo tipo de vida. É natural que o hábito se transmita de geração para geração.

A apanha do "Jhojhopué" em Pemba: bom para a Babalaza


"Jhojhopué" é um molusco que se encontra em pequenas conchas rugosas, de cor acastanada. Comestível, é apanhado habitualmente por raparigas e até mulheres adultas em várias praias do norte do país, sobretudo nas marés baixas.
O "Jhojhopué", como é chamado pelas populações de Pemba, serve de alimento para muitas famílias com baixos rendimentos, impedidas por isso de adquirir o peixe vendido a preços proibitivos.
O Molusco é retirado da sua concha, cozinhado a agua e sal. O caril (misturado com manga da época (verde) ou seca) é normalmente acompanhado com mandioca seca (makaka) cozida. O piri-piri "filho da ... é recomendável para os efeitos desejados.
De acordo com o meu amigo Shabani Ali, esta iguaria é um remédio santo para a "Babalaza", ou seja, para atenuar os efeitos da ressaca depois de uma noitada com cerveja a rodos ou com Muchekele (sumo de cajú fermentado).
As imagens foram registadas na Praia da Maringanha, na Baía de Pemba, Província de Cabo Delgado.

Álbum raro dos Beatles é vendido por 24 mil euros

O professor britânico e coleccionador de discos Andrew Milton vendeu por 24.550 euros um álbum raro dos Beatles pelo site eBay. A raridade é o disco de vinil White Album, cujo número de série é 0000005.
De acordo com o coleccionador, os primeiros quatro exemplares, de 33 rotações, estão nas mãos de membros das famílias dos integrantes da banda. Depois de conseguir um óptimo preço pelo álbum, Milton afirmou que poderá vender outros exemplares raros da sua colecção, como o número 18 do mesmo White Album.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

CD do Guns N'Roses é banido na China

Um dos jornais editados pelo Partido Comunista da China classificou o novo álbum da banda Guns N'Roses, Chinese Democracy, como um ataque ao povo chinês.
Adiado desde 1994, quando começaram as gravações, o CD, que chegou às lojas dos Estados Unidos no domingo, 23, traz duras críticas à ditadura comunista chinesa e ainda não está disponível nas lojas do país, mas pode ser escutados sem censura nenhuma pela Internet.
Num artigo, o jornal comunista The Global Times declarou que 'internautas não identificados' classificaram o CD como "parte de uma conspiração de grupos de Ocidente para 'controlar o mundo usando a democracia como um títere'".
O ministro dos negócios estrangeiros chinês não se pronunciou sobre o assunto, mas um porta-voz disse: "Não precisamos comentar isso".

Cantor de R&B Chris Brown domina American Music Awards




















O cantor de R&B Chris Brown dominou os American Music Awards no domingo, 23, ao conquistar três prêmios, entre eles o de Artista do Ano. O cantor de 19 anos superou Alicia Keys, que recebera o maior número de indicações - cinco -, mas levou para casa duas estatuetas. Alicia tinha sido vista como favorita para o troféu de Artista do Ano, o último da noite.
O cantor também foi premiado como Artista Masculino Favorito nas categorias soul/R&B e pop/rock. A sua namorada, Rihanna, venceu nas categorias femininas correspondentes. Os prêmios de Alicia Keys foram para o seu disco líder das paradas, As I Am, laureado álbum favorito nas categorias soul/R&B e pop/rock.
Outros ganhadores múltiplos incluem o rapper Kanye West, que nunca hesita em expressar seu desagrado quando é preterido em premiações. Ele recebeu os dois primeiros troféus American Music Award de sua vida, mas disse que daria um deles ao também indicado Lil Wayne.
Antes disso, Kanye West recebeu a estatueta de Melhor Álbum de rap/hip-hop, por Graduation. Ele convocou músicos de todos os gêneros para se incentivarem uns aos outros e evocarem o espírito de artistas como Beatles, Jimi Hendrix e Led Zeppelin. No caso dele, declarou: "Quero ser Elvis!"
Pelo segundo ano consecutivo, os vencedores foram determinados por uma votação online. Antigamente eles eram escolhidos por uma votação com 20 mil compradores de música, mas os produtores decidiram tornar o evento mais amplo, na esteira da queda na audiência. A iniciativa parece ter funcionado; a cerimônia do ano passado atraiu 11,8 milhões de telespectadores, contra 10,9 milhões no ano anterior.
A cerimônia teve participações de artistas de várias gerações, desde Miley Cyrus, que completou 16 anos no domingo, até a ex-vocalista dos Eurythmics Annie Lennox. A roqueira escocesa recebeu um prêmio pelo conjunto de seu trabalho e disse: "Nunca imaginei estar em cima do palco aos 53 anos de idade."

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Michael Jackson vira muçulmano e se chama Mikaeel, diz jornal

O cantor Michael Jackson converteu-se ao islamismo e mudou o seu nome para Mikaeel, segundo informou o jornal inglês The Sun nesta sexta-feira, 21. O músico de 50 anos participou numa cerimônia na casa de um amigo em Los Angeles para jurar fidelidade ao Corão.
Na ocasião, Jackson, que cresceu como Testemunha de Jeová, usava trajes da religião muçulmana. Uma fonte disse ao The Sun como o músico decidiu se converter. Segundo a fonte, um produtor e um compositor, ambos muçulmanos, achavam que Jackson estava um pouco desanimado. "Eles começaram a falar sobre suas crenças e como eles se tornaram pessoas melhores depois da conversão. E então, Michael começou a considerar a idéia".
A fonte acrescenta ainda que "um líder foi chamado da mesquita e Michael participou da 'shahada', uma declaração para conversão muçulmana. Mikaeel, segundo o The Sun, é o nome de um dos anjos de Alá. A fonte afirmou que o músico rejeitou o nome Mustafa, que significa "o escolhido".

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Ghorwane: Uma idade de Prata

ESTIVERAM por várias vezes entre o céu e a terra. Outras à beira do inferno, ou com um pé lá. Vicissitudes do tempo! Hoje, os “bons rapazes”, como são denominados os integrantes do conjunto Ghorwane, vivem uma longevidade de prata. Este marco, ao alcance de muito poucas bandas no nosso meio, será celebrado proximamente pelo grupo, juntamente com os seus fãs, através de um espectáculo a ter lugar brevemente em Maputo.
O nome Ghorwane é mítico, percorrendo vários palcos moçambicanos e do mundo a partir de sons produzidos em Maputo por artistas que se inspiraram em ritmos que foram bebendo ao longo da juventude, passada tanto na capital do país como na província de Gaza, de onde são originários. Aliás, o nome Ghorwane é inspirado no nome de um lago em Chibuto, que – dizem – sempre brota água. Por maior que seja a seca!
O concerto anunciado será mesmo para celebração. “Apenas uma celebração, mas que para nós vai significar muito”, segundo David Macuácua, um dos esteios do grupo. Vai significar o reencontro com o público, que nos últimos anos acompanhou o pulsar da banda por muito poucas ocasiões. Por exemplo, este será o primeiro concerto que vai dar. E no ano passado, que seria para celebrar a saída de mais um álbum, “Vana Va Ndota”, lançado em 2006, apenas vimos Ghorwane ao vivo por duas vezes.
O carácter especial do espectáculo que o Ghorwane está a preparar passa muito pelo repertório escolhido. Os bons rapazes farão uma espécie de retrospectiva da sua carreira. Isso equivale a dizer que o “show” percorrerá os três discos que o grupo fez até aqui: “Majurugenta”, “Kudumba” e “Vana Va Ndota”, para além da colectânea feita para a mini-série “Não é Preciso Empurrar”. No entanto, segundo João Carlos Schwalbach, outro artista da banda com quem falámos, os fãs irão deliciar-se nesse concerto com outros temas da banda feitos ao longo dos 25 anos da sua existência.
No espectáculo que a banda está a preparar, iremos ouvir, para além de temas como “Akuhanha”, “Buluku”, “Terehumba”, “Massotchua”, “Mamba Ya Malepfu”, “Vana Va Ndota” e outras canções inéditas destes artistas. O desaparecimento da senda musical de bandas como o Ghorwane deixa sempre as suas marcas – más - no seio dos amantes da música – moçambicana e não só – nos nossos palcos.
Hoje, o Gorwane é constituido por Roberto Chitsondzo, David Macuácua, João Carlos Schlbach, Lote Macamo, Júlio e António Baza e Paíto Tcheco.


Do: Notícias (Maputo), 19/11/08

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Luís Represas em Maputo, "Dentro da Mão"

Foram dois encontros fugazes. Nem eu nem ele tinhamos tempo a perder pela frente, cada um preocupado com os seus compromissos profissionais.
O primeiro aconteceu há pouco mais de seis anos, em Maio de 2002, um dia antes da reeproclamação da independência de Timor-Leste. Em Dili, na residência onde se hospedara o então presidente português, Jorge Sampaio.
O segundo encontro dá-se defronte da Rádio Moçambique, numa manhã molhada pela chuva, o que não impediu que, do meu celular, registasse para a posteridade esta imagem. Terça-feira, 18 de novembro.
O Wazimbo e o Zeca Tcheco, dois nomes incontornáveis da música moçambicana, não se fizeram de rogados e, com o sentido de oportunidade que lhes é peculiar, “tchopelaram” e aí estão. Dona de uma voz melosa, meiga e maternal, a Maria Judite, acabava de entrevistá-lo para o veteraníssimo programa radiofónico “Um Amigo, Uma Conversa”.
O Luís Represas, ele próprio, esteve em Moçambique, onde em dois momentos diferentes, se apresentou aos seus fãs, num dos quais, juntamente com o Stewart Sukuma e Hortêncio Langa.
O primeiro contacto com a música de Represas foi através do Álbum “Fora de Mão” de 2003. Uma obra que chama logo a atenção pelo facto de este compositor português ter a “mania” de trabalhar com músicos cubanos, entre eles o emblemático Pablo Milanés.
Do “Fora de Mão” destaco como sendo uma das melhores, a faixa 1 que dá pelo título “Da Próxima Vez”,...
“As ruas da minha cidade
Abriram os olhos de encanto
Para te ver passar

As pedras calaram os passos
E as casas abriram janelas
P´ra te ouvir cantar
...

Da próxima vez
Não vás
Sem deixar destino ou direcção
Se houver próxima vez
Não esqueças
Leva contigo recordação
E um beijo pendurado
Ao peito do teu coração”

O último trabalho discográfico de Luís Represas, “Olhos nos Olhos”, foi lançado em Maio deste ano. Uma belíssima obra, capa de luxo, onde sobrassaem o duetos com a Simone (Desencontro) e Luba Maria Hevia (Pessoas Felizes), “América” com Pablo Milanés. A canção “Sagres”, considero eu, marca esta obra.
Para além dos habituais músicos cubanos, Luís Represas, em “Olhos nos Olhos” foi buscar a colaboração de Nanuto, Katila Mingas, Kaxuxa e Maria João Silveira, todos de Angola.
“Da próxima vez..., o que nos reserva, meu caro Luís Represas?

domingo, 16 de novembro de 2008

E se Obama fosse africano?

Texto: Mia Couto
In: Savana, 14/11/2008
Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.

Na noite de cinco de fevereiro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coroação tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimessões. Ao sair à rua, a minha cidade havia se deslocado para Chicago, negros e brancos respirando e comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre a outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.

Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de “nosso irmão”. E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.

Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: “E se Obama fosse camaronês?”. As questões que o meu colega dos Camarões colocava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostariam de explorar neste texto.

1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.

2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-lhe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-lhe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.

3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Keneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente “descobriram” que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado “ilegalmente”. Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Keneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.

4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um “não autêntico africano”. O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente africano seria vilependiado em casa como sendo representante dos “outros”, dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).

5. Se fosse africano, o nosso “irmão” teria que dar muitas explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada “pureza africana”. Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder – a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.

6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado – a vontado do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.

Inconclusivas conclusões

Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos, moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.

Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.

A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos – as pessoas simples, os trabalhadores anónimos – festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.

Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.

No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos ganciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.

Só há um modo de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.

sábado, 15 de novembro de 2008

Africa, com amor e raiva


A figura de uma mulher negra, deimpenetráveis olhos azuis, dominou a quarta edição da Festa Literária de Porto de Galinhas (Fliporto), dedicada este ano à cultura africana e encerrada no último domingo no balneário pernambucano. Discreta, tentava circular sem ser notada, mas os jornalistas não lhe davam trégua. Afinal, trata-se da primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, Paulina Chiziane, nascida há 53 anos em Manjacaze, na província de Gaza, criada no subúrbio de Maputo e com um livro publicado aqui (Brasil), em 2004, pela Companhia das Letras, Niketche – Uma História de Poligamia.

Ao lado do escritor Mia Couto, também entrevistado nesta edição do Cultura, Paulina representa o que há de melhor na literatura africana hoje. Ambos, de fato, se complementam e têm opiniões convergentes sobre a estagnação da cultura moçambicana por força de uma crise de identidade que levou africanos a virar agentes da sua colonização. Há, segundo Mia Couto, um certo racismo, ou uma certa hierarquia eurocêntrica que faz os escritores africanos serem colocados à sombra, impedindo que o resto do mundo saiba o que se passa no continente, assumido por seus intelectuais com um sentimento confuso de amor e raiva.

Tanto em Paulina Chiziane como em Mia Couto nota-se certo desânimo pelos rumos que tomou a história de Moçambique desde a declaração de sua independência, em 1975. O escritor considera que o país perdeu sua capacidade de resistência e que nem a língua nem a cultura portuguesa ajudaram a criar uma identidade para os moçambicanos, que se voltam cada vez mais , negros e brancos, para as tradições e os mitos arcaicos. A África não se questiona mais, "perdeu o sentido crítico de se avaliar", diz Mia Couto, seguindo em coro por Paulina Chiziane, assustada com a retromania que empurra Moçambique de volta ao passado.

(*) Notícia publicada no www.estadao.com.br

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Exposição em Londres com foto inédita de Marilyn Monroe

Uma exposição de fotos e desenhos de William Travilla, um dos estilistas mais famosos da chamada época de ouro de Hollywood, traz a Londres uma foto inédita da actriz Marilyn Monroe. A foto recebeu uma dedicatória da atriz: "Hey, Billy, obrigada por todas as coisas maravilhosas que você me fez. Amor, Marilyn". A exposição Travilla: o Homem que Vestiu Marilyn Monroe mostra um pouco da carreira de 40 anos e mais de 100 filmes do estilista, principalmente se concentrando na sua parceria com Marilyn Monroe.
Travilla e a actriz trabalharam juntos em oito filmes e é dele o famoso vestido branco esvoaçante que a actriz usa na longa-metragem O Pecado Mora ao Lado, de 1967. Na exposição está uma réplica do vestido, criada pelo próprio Travilla, já que o original foi comprado pela actriz Debbie Reynolds.
Outro traje famoso criado por Travilla é o vestido rosa usado por Marilyn em Os Homens Preferem as Loiras, de 1953. Estarão expostos, ao todo, cinco protótipos destes vestidos famosos, juntamente com três vestidos que foram criados para as aparições públicas da actriz.
O estilista também vestiu outros 270 actores e actrizes, entre eles Paul Newman, Errol Flynn, Joan Crawford, Lauren Bacall, Sidney Poitier e Judy Garland.
Na exposição de Londres, aberta até o dia 10 de dezembro, estão expostos desenhos e vestidos usados por Judy Garland, Betty Grable, Anne Margaret além dos prêmios ganhos por Travilla e outras fotos dele com Marilyn. Travilla também foi o estilista das actrizes da série Dallas. O estilista morreu em 1990, aos 70 anos, depois de quase 50 anos de carreira.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Grupo falsifica New York Times e anuncia fim da guerra do Iraque

Um grupo de zombeteiros distribuiu na quarta-feira mais de 1,2 milhão de exemplares falsos do jornal The New York Times, especialmente em Nova York e Los Angeles. "Termina a guerra do Iraque", era a manchete da edição, datada de 4 de julho de 2009. O material bem produzido, com 14 páginas, é supostamente obra de um grupo chamado Yes Men, cujos integrantes já se fizeram passar por funcionários da Organização Mundial do Comércio e anunciaram o fim da entidade.
"É falso e estamos investigando", disse Catherine Mathis, porta-voz do NYT. Uma nota distribuída por um site criado para essa edição (www.nytimes-se.com) disse que o jornal levou seis meses para ser feito, e que a impressão aconteceu em seis gráficas. A distribuição ficou a cargo de milhares de voluntários.
"Temos de garantir que (o presidente-eleito dos EUA, Barack) Obama e outros democratas façam aquilo para que foram eleitos", disse Bertha Suttner, que se apresenta na nota como um dos autores do jornal.
"Após oito, talvez 28 anos de inferno (desde a eleição de George W. Bush e Ronald Reagan, respectivamente), precisamos começar a imaginar o céu."
Na capa do jornal, o tradicional slogan do NYT - "Todas as notícias que vale publicar" - virou "Todas as notícias que esperamos publicar".

Pesquisa traz Aretha Franklin como maior cantora da era rock

Ela já é a Rainha do Soul, mas agora Aretha Franklin foi considerada também a maior cantora da era do rock, segundo pesquisa da revista Rolling Stone.

Aretha, de 66 anos, ficou à frente de Ray Charles, o segundo colocado, Elvis Presley (terceiro), Sam Cooke (quarto) e John Lennon (quinto), de acordo com a pesquisa feita pela revista com 179 músicos, produtores, editores da Rolling Stones e outras figuras da indústria musical.
A lista de 100 nomes será divulgada na sexta-feira, quando a Rolling Stone chegar às bancas com quatro capas diferentes. O número da revista inclui depoimentos de músicos.
A cantora de R&B Mary J. Blige, por exemplo, escreve que Aretha Franklin é "a razão pela qual as mulheres querem cantar". O ex-vocalista do Led Zeppelin Robert Plant, ele próprio número 15 na lista, descreve a voz de Elvis Presley como "confiante, insinuante e implacável".

Além de Aretha Franklin, os únicos outros cantores vivos entre os Top 10 são Bob Dylan (sétimo colocado) e Stevie Wonder (nono). Marvin Gaye foi o sexto, Ottis Redding, o oitavo, e James Brown o décimo.

Outros notáveis na lista incluem Paul McCartney na 11a posição, uma à frente de seu ídolo Little Richard, e Mick Jagger na 16ª, também uma à frente de uma das suas influências chaves, Tina Turner.

Entre os Top 25, Michael Jackson, de 50 anos, é o mais jovem, tendo ficado na 25ª posição. Votaram na pesquisa, entre outros, o vocalista do Metallica, James Hetfield, os cantores folk David Crosby e Yusuf Islam, o guitarrista dos Rolling Stones Keith Richards, o veterano do punk rock Iggy Pop e o popstar inglês James Blunt.

Cada um apresentou os seus 20 primeiros indicados, e uma firma de auditoria tabulou os resultados.

Ex-baterista de Jimi Hendrix é encontrado morto nos EUA

(Noel Redding, Jimi Hendrix e Mitch Mitchell)


O baterista inglês Mitch Mitchell, que integrou o famoso grupo de Jimi Hendrix na década de 1960, foi encontrado morto nesta quarta-feira no quarto de um hotel em Portland (Oregon), nos Estados Unidos, informaram fontes da Polícia.

Conhecido por seu vigoroso estilo, Mitchell era o único sobrevivente da banda. Um porta-voz do Instituto Médico Legal de Portland assinalou que aparentemente Mitchell, 62 anos, morreu por causas naturais, mas disse que uma autópsia deve ser realizada.

Mitchell tinha tocado com o grupo Experience Hendrix Tour na sexta-feira passada, na última escala de uma viagem dessa banda pela Costa Oeste dos EUA.

"Ele era um homem maravilhoso, um músico brilhante e um verdadeiro amigo", assinalou Janie Hendrix, meia-irmã do lendário guitarrista, morto em 1970.

O baixista do grupo de Hendrix, Noel Redding, morreu em 2003. Um porta-voz da organização que tinha preparado a viagem assinalou que Mitchell pretendia descansar por quatro dias em Portland.

Durante sua carreira, o baterista ainda tocou ao lado de outras lendas do rock, como o ex-beatle John Lennon, o guitarrista Eric Clapton e o membro dos Rolling Stones Keith Richards.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Após 17 anos, bebê refaz capa do clássico disco do Nirvana


A famosa capa do álbum Nevermind, do Nirvana, ganhou uma nova versão. Após 17 anos, Spencer Elden, o fofo bebê que aparece pelado nadando atrás da nota de um dólar, refez a foto, agora usando calções, segundo informou o site da MTV americana.
No ano passado, Elden declarou, em entrevista à emissora, que "é um pouco estranho pensar que várias pessoas já me viram pelado. Eu me sinto como o maior astro pornô do mundo". A nova foto foi feita na mesma piscina da primeira - no centro aquático Rose Bowl Aquatic Center, em Pasadena, Califórnia. Ainda de acordo com o site da MTV, não se sabe porque Elder resolveu criar a imagem.
A imagem original foi feita pelo fotógrafo Kirk Weddle e na época - em 1991 - os pais de Elder receberam apenas 200 dolares por permitirem o uso da imagem.
Segundo o site da Rolling Stones, Elder já havia refeito a foto em 2001, aniversário de dez anos do disco, para a edição americana da revista.
A capa de Nevermind também já foi parodiada pela Rolling Stones nacional. Em sua décima edição, a capa da publicação foi o personagem Homer Simpson de cuecas nadando atrás de uma rosquinha.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Amy Winehouse aparece morta com tiro em exposição em NY

Uma galeria de arte de Nova York vai mostrar a partir da próxima sexta-feira, 14, uma escultura em tamanho real da cantora britânica Amy Winehouse, na qual ela aparece assassinada com um tiro na cabeça e sobre uma poça de sangue.
"Queremos fazer com que uma situação impossível seja completamente crível para o espectador", afirmou na segunda, 10, Bill Powers, um dos donos da Half Gallery, situada no bairro de Lower East Side de Manhattan, que deve manter a montagem até o final de janeiro.
Powers disse que o preço estimado da obra do artista italiano Marco Perego é de US$ 120 mil e que consiste numa réplica "extremamente real" da polêmica cantora britânica, de 25 anos, que ficou mundialmente famosa com o álbum Back to Black e com a música Rehab.
Na mesma exposição de Amy, outra personalidade que aparece é o escritor americano William Burroughs, sentado em uma cadeira, com uma escopeta em cima das pernas e observando fixamente a cantora morta. Na vida real, o escritor matou acidentalmente a esposa com um tiro na cabeça numa festa no México em 1951.
Ao apresentar a criação, o site da galeria mostra um trecho da montagem e escreve embaixo: "A verdade são todas estas coisas. A verdade não é nenhuma destas coisas. A verdade é só alguma destas coisas". A escultura é "um estranho tributo" à cantora, explicou Powers, mas o próprio Perego disse que reflectia Amy como a vítima de um jogo entre bêbados que acabou mal.

Sete em cada dez americanos confiam em Obama, diz pesquisa

Pelo menos sete em cada dez americanos, 68% da população, dizem ter uma opinião positiva sobre o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, e 65% acreditam que o país estará melhor em quatro anos, segundo uma pesquisa divulgada nesta terça-feira, 11.
A pesquisa conjunta do jornal USA Today e da firma Gallup mostra que o nível de optimismo era menor quando o actual presidente, George W. Bush, foi eleito e quando o seu antecessor, Bill Clinton, chegou à Casa Branca, em 1993.
Em ambos os casos, a porcentagem de optimismo com as suas administrações era levemente superior a 50%. As expectativas são altas em todos os terrenos. Assim, oito em cada dez entrevistados afirmaram que Obama melhorará as condições das minorias e dos pobres, e 76% acreditam que aumentará o respeito aos EUA no mundo.
Além disso, sete em cada dez disseram que haverá melhorias na educação e no meio ambiente, e mais de 60% indicaram que o desemprego diminuirá, as tropas americanas sairão do Iraque, o sistema de saúde melhorará, haverá uma sólida recuperação econômica e o país estará seguro frente a ameaças terroristas.
"A recepção a ele (Obama) é algo que não tínhamos visto em décadas", disse ao USA Today Andrew Kohut, diretor do Pew Research Center, um grupo não partidário. Obama "tem expectativas muito altas a satisfazer", disse Kohut, acrescentando que a parte positiva é que as pessoas vão incentivar o novo presidente.
Quase dois terços dos participantes da pesquisa (64%) disseram que a principal prioridade de Obama deveria ser melhorar a economia. A maioria (60%) defendeu regulações mais estritas para as companhias financeiras e 51% disseram que Obama deveria oferecer algum tipo de ajuda aos proprietários que correm o risco de perder suas casas.

Governo Bush atinge rejeição recorde de 67%, diz pequisa

Uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira, 10, pela rede CNN, mostra que George W. Bush está a deixar a Casa Branca como o presidente mais impopular desde que as sondagens de aprovação de governo surgiram, há mais de seis décadas.
76% dos entrevistados pela CNN/Opinion Research Corporation desaprovam a gestão de Bush, que nesta segunda recebeu o seu sucessor, Barack Obama, no Salão Oval.
"A rejeição a nenhum outro presidente foi maior que 70%", afirmou o director de pesquisas da CNN, Keating Holland. Segundo ele, Bush atingiu a marca três vezes neste ano. "Isso significa que agora Bush é mais impopular que Richard Nixon quando ele renunciou a Presidência durante o escândalo Watergate, com 66% de desaprovação."
Antes de Bush, o recorde de rejeição era de Harry Truman, cuja gestão era desaprovada por 67% dos americanos em janeiro de 1952, o seu último ano na Casa Branca, informa a CNN.
Sobre a transição do poder para Obama, a pesquisa ainda mostra que 57% dos americanos acreditam que a transferência será fácil e sem tensões, enquanto 39% dizem que pode ser difícil.
"Quase um em cada quatro entrevistados acreditam que haverá muita tensão entre os assistentes de Bush e Obama nas próximas semanas. O sentimento é maior entre os democratas, mas mesmo entre eles, a maioria acredita que a transição será relativamente fácil", explica Holland.

Angola: 33 anos de Independência

O embaixador angolano em Moçambique, João Garcia Bires, disse esta noite em Maputo, que, seis anos decorridos após o fim da guerra, Angola é hoje um verdadeiro “canteiro” de obras, visível na construção e reabilitação de estradas, pontes, habitações, escolas unidades sanitárias, entre outras infra-estruturas.
O Embaixador Bires, que falava por ocasião do trigésimo terceiro aniversário da independência de Angola, destacou o facto de o governo liderado pelo Presidente José Eduardo dos Santos ter logrado em pouco tempo transformar o país num dos pilares de desenvolvimento da região austral de Africa em particular e do continente no geral.
A comemoração dos trinta e trés anos da independência de Angola em Moçambique aconteceu numa das unidades hoteleiras da cidade de Maputo com a participação de diplomatas, cidadãos angolanos e moçambicanos, para além do Ministro da Planificação e Desenvolvimento, Aiuba Cuereneia, em representação do governo moçambicano.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Americano mais velho é negro e votou em Obama

Lelia LaRue mostra ao pai de 112 anos, George Francis, uma das edições dos jornais com o presidente dos Estados Unidos eleito, Barack Obama, na capa. Francis, o homem mais velho vivo de acordo com os registos do Centro de Pesquisas de Geriatria é a pessoa mais idosa a votar em Obama na eleição da última terça-feira, 4.

Efeito Obama no Quénia

O governo queniano ordenou que se colocasse energia eléctrica na aldeia onde reside a avó de Barack Obama, o Presidente eleito dos Estados Unidos da América.

Obama inaugura América pós racial

Não foi um negro que foi eleito. Foi um americano, que tem a circunstância de ser negro, que foi eleito Presidente. Obama fez com que os seus compatriotas se convencessem de que a raça não é importante Entre a multidão de Chicago que, nos jardins vizinhos ao lago Michigan, celebrava a América, na madrugada passada, as câmaras de televisão detiveram-se na cara de um senhor negro e famoso que chorava. Era o reverendo Jesse Jackson. Ele é filho dos anos 60 que garantiram os direitos cívicos para os negros. "Rosa Parks sentou-se para que Luther King pudesse marchar, que marchou para que Obama pudesse voar", foi uma frase muito dita por estes dias, definindo as etapas encetadas pela senhora negra de Montgomery, Alabama, sentando-se num banco de autocarro só para brancos, e que chegaram agora à celebração do primeiro Presidente americano negro. Jackson chorava de alegria por esse sobressalto que permitia que na vida de um só homem se pudesse ter visto tanto.


Mas o reverendo podia também chorar por ter sido ultrapassado pela História. Ele, que também concorreu para a nomeação democrata nas primárias de 1984 e 1988, e não foi longe, reconhecia que o homem daquela madrugada, Barack Obama, era de outro campeonato, o dos vencedores, e não só o dos predicadores. Jackson notabilizou--se nas campanhas pelos direitos cívicos, integrou organizações negras, lançou a sua candidatura em igreja negra - ele era filho de uma geração em que os passos eram esses. Mas colar-se a uma minoria (os negros são 12,8% da população dos EUA) não pode ser táctica ganhadora numa corrida eleitoral. Ainda ontem, um jovem político negro, que pretende agora concorrer ao lugar de senador pelo Ilinóis, deixado em aberto por Obama ir para a Casa Branca, definiu assim o novo Presidente: "Ele não é um afro-americano que foi eleito, ele é um americano, que tem a circunstância de ser afro-americano, que foi eleito." Curiosamente, o jovem chama-se Jesse Jackson Jr. e é filho do reverendo que chorava.


Há semanas, em Nova Iorque, num jantar público que fez com John McCain e em que era suposto os discursos usarem o humor, Obama riu--se de si próprio: "Quem me baptizou Barack Hussein estava a torpedear-me a carreira política..." Estava e não estava. Mestiço e com tais nomes muçulmanos, ele poderia assumir a condição minoritária ou, pior, adoptar a condição muito comum nos afro- -americanos de não singrar na vida porque a História cometeu contra eles o pecado mortal da escravatura. O queixume como modo de vida deu cabo de muita carreira num país que reconhece como das virtudes maiores o saber lutar contra o destino. Mas Obama não foi por aí. A provocação dos seus nomes, Barack Hussein, como que serviu de aguilhão para não se desculpar.


Deitando fora o colete-de-forças que pretendia fazê-lo só um afro-americano, Obama descobriu-se, afinal, um legítimo filho da América moderna. Pai queniano e mãe branca do Kansas, e nascido no Havai, de tão diversificado, bebia na corrente de fundo que faz a América de hoje - ele é muito mais comum que, por exemplo, um mórmon como Mitt Romney, que esteve para ser o candidato republicano.


É verdade que Obama teve 95% dos votos negros. Mas teve também mais votos brancos que o precedente candidato democrata John Kerry (2004). Nas sondagens à boca das urnas, nove em dez votantes disseram que a raça não tinha sido importante nestas eleições. O facto dado como adquirido, os hispânicos não gostam de políticos negros, virou mito: Obama ganhou mais de metade dos votos hispânicos.


Essa situação de facto e a vontade ideológica de assumir a tradição americana fizeram a força de fundo, aliada ao talento natural (tornem a ouvir o discurso da madrugada de ontem e reconheçam esse talento). Quando lançou a sua candidatura, Obama escolheu as escadarias do Capitólio de Springfield, Ilinóis, a casa de Abraham Lincoln. E no discurso de ontem, a figura invocada foi de novo Lincoln.
Barack Obama é um conservador que rega as tradições americanas. Se não quiserem enganar-se, vejam nele o essencial: Barack Hussein Obama, um homem da América.

Uma eleição histórica e que traz esperança

A crise internacional será o grande desafio a enfrentar de imediato por Barack Obama, o primeiro negro a ser eleito Presidente dos Estados Unidos. E cujo triunfo foi recebido um pouco por todo o mundo com palavras como "mudança", "histórico" e "esperança".
As reacções à clara vitória sobre John McCain foram entusiasmadas, tanto nos Estados Unidos, onde a mobilização eleitoral foi surpreendente, como no exterior, sobretudo entre os aliados europeus. Mas também por parte de países como Cuba ou Irão, que surgem na lista dos tradicionais inimigos dos americanos.
E o discurso de vitória, celebrado em Chicago perante centenas de milhares de apoiantes entusiasmados, correspondeu às expectativas. Não só pelo tom, cativante como sempre, mas sobretudo pelo conteúdo: Obama prometeu relançar a economia, combater a crise financeira, retirar as tropas responsavelmente do Iraque e investir o potencial militar dos Estados Unidos na luta à Al-Qaeda e aos seus aliados talibãs no Afeganistão.
Foi um discurso de mudança, cheio de sentido histórico e com uma mensagem de esperança, a reflectir a forma como foi acolhido pelo mundo. Depois de uma era Bush marcada pelo unilateralismo - em que a invasão do Iraque sem o aval da ONU foi a marca mais visível - Obama promete agora uma América dialogante, capaz, porém, de se mostrar forte também quando for preciso.
O derrotado McCain, candidato republicano, reconheceu a derrota sem demoras e amargura, ao contrário do que sucedeu há oito e há quatro anos por parte dos democratas. E prometeu colaboração com o adversário, apesar da diferença de opiniões que se revelou durante a campanha.
Mesmo George W. Bush, que termina sem glória uma passagem pela Casa Branca que também começou de forma cinzenta (com a polémica vitória de 2000 sobre Al Gore na Florida, que teve mais votos populares a nível nacional), prepara-se para apoiar o seu jovem sucessor neste momento delicado de transição que se arrastará até à tomada de posse a 20 de Janeiro, em Washington.
Da América e destas eleições sai ainda uma tremenda mensagem. O racismo que era desmentido há décadas pelos inquéritos sociológicos, mas que subsistia nas diferenças sociais e económicas, foi agora derrotado sem hesitações nas urnas.
Os americanos - que, apesar de Thomas Jefferson ter proclamado que todos os homens nasceram iguais, tardaram um século a abolir a escravatura e outro a reconhecer direitos cívicos aos negros - mostraram na terça-feira serem capazes de ter heróis negros. Já não um basquetebolista , um cantor ou uma apresentadora de televisão, mas um político. Isso é um passo gigantesco.
Sobretudo, porque o futuro inquilino da Casa Branca se chama Barack Hussein Obama e é filho de um imigrante do Quénia e de uma branca do Kansas. Um homem do mundo.

Barack Obama como Messias

Na véspera da eleição presidencial americana, aprofundou-se a ideia de um Obama-messias, um homem com um efeito mágico. "Mudaremos o mundo" é a frase atribuída ao candidato negro na primeira página do El País, que tem ainda (com chamada na capa) um editorial que fala da "Eleição do século" e um artigo do recente Prémio Nobel da Economia Paul Krugman (também com chamada ao fron-tispício) sobre "A desesperada busca da seriedade". Krugman defende no seu texto, por sinal excelente desta vez, sem a tralha anti-Bush muito krugmaniana, que a bancarrota do Lehman Brothers e a crise financeira foram o ponto de viragem da campanha: se McCain era um homem com quem se podia beber uma cerveja, nessa altura os eleitores deram conta de que era preciso alguém sério.A revista britânica The Economist põe na capa, sobre um Obama formal, que "É tempo" - tempo, talvez, de votar naquele que diz "Eu sou o escolhido" num sentido quase bíblico que aparece no Sunday Times. Neste artigo do activista gay mas republicano Andrew Sullivan, compara-se a eleição de Obama à de Abraham Lincoln, que nos recorda como um republicano como ele liderou a luta contra a escravatura que levou a uma guerra civil sangrentíssima, mas que fundou a América virada para a modernidade. Sullivan apoia Obama apesar de republicano, mas alerta que "os que esperam um Messias, a certa altura, vão dar conta que apenas elegeram um presidente". Para ele, Obama é um "centrista do Midwest" (...) "substantivamente muito mais parecido com os Clintons do que ele ou os Clintons podem admitir", porque "apesar de ser um produto da sua geração e da universidade, a sua proximidade com a esquerda intelectual parece não ter afectado o seu programa". Aposta até que vai manter o actual ministro da Defesa, Robert Gates. "Mas aquilo que invoca Obama é o que invocou Reagan: o optimismo americano de que os problemas se podem resolver e que as divisões podem ser ultrapassadas", diz ainda. Ideologia de Obama, ao contrário do que a esquerda europeia diz, conhece-se, aliás, bem pouca...

Novas tecnologias na emissão da CNN

Wolf Blitzer gosta de apresentar o conjunto de jornalistas e comentadores que consigo colaboram no programa The Situation Room, da CNN, como a "melhor equipa política da televisão". A excelência do programa dá-lhe razão. Palavras simples e directas, explicações claras e sucintas, uma postura sóbria, mas informal, dos apresentadores e convidados, fazem da sua Situation Room um raro exemplo de aplicação das melhores opções e linguagens da cultura televisiva ao serviço da informação. Na noite eleitoral a mesma equipa contou em estúdio com a contribuição de uma série de trunfos tecnológicos.A mais "vistosa" das novidades foi o recurso, pela primeira vez em directo, a hologramas durante entrevistas. O sistema foi "testado", em directo, com uma jornalista a partir de Chicago. E, minutos mais tarde, num outro directo, novamente de Chicago, com o músico Will.i.Am. O sistema usa perto de 35 câmaras, que captam uma imagem tridimensional dos entrevistados para assim criar o seu corpo virtual holográfico. Um outro holograma permitiu a projecção, numa mesa, do Capitólio, sobre o qual foram apresentadas as mudanças esperadas no Senado e na Câmara dos Representantes.Outra das maravilhas tecnológicas usadas na emissão da CNN (mas já bem conhecida das primárias) foi o ecrã interactivo, como sempre manipulado pelos dedos de John King. Entrando estados dentro, espreitando a votação condado a condado, comparando resultados com a eleição de 2004, o ecrã permitiu leituras sobre o comportamento dos eleitores e a sugestão de tendências de voto. Num outro ecrã digital, Bill Schneider explicou comportamentos de voto segundo características demográficas.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Obama faz história e é eleito com folga presidente dos EUA

Barack Hussein Obama Jr, de 47 anos, foi eleito nesta terça-feira, 4, o 44º presidente dos Estados Unidos. Será o primeiro afro-americano a ocupar o cargo. De acordo com projecções baseadas na apuração de votos e em pesquisas de boca-de-urna, o senador democrata de Illinois ganhou 338 votos no colégio eleitoral contra 155 do seu rival republicano John McCain. Com 67% dos votos apurados, ele tem 51% do voto popular, contra 48% do rival.
Até agora, 45,8 milhões de americanos votaram no democrata e outros 42 milhões escolheram o republicano.

Obama venceu em estados cruciais como Ohio, Virginia e Flórida no leste do país e Novo México, Colorado e Nevada, no oeste. Ele também manteve a liderança em locais importantes, como Pensilvânia e New Hampshire.

O democrata precisava de 270 votos no colégio eleitoral para ser eleito presidente.


Após duas eleições extremamente apertadas, em 2000 e 2004, quando Bush venceu após garantir apenas um Estado de vantagem sobre o rival - Flórida contra AL Gore e Ohio contra John Kerry - Obama conseguiu uma vantagem folgada contra o oponente.


Discurso da vitória


Por volta das 7h00 da manhã, no horário de Maputo, Obama subiu ao palco montado para ele em Chicago, Illinois, onde começou a sua carreira política e falou pela primeira vez como presidente eleito. "Se alguém ainda duvida que a America é o lugar onde tudo é possível, esta noite é a resposta para vocês", disse.


Obama ressaltou o número de pessoas que apareceram para votar e pediu a união de todos os sectores da sociedade americana. "Este é nosso momento. A hora é agora. Enquanto celebramos esta noite sabemos dos desafios que teremos pela frente:duas guerras, um planeta em perigo, a pior crise financeira da história", afirmou.


O presidente eleito ainda agradeceu o seu vice, Joe Biden, a sua equipe de campanha, a esposa, Michelle, e as suas duas filhas, para quem prometeu um novo bichinho de estimação. Obama ainda se emocionou ao falar da avó, falecida no domingo. "Ela não está conosco, mas sei que ainda está comigo. Minha dívida com ela e minha família é inimaginável".


O democrata ainda agradeceu ao rival, John McCain e prometeu trabalhar com ele e a sua vice, Sarah Palin durante o mandato. "Ele lutou por muito tempo e muito duro pelo país que ele ama. Ele é um líder altruísta. Por fim, Obama dedicou a vitória aos eleitores. “Este será o governo do povo, pelo povo e para o povo".

Parabéns de Bush


O presidente dos EUA, George W. Bush, também telefonou para Obama para parabenizá-lo. Segundo a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, o presidente lhe felicitou pela 'fantástica noite'.

Assim que as redes de TV anunciaram as projecções com a vitória de Obama, a multidão reunida para um comício em Chicago irrompeu aos gritos, aplausos e saudações. O candidato deve fazer uma primeira aparição pública em breve.


Voto negro


Segundo pesquisas de boca-de-urna, 95% dos eleitores negros que foram às urnas na terça-feira votaram no democrata. O senador de Illinois é o primeiro afro-americano a disputar a presidência.

Numa comparação com a última eleição, a pesquisa indica que o percentual de eleitores negros no eleitorado total aumentou de 11% para 13%.

Em campanha histórica, Obama inova e quabra recordes

Gabriel Pinheiro - estadao.com.br

A campanha do candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama, ficará na história dos Estados Unidos por vários factores. Primeiro negro com chances de chegar à Presidência, ele também foi o primeiro candidato a dispensar o financiamento público das campanhas eleitorais, optando apenas pelas contribuições dos seus apoiantes - com isso, recebeu mais de US$ 600 milhões até setembro, um recorde de arrecadação. O senador por Illinois ainda precisou vencer Hillary Clinton nas eleições primárias mais disputadas de que se tem notícia para se tornar a escolha presidencial democrata, e explorou como ninguém um poderoso recurso que esteve presente durante toda a sua campanha: a internet.

Foi principalmente através da rede mundial de computadores que o democrata pediu contribuições, em vídeos nos quais ele se dirigia directamente ao eleitorado. Milhões de pequenas contribuições realizadas no site de Obama deram-lhe vantagem significativa sobre o rival republicano John McCain em publicidade. Com mais dinheiro em caixa, na recta final da campanha ele pôde, por exemplo, comprar meia hora de espaço em grandes emissoras americanas para mostrar em rede porquê era a melhor escolha para o país.

Recusar o financiamento público foi um risco: criado em 1976, o sistema poderia assegurar ao candidato mais de US$ 80 milhões em contribuições nos últimos e cruciais meses da corrida presidencial. Confiando na sua capacidade de mobilizar o eleitorado, demonstrada desde as primárias democratas, Obama justificou a sua opção dizendo que "o financiamento público como existe hoje está falido". Ao anunciar a decisão também aproveitou para atacar McCain, ao afirmar que o Comitê Nacional Republicano está a ser alimentado por "lobistas de Washington e grupos com interesses especiais."

Propostas

A campanha do democrata defendeu essencialmente a mudança nos rumos do país. Aproveitando a impopularidade do governo de George W. Bush, Obama tentou capitalizar votos mostrando-se como uma nova opção para Washington.

Na política externa, por exemplo, ele defende muitas vezes o diálogo em vez de acções militares - numa nação enfadada pelas caras guerras sem previsão de final no Iraque e Afeganistão, a proposta foi bem-recebida por muitos sectores da sociedade. O argumento foi imediatamente criticado por McCain, que acusa o rival de querer "negociar sem condições prévias com terroristas" e representar um risco para os Estados Unidos ao querer colocar tudo a perder nos países árabes na guerra contra o terrorismo.

Os recorrentes ataques da campanha republicana sobre o despreparo de Obama para enfrentar as questões de segurança nacional levaram o democrata a optar pelo senador Joe Biden, com indiscutível experiência em política externa acumulada em mais de três décadas no Senado, para vice-candidato. Considerado experiente nas questões externas graças a uma longa actuação nas Forças Armadas, McCain classificou a escolha de Biden como "sábia", mas logo destacou que ele e o vice democrata tem visões "muito diferentes" do cenário global.

A crise econômica, que eclodiu nos últimos meses da disputa, parece ter sido outro factor que veio a favor de Obama. Enquanto o Congresso discutia a aprovação do pacote de US$ 700 bilhões para resgatar o mercado de crédito, o democrata começou uma massiva campanha para relacionar a Bush a McCain, reforçando que o senador pelo Arizona votou várias vezes a favor das medidas do presidente que levaram ao colapso econômico.

O discurso foi bem aceite pelos eleitores e em pouco tempo diversas pesquisas no país apontavam que Obama era visto como o candidato com as melhores propostas para salvar a economia americana.

Questão racial

Embora abordado de forma velada, o facto de Obama ser negro não ficou de lado na disputa presidencial. Em março, o democrata disse num discurso na Filadélfia, ainda nas eleições primárias, que "em vários momentos, a imprensa me definiu como negro demais ou negro de menos". Em julho, ele alertou aos eleitores para o preconceito que poderia tomar conta da eleição. "Vocês sabem, ‘ele não é patriota o suficiente, ele tem nome engraçado, ele não se parece com todos os outros presidentes que estão nas notas do dólar’", afirmou Obama num comício no Missouri.

A campanha de McCain não mordeu a isca e não usou explorou a temática racial contra o democrata, concentrando-se em retratar o rival como inexperiente. Ao longo da corrida à Casa Branca, o republicano questionou as credenciais de Obama, tentando suscitar nos eleitores o medo de um possível governo do senador de 47 anos que estreou na política nacional há apenas quatro anos.