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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

No Kruger Park: Veterinários serram chifres de rinocerontes para evitar que sejam caçados

(Rinocerontes com chifres serrados no Parque Kruger, na África do Sul (Foto: Ilya Kachaev/REUTERS)

Ver rinocerontes com chifres deformados virou uma cena comum no Parque Nacional Kruger, na África do Sul. A medida extrema foi uma decisão dos veterinários do parque para tentar salvar a espécie da extinção.

Os rinocerontes são constantemente caçados por causa dos seus chifres. Os invasores arriscam-se na área onde vivem leões e tigres para matar rinocerontes. Centenas desses animais são mortos, o que tem causado uma crise na protecção da espécie, considerada em risco de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUNC). A caça, que antes ocorria de forma primitiva, hoje acontece com armamentos militares.

Os animais são mortos para abastecer o comércio ilegal de “remédios” chineses. Os orientais acreditam que os chifres dos rinocerontes têm poderes afrodisíacos, e no Vietnam acredita-se que os chifres podem curar o cancro. Não há nenhuma evidência científica de que os chifres – feitos de queratina, o mesmo material que reveste as unhas e o cabelo – tenham alguma propriedade medicinal.

Desde abril, os soldados do exército regular sul-africano estão mobilizados ao longo da fronteira com Moçambique para tentar salvar a espécie da extinção. Em março, mais de 40 rinocerontes foram mortos. Os caçadores abandonaram as tácticas primitivas e passaram a invadir o parque com armas militares e óculos de visão nocturna.

Com cerca de 20 mil quilômetros quadrados, a região é um dos últimos refúgios dos rinocerontes brancos e pretos na natureza.

Existem na área cerca de 1.900 rinocerontes brancos e mais de 200 rinocerontes pretos.

Situado entre a capital de Moçambique, Maputo e a velha cidade mineira da província de Mpumalanga, no noroeste da África do Sul, o Kruger Park foi criado em 1926 e é uma das mais antigas reservas naturais do mundo e uma das mais importantes de África.

O Kruger é considerado uma dos dez parques naturais mais importantes do mundo. Vivem na região mais de 500 espécies de aves, 112 de répteis e 150 de mamíferos. O local é um refúgio para animais como leão, leopardo, búfalo, elefante e rinoceronte.

Crime organizado pode estar por detrás dos caçadores furtivos na reserva Safaris de Moçambique

(Existem cerca de 100 mil Impalas na reserva Safaris de Moçambique, em Tete)

Centenas de animais selvagens, nomeadamente elefantes da reserva Safaris de Moçambique, em Tete, centro, podem estar a deslocar-se para o Zimbabwe, devido à ameaça de caçadores furtivos, denunciou hoje (quarta-feira) à Lusa fonte do preendimento.

Segundo o responsável pela área técnica e de segurança da reserva Safaris de Moçambique, Paulo Evants, há dias um grupo de caçadores furtivos moçambicanos e estrangeiros invadiu o local para recuperar o armamento usado no abate ilegal de animais dentro da estância turística e que havia sido apreendido pelos proprietários do empreendimento.

A tentativa de recuperação das armas não teve sucesso, porque as mesmas já tinham sido entregues à polícia do distrito de Magoe, disse Paulo Evants.

Em declarações à Lusa, o responsável da reserva afirmou que "a fauna em Tete está em grande risco" e admitiu a possibilidade de alguns envolvidos na caça furtiva serem pessoas próximas de "dirigentes conhecidos" da região.

"Aquilo é crime organizado", afirmou Paulo Evants, assinalando que, só este ano, "mais de 30 elefantes foram abatidos".

A reserva Safaris de Moçambique, localizado na chamada "garganta" do rio Zambeze, na província de Tete, na fronteira com o Zimbabwe e Zâmbia, é rica em espécies florestais e animais, mas é também considerada um dos locais que produz os melhores troféus de caça do continente africano.

De acordo com estimativas dos proprietários do empreendimento, existem na reserva cerca de 100 mil impalas, 15 mil búfalos, oito mil elefantes, além de zebras, leões e leopardos, que têm sido alvo de caçadores furtivos.

"Alguns destes animais estão sem comer por causa das queimadas. Ao verem-se perseguidos podem emigrar para lá (Zimbabwe). Estão em perigo", alertou Paulo Evants.

Falando à Lusa, o director da ordem e segurança pública da província de Tete, Ussufo Omar, disse que as autoridades policiais enviaram um contingente para a região para reverter a situação que, considerou "estar sob controlo" das autoridades.

"Já há controlo, estamos seguros com o reforço policial. As medidas de segurança estão sob controlo", pelo que "o turismo está a decorrer normalmente", assegurou à Lusa Ussufo Omar.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Livro investiga porque “as comunidades muçulmanas não passaram para para o lado da Frelimo” durante a guerra colonial

(Mesquita dos “Monhés” na ex-Lourenço Marques, no ano de 1929/Foto de álbuns de Santos Rufino)

Os esforços que a administração portuguesa desenvolveu em Moçambique entre 1966 e 1973 para alinhar as comunidades muçulmanas com o lado português evitou que a guerra "tivesse corrido pior", afirma o principal responsável dessa estratégia.

Fernando Amaro Monteiro foi o principal responsável pela concepção e condução do programa destinado à política islâmica que o poder colonial português levou a cabo em Moçambique para atrair e alinhar as comunidades muçulmanas, e cuja história agora é retratada no livro "Moçambique: Memória Falada do Islão e da Guerra", que hoje é apresentado em Lisboa.

O trabalho é composto por uma série de entrevistas que AbdoolKarim Vakil, professor no King's College de Londres, fez a Fernando Amaro Monteiro em 2004, e, que, entre outros, descrevem detalhadamente os múltiplos esforços que o poder constituído desenvolveu durante a guerra colonial em Moçambique para evitar que as comunidades muçulmanas passassem para o lado da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).

A política adoptada para com o Islão em Moçambique, precisa Amaro Monteiro, foi iniciada em 1965-66, tendo ganhado principal relevo a partir de 1968 com a chegada ao território de Baltazar Rebelo de Sousa como governador-geral, o qual abraçara todas as principais linhas de orientação do chamado "Plano de Acção Psicológico".

De acordo com Amaro Monteiro, a acção de Rebelo de Sousa - que tinha um "talento de relações públicas e uma capacidade de comunicação espantosos" - foi preponderante para o estabelecimento desse diálogo.

"Num contexto de guerra, este plano - através do qual se procurou o estabelecimento de um diálogo, de um entendimento e de uma interlocução com os muçulmanos no país (na altura cerca de 1.2 milhões de pessoas) - foi fundamental", visto que várias áreas estratégicas do território eram ocupados por estas comunidades, explica Amaro Monteiro.

Se esse plano de aproximação - que teve "grande sucesso mas que devia ter sido implementado mais cedo" - não tivesse existido, garante, essas zonas estratégicos teriam caído nas mãos da FRELIMO e ali "as coisas no terreno teriam corrido pior".

"Não vamos dizer que se isto tivesse sido feito antes tínhamos ganhado a guerra porque termos perdido a guerra globalmente como país foi uma coisa que aconteceu por força de uma situação histórica especial e de uma conjuntura internacional muito própria", realça Monteiro, que no período retratado no livro era adjunto dos Serviços de Centralização e Coordenação de Informações de Moçambique e consultor dos Governadores-gerais daquele território (1970- 1974).

"Não era o conhecimento desta massa [da comunidade muçulmana] antecipado e devidamente accionada que faria com que tivéssemos ganhado a guerra", reitera, salientando, contudo, que se essa massa tivesse sido accionada antes o "rendimento que ela deu a favor da administração portuguesa podia ter sido muito maior e teria começado muito antes".

O livro, da autoria de Abdoolkarim Vakil, Fernando Amaro Monteiro e Mário Artur Machaqueiro e editado pela Almedina, fornece informações sobre diversos protagonistas centrais do período histórico referido e retrata também a postura da hierarquia católica perante a religião islâmica em Moçambique as comunidades muçulmanas.

(Lusa)

Salimo Muhamad nos estúdios da RM: Afro, Rock, Blues, Jazz e Makwaela para os fãs

Por Edmundo Galiza Matos

Já lá vão quase quinze anos que Salimo Muhamad, não entrava nos estúdios na Rádio Moçambique para gravar. Nesta terça-feira, encontramo-lo a trabalhar, junto com o baterista Paito Tcheco, nos últimos acertos de um único tema dos muitos que possui, e cujo lançamento ainda não tem data acertada.

“Papaito Na Mamaita”, assim se chama a música, uma exaltação à importância da educação no seio do núcleo familiar, numa altura em que “muitos valores nobres que devem caracterizar uma sociedade civilizada” estão a ser relegados a favor de um modo de ser e estar baseado num consumismo desenfreado.

“Há muita baldice no seio da família, o que leva a que uma significativa parte da nossa sociedade esteja doente, carente de valores de respeito pelo outro e pelo alheio”, disse Salimo Muhamad, quando interrogado sobre a escolha desta temática para esta música ainda em fase de misturas.

Dono de temas emblemáticos na canção ligeira moçambicana como “Sambroeira Fandango”, “Bilibiza” e “Xantima Hi Bohlela”, Simeão Mazuze (seu nome verdadeiro) confessou que possui um reportório que daria para a edição de uma obra completa em CD, o que não vai acontecer tão já por falta de meios financeiros.

Aos 63 anos de idade, reconhece que começa a ficar tarde para a produção de um disco dos seus originais, sublinhando que os apelos dos fãs nesse sentido esbarram com o crónico problema da música moçambicana: dinheiro, essa mola propulsora que não é accionada por quem é capaz. Por outras palavras, ninguêm neste país investe na música. “Papaito Na Mamaita” está a ser gravado porque o editor musical da Rádio Moçambique, Domingos Macamo, entendeu que o artista estava há bastante tempo sem “Uma novidade”.

Naquele seu riso característico, o músico ainda hesitou quando quisemos saber o que teriamos em termos de género neste “Papaito Na Mamaita”, confidenciando-nos que se trata de uma mistura de Afro, Rock, Blues, Jazz e Makwaela, ou seja, “tudo o eu bebi desde a minha infância até no meu tempo de Bilibiza e Nampula".

Com Salimo Muhamad gravaram esta música Sima (Bateria), Paito Tcheco (Percursão), Chabuca (Viola Baixo), Carlos Fenias (Viola Solo), Ercílio Jordão (Teclados) e Belita (Coros).

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

“Não Podemos Ver o Vento”: Romance de Clara Pinto Correia investiga a guerra colonial em Moçambique

«Não Podemos Ver o Vento», é o novo romance de Clara Pinto Correia. «Foi, sem sombra de dúvida, o trabalho de campo mais cansativo que alguma vez me meti por amor a um romance», afirmou a autora.

«Mariana, uma psicóloga ruiva de coração ardente e determinação férrea, está na casa dos trinta quando conhece Guilherme. Mãe de duas gémeas demasiado bonitas, atrevidas e curiosas para seu próprio bem, Mariana começa a frequentar o Solar de Turismo de Habitação que Guilherme dirige na Serra do Barroso para preencher de forma criativa e pedagógica os tempos livres das filhas.

Estabelece rapidamente uma grande amizade com o proprietário e à medida que essa relação se vai estreitando começam a emergir os temas que lançarão a psicóloga na sua investigação sem retorno: a Guerra Colonial em Moçambique, a formação dos Grupos Especiais e dos Grupos Especiais Pára-Quedistas, as suas incríveis missões-relâmpago de contraguerrilha, o uso de estupefacientes fornecidos pelo próprio Exército Português, e outros segredos.

«Não Podemos Ver o Vento» é um puzzle em que as peças vão encaixando para revelar aspectos imprevistos dos abismos da alma humana e histórias verdadeiras de um dos segredos mais bem guardados da Guerra. A última peça do puzzle, no entanto, ao revelar o quadro na sua totalidade, também o modifica por completo: afinal havia ainda mais um segredo, o mais impressionante de todos, e desse nem Guilherme falou nem Mariana suspeitou. E não é que não tenha estado sempre à vista»

A reabilitação da esperança – Mia Couto

Por Paulo Miguez (*)

Mia Couto, escritor moçambicano e um dos expoentes contemporâneos da literatura de língua portuguesa passou mais uma vez pela Bahia. Esteve entre nós, na primeira semana de agosto, marcando presença no VII ENECULT o cada vez mais importante Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura promovido pelo Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura da Universidade Federal da Bahia e que congrega estudiosos de diversos campos do conhecimento, do Brasil e do exterior, interessados nas temáticas culturais. Além das muitas entrevistas que concedeu, foi o palestrante do Conversas Plugadas, projecto da Secretaria de Cultura do Estado que acabou, nesta sua edição, compondo a programação de encerramento do XXI Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, este ano realizado em

Salvador.

No ENECULT, Mia, com um texto que baptizou com título "O homem que casou com a Bahia

", tratou da relação entre cultura e desenvolvimento. "Culturas e desenvolvimentos", consertou ele, afirmando a sua compreensão de que ambas as palavras só fazem sentido se pronunciadas no plural - palavras que, como "cultura", são tão complexas que, relatou, são intraduzíveis em muitas das mais de duas dezenas de línguas nacionais faladas em Moçambique.

No Conversas Plugadas, Mia deliciou-nos com a conferência "Um Mar Vivo: como Jorge é Amado em África", propondo uma leitura africana da obra de Jorge Amado, do impacto da obra do escritor baiano na literatura africana de língua portuguesa - feliz coincidência, a fala de Mia Couto aconteceu exactamente no dia 10 de agosto, data em que Jorge Amado completaria 99 anos.

Em ambas as conferências, uma fala mansa, cuidadosa, preciosamente poética. Em ambas, Mia disse-nos da sua familiaridade com a cena brasileira, da sensação de sentir-se em casa estando na Bahia

. Mas disse-nos, especialmente do que considera ser uma tarefa fundamental dos tempos que correm, a reabilitação da esperança.

Esperança. A ela tem se dedicado Mia no seu ofício de escritor - e de biólogo. Mia recusa-se a ser um escritor de tempo integral. Continua a trabalhar como

biólogo, na área da ecologia. Aliás, um casamento mais que perfeito. O biólogo ecologista, preocupado com as questões ambientais, e o escritor, atento ao fascinante e diverso universo das culturas moçambicanas que servem de alimento seminal para as suas palavras-poema.

Esperança de que a compreensão da cultura ultrapasse os factos visíveis e alcance os gestos silenciosos que dão sentido à vida das gentes.

Esperança, a mesma esperança que os livros de Jorge Amado despertaram nos escritores africanos de língua portuguesa que, em luta contra o colonialismo português em África, aprenderam a ver em Jorge a possibilidade de fazer do português uma língua também deles, africanos.

Vivi em Moçambique durante 11 anos.

Entre 1982 e 1993. Lá conheci Mia. Lá, ao longo destes 11 anos, quase todos marcados por uma guerra odiosa, tive o privilégio de integrar, com Mia e com muitos outros, moçambicanos e estrangeiros "cafrealizados" como eu, uma geração que bem pode ser chamada de "geração esperança".

Ficaram para trás as ilusões da revolução que amávamos tanto.

Nesse sentido, somos hoje, esta geração, tomando de empréstimo a expressão com que designávamos os guerrilheiros que fizeram a Luta Armada de Libertação Nacional em Moçambique, a geração dos (novos) "velhos combatentes". Mas não abandonamos a mania de sonhar, de ter esperança.

As palavras de Mia, os seus livros, garantem-nos, tanto lá quanto aqui, cestos de sonhos, rios de esperança.

Khanimambo (obrigado) Mia.

Breve nota biográfica: M

ia Couto nasceu António Emilio Leite Couto a 5 de julho de 1955 na cidade da Beira, Província de Sofala, em Moçambique. Filho de uma família de emigrantes portugueses, Mia publicou os primeiros poemas no "Notícias da Beira", com 14 anos. Em 1972, deixou a Beira e partiu para Lourenço Marques, atual Maputo, para estudar Medicina. Com a independência de Moçambique, em 1975, ingressou no jornalismo. Dirigiu a Agência de Informação de Moçambique (AIM) e, posteriormente, a revista semanal "Tempo" e o jornal "Notícias". Tendo abandonado os estudos de medicina, formou-se em 1985 em Biologia pela Universidade Eduardo Mondlane. Durante a década de 1980 publicou seus primeiros trabalhos. "Raiz de Orvalho" (1983), "Vozes anoitecidas" (1986) e "Cada Homem é uma Raça" (1990), o primeiro, um livro de poesias, os dois outros, de contos. Em 1992, publicou seu primeiro romance, "Terra Sonâmbula". Na sequência publica "Estórias Abensonhadas" (1994), "A Varanda do Frangipani" (1996), "Vinte e Zinco" (1999), "Contos do Nascer da Terra" (1997), "Mar me quer" (2000), "Na Berma de Nenhuma Estrada e outros contos" (2001), "O Gato e o Escuro" (2001), "O Último Voo do Flamingo" (2000), "Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra" (2002), "O Fio das Missangas" (2004). Tendo ganho vários prêmios literários, Mia Couto é hoje um dos escritores africanos mais traduzidos e suas obras estão publicadas em mais de 20 países. No Brasil, acaba de lançar um livro de ensaios intitulado "E se Obama fosse africano? e outras interinvenções" (Companhia das Letras, 2011).

(*) Paulo Miguez é doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas. Atualmente é professor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA e coordena o Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (UFBA). Foi assessor do ex-ministro da Cultura Gilberto Gil e Secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura entre 2003 e 2005.

Entrevista: Samora Machel conseguiu fazer Fidel Castro cantar – Ruy Guerra

(Na imagem, Ruy Guerra entre o fotográfo (Esq) Daniel Andrade Simões e o escultor Malangatana, nos primeiros anos após a independência de Moçambique)

RUY Guerra , autor do filme “Mueda, Memória Massacre” é homenageado foi homenageado esta quarta-feira em Maputo. Uma homenagem merecida, daquele que é considerado o percursor do cinema nacional, agora a residir no Brasil, país que elegeu como sua segunda pátria, desde 1958. A iniciativa de homenageá-lo foi da Universidade Técnica de Mocambique (UDM), em parceria com o DOCKANEMA, e este foi um pretexto para uma longa e interessante conversa com o autor, que aqui reproduzimos com a devida vênia. Ela foi publicada no Caderno Cultural do jornal “Notícias” de Maputo

Porque abandonou Moçambique?

Naquela época havia aqueles movimentos da juventude contra o salazarismo, nomeadamente o movimento de unidade democrática, quando a Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) foi instalada aqui em Moçambique nós fomos perseguidos porque nós escrevíamos, era um grupo que escrevia e que faziam parte Rui Knopfli, João Mendes, Noémia de Sousa, era um grupo com forte expressão cultural e que era alvo de perseguições enquadradas numa lei sobre qualquer coisa como segurança nacional. O caso mais grave é que nós éramos menores pouco podiam fazer contra nós. Lembro-me que João Mendes foi deportado na época para Angola e depois para a Ilha do Sal, ele era maior tinha entre 27 e 28 anos e nós tínhamos entre 17 e 18 anos.

Consta-me que apesar de ser menor foi preso na sequência dessas perseguições que eram alvos da PIDE. Confirma?

Não chegamos a ficar presos, éramos menores, estudantes do liceu. Também havia aquele estatuto colonial e havia contradições porque o próprio do governo da época não queria que a PIDE se instala-se aqui. Portanto, eles não agiam com muita força, foi um passo gradual que eles estavam usando sobre o aspecto da repreensão. Então a gente era detida e volta e meia lá no liceu escrevíamos um artigo e ia lá alguém prender um de nós. O reitor nunca deixava o jeep da PIDE entrar na escola e assim conseguíamos fugir. Nunca fiquei preso mesmo.

Que ideais defendiam na época até porque ainda eram menores?

Basicamente era a independência de Moçambique. Era o grande mito do momento. Não era uma questão territorial, mas sim uma questão do salazarismo. Era uma luta contra a ditadura do Salazar. O nosso grande ideal era esse, mas também por causa da questão racista. O racismo era muito forte e presente no quotidiano. Nos machibombos tinha um banco atrás só para os pretos, mas se um branco, mesmo com o machibombo completamente vazio fosse sentar lá, os pretos já não podiam entrar no carro. Era muito violento. Lembro me que o Scala era o único cinema que admitia a entrada de pretos, mas tinha lá no fundo uma espécie de uma jaula. Essas coisas que criavam revolta porque a nossa geração não era uma geração racista. Eu, por exemplo, tinha tido uma “babá negra” que me criou, e que para mim era a minha mãe, era mais que minha mãe, e que morreu a poucos anos. Não compreendia quando eu procurava beija-la e ela fugia. Mas tudo porque um branco não podia beijar um preto e, eu, ainda garotinho comecei a questionar essas coisas. A minha entrada na política foi por causa da insensibilidade em relação a isso. Não podia me realizar com a minha mãe (babá). Fui crescendo e fui ganhando consciência sobre esta questão racista.

Deixa Moçambique e vai a Portugal, mas lá também é detido logo à sua chegada. Essa será a razão que fez com que não ficasses em Portugal passando para França?

Não ia para Portugal, o meu destino sempre foi França. Eu estava de passagem, coincidiu que o meu pai estava lá, ia ficar uns dias e depois viajava para França. Tinha feito o sétimo ano de liceu, mas não me interessava nada das universidades portuguesas, mas acabei ficando quase um ano em Portugal porque o nível que fiz em Moçambique tinha uma disciplina a menos. Faltava a disciplina de história para poder ter o diploma do sétimo ano que me dava créditos para ingressar na universidade na França. Entretanto, a minha chegada a Portugal fui preso pela PIDE, na verdade foi detenção de 24 horas, foram me buscar no barco em que viajei de Moçambique.

Se nenhuma universidade lhe interessava em Portugal, o que lhe interessava na França?

O cinema.

Quer dizer que saiu de Moçambique com esse objectivo. E onde foi buscar esse “bichinho” do cinema?

Pois é, fui buscar esse “bichinho” um pouco por acaso. Porque na realidade a minha meta era de ser escritor. O cinema foi aparecendo assim, era apaixonado de cinema, mas não tinha intenção. Aqui em Moçambique tinha uns amigos que tinham uma câmara de filmar de oito milímetros com a qual aprendi a filmar e depois comecei a fazer crítica cinematográfica. Havia na época o “Itinerário” que era um jornal de esquerda onde comecei a fazer crítica. Aliás esse era dos motivos da perseguição pela PIDE. Foi ganhando gosto pelo cinema e depois como não há nenhuma universidade de romancista, o jornalismo nunca foi uma vocação minha, sou muito preguiçoso para ser jornalista, optei pelo cinema que já era uma paixão.

Quero escrever um livro que fica em pé

Sei que escreve, inclusive letras para música, mas a minha questão é: esse sonho de ser escritor não lhe provoca nenhuma frustração?

Não. Eu não renunciei ser escritor. Tenho uma brincadeira que digo que agora estou a começar a escrever mais. Escrevi para o teatro, escrevi contos, crónicas, trabalhei cinco anos escrevendo uma crónica por semana, mas isso para mim não é ser escritor. O escritor é aquele que escreve um livro que, como alguém uma vez disse e achei interessante, um livro que fica em pé. Eu quero escrever um livro que fica em pé. Brincando eu digo que vou morrer aos 117 anos.

Neste caso ainda vai a tempo de escrever um livro que fica em pé?

Dos 102 ou seja, os últimos 15 anos da minha vida vão ser dedicados exclusivamente a literatura. Agora vou dividindo com o cinema. Nos últimos 15 anos vou ser escritor a tempo absolutamente integral, não vou fazer mais cinema.

Voltando a sua ida à França que coincide com o surgimento do cinema novo. Gostava de perceber a sua relação com o cinema novo?

Fiquei na Europa de Março de 1952 até 1958 e depois voltei a França até com estadias maiores, mas naquele período em que fiquei na França havia dois grupos baseados em duas revistas; “Carhiers Du Cinéma” a revista “Positive”. Eu fiz amizade com este grupo do “Positive” que é uma espécie de uma revista da Direita e desse processo de interacção entre os dois grupos começa a surgir o movimento da “Nouvelle Vague”, mas é do movimento do “Carhiers” onde nascem os cineastas, casos do Truffaut, Éric Rohmer, Jean-Luc Godard, entre outros. São pontas de lança do “Carhiers” que viram cineastas, do “Positive” não me lembro de ninguém que se tenha tornado cineasta. Eu fazia parte do grupo “Positive”, mas sem escrever porque escrever francês era muito difícil. Na verdade tinha um contacto periférico com a “Nouvelle Vague”, não participei de presença física, nem de contacto directo com o pessoal da “Nouvelle Vague”, porque havia um pensamento do cinema anti industrial (grandes máquinas de produção e distribuição), defendiam mais um cinema do autor que era um ideal que estava na juventude, portanto o que mais tarde se consagrou como pensamento da “Nouvelle Vague” era uma coisa que estava já no ar da juventude do momento e do cinema que se pretendia profissional.

Mas é no Brasil onde se revela cineasta e é tido como um dos pais do cinema novo?

Há coisas que se criam e que você não consegue desmentir nunca. Há mentiras institucionalizadas e você passa décadas e décadas a escrever que não é, provam, mas aquilo continua. Eu me irrito muito quando falam de “Grift”: Nascimento da Nação – primeira longa-metragem da história do cinema. Pergunto, mas como é que é a primeira longa-metragem. Dou aulas de cinema, digo aos alunos que não é a primeira longa-metragem, mostro, provo, etc. Mas há sempre um que vai escrever a primeira longa-metragem é “Grift”. É mentira, mas não adianta, a mentira está institucionalizada. Não só o primeiro filme americano, é o segundo, o filme é de 1914, antes, o primeiro filme longa-metragem é de 1906 e antes do primeiro americano não tem ou dois, tem 17 longas-metragens. O primeiro filme longa-metragem é australiano. Há mentiras que se estabelecem dessa forma e de uma forma rígida.

Com isso quer dizer que a “história” do Brasil é uma mentira?

Não, não. Não é nenhuma mentira. Mentira é dizer que eu vinha com os conhecimentos da “Nouvelle Vague” e no Brasil havia movimento de cinema novo parecido com o do “Nouvelle Vague”. Não tinha nada parecido, nem em termos de estética, político, o cinema novo não tem nada de parecido com a “Nouvelle Vague”. Têm em termos de um cinema alegre, de produção baixa, porque é evidente que as situações eram completamente diferentes. No cinema francês havia uma indústria pesada, uma indústria acomodada. No Brasil não havia industria, infelizmente já tinha havido o fracasso do Vera Cruz que tentou montar uma indústria. Ali não havia que lutar por uma coisa institucionalizada, não havia nada, então era partir do nada. O que fizemos foi a busca de uma identidade nacional, procurar expressar melhor o Brasil que não fosse apenas o carnaval, o futebol e aquela mulata. Aliás até hoje é imagem do Brasil, é o país do futebol, do carnaval e da bela mulata. É verdade, mas não somente isso, nós tínhamos de procurar criticamente um cinema que buscasse outras dimensões, portanto uma produção política veiculada a uma perspectiva estética. Portanto, o cinema novo pretendia ser desmistificador, pretendia também ser um cinema de autor e o que era muito importante, talvez o que se dá menos importância no cinema novo era a busca, a certeza, a convicção de tratar temas novos, que não fossem “crichés”. Queríamos ter uma linguagem própria, uma linguagem cinematográfica própria e que não podíamos ir buscar nem na linguagem do cinema americano, francês ou no neo-realismo italiano, nem do expressionismo alemão. Tínhamos procurar uma linguagem porque os sistemas eram novos, com uma abordagem, um olhar diferente, então nós tínhamos que contar diferente.

Sem nenhuma indústria de cinematográfica, com grandes financiamentos, conseguiram criar o cinema novo?

Conseguimos e conseguimos de uma maneira muito estranha porque tivemos logo sucesso internacional com ajuda da crítica francesa que logo de imediato sentiu isso e deu uma grande repercussão, fez com que os nossos filmes tivessem muita visibilidade internacional. Uma coisa importante é que os primeiros filmes vão buscar quase que imediatamente o nordeste do Brasil caracterizado por fome e clivagem social. Uma feliz coincidência é que três cineastas, eu, o Golber e o Nelson fizemos três filmes sobre aquela temática, mas sob olhares completamente diferentes. Esses três filmes surgem num período de dois anos e com sinergia entre eles. De repente dão existência de um grande movimento de cinema. Entretanto, o cinema novo no Brasil durou pouco tempo. Estes filmes são de 1963 e 1964 e depois houve golpe de Estado e a ditadura fecha tudo.

Cinema está no caminho natural

Com essa toda vivência no cinema, que opinião têm em relação ao “boom” da televisão. O que me parece é que a “pequena” tela assumiu o mercado?

A indústria do cinema está num caminho que é natural, é verdade que a televisão invadiu, monopolizou a imagem em movimento e o cinema perdeu. O mal e ao mesmo tempo que a televisão faz, é se tornar num tumor de fixação. Vai pegando as coisas e deixar por cima. Não precisa de abordar certas temáticas e certas frustrações e isso até é melhor. O erro é quando o cineasta começa a copiar a televisão, porque a televisão tem um grande público, começa a tomar a forma de linguagem da televisão. A televisão tem uma vocação jornalística, uma vocação de informação fantástica, o cinema é mais um caminho da ficção, do imaginário. A televisão é imediata e o cinema tem uma vocação mais enquadrado no imaginário. É preciso também saber que a televisão não é uma forma de expressão estética, é um espaço de projecção, de distribuição e de exibição maior, então eu não acho que a televisão seja um mal para o cinema. A televisão é meio de exibição do cinema extraordinário, os mecanismos económicos é que fazem primeiro olhar para o cinema e depois para a televisão. Os mecanismos nacionais que a França resolveu muito bem: a televisão financia o cinema, os filmes que passam nas salas de cinema, um ou dois anos depois passam para televisão. Eu acho que são “primos-irmãos”, no momento são “primos-irmãos” brigado um com o outro. Portanto, eu acho que a televisão é um grande aliado do cinema.

Qual a razão da crise que se vive no cinema. Fala-se de redução de investimentos em quase todo mundo?

Nos Estados Unidos de América não, os orçamentos já estão em duzentos milhões de dólares. Há actores que recebem 20 milhões de dólares por um filme. O investimento no áudio visual é enorme. É avassalador. Nós estamos no nosso processo civilizatório e ficou convencionado que nesta fase pós industrial que as grandes fortunas vem da industria de comunicação. Os Microsoft, os bill gates. A informação, a imagem é que é a grande fonte económica. Então, o que acontece no cinema é que existe um grande monopólio que nunca será resolvido em termos de uma luta unicamente dentro do cinema. É um monopólio que só pode ser rompido pelas políticas nacionais de cada país de compreender a necessidade até para existir como sociedade e de país capaz de resolver os problemas económicos da sua própria nação e o cinema é, como todas as formas de arte, melhor forma de emancipação e libertação de um povo. A literatura, a pintura, a música, o cinema se não tiverem a imagem do seu povo, então esse é um povo escravizado.

Pegando nesta questão de emancipação de um povo, O Ruy Guerra fez parte do grupo que criou o cinema moçambicano logo no período da conquista da independência nacional, portanto participou da emancipação do povo moçambicano?

De facto, mas não é dar ao cinema a varinha mágica, dizer que o cinema vai fazer isto. O cinema é uma parte do processo de emancipação muito importante, porque é a forma de expressão artística que é do século da modernidade que surge no final do século XIX e que abarca todas as formas de expressão e por isso tem o poder de comunicação e tem um poder de transformação do indivíduo. A minha participação foi de desenvolver na área que melhor conheço, naquilo que sei fazer relativamente bem, contribuir para aquilo que achava que era importante para o processo revolucionário.

Samora Machel era um comunicador extraordinário

Numa entrevista que o Pedro Pimenta me concedeu há algum tempo, fez saber que a grande sorte que tiveram nessa altura da independência é que o país tinha um grande actor, o Presidente Samora Machel. Também é da mesma opinião?

Se eu não tivesse visto Samora Machel podia pensar que era um ser inventado. Samora Machel era um comunicador extraordinário. O povo saia transformado nos comícios, parece que tinha “dopping” de energia. Conseguiu fazer Fidel Castro cantar.

O que tem a dizer sobre os primeiros anos do cinema moçambicano?

Justamente vim para Moçambique para ver a independência. Cheguei uns dias antes da independência e trazia três câmaras fotográficas e não fotografei nenhuma cerimónia oficial, fotografei a alegria do povo. Só andava pelas ruas para fotografar o povo. Foi o espectáculo mais bonito que vive na minha vida. Fiz mais de três mil fotografias a preto-branco e a cores que depois ofereci a FRELIMO. Foi quando decidi voltar para aqui para trabalhar e tive apoio da FRELIMO para contribuir naquilo que melhor sei fazer: o cinema e participar da alegria do povo moçambicano. Participei do nascimento da imagem de uma nação. A primeira prioridade nesse processo foi a formação de técnicos para as diferentes áreas da indústria cinematográfica, mas também participei do processo de transformação de uma mentalidade que não é para fazer cinema de Hollywood, não era para copiar Hollywood. Formar técnicos com uma estética para fazer cinema moçambicano. Não era para fazer cinema brasileiro. Isto é, não era para copiar qualquer cinema, era para procurar a imagem da nação moçambicana. De referir que na altura não quase que existia em Moçambique, o único cinema que existia era de publicidade, portanto, era preciso formar e para isso trouxe quadros de Brasil que vieram de graças, mas motivados com o empreendimento que vinham desenvolver, mas acima de tudo porque sabiam que vinham participar de um movimento gratificante que é participar de um verdadeiro nascimento da imagem de uma nação. Outro aspecto que me interessava é que esse cinema chegasse ao povo para nele se identificar. Levei seis meses a desenhar um projecto de distribuição, inclusive o Pedro Pimenta me ajudou muito nesse projecto que era criar pontos de exibição nas comunidades, na época chamávamos aldeias comunais. Contamos com o arquitecto Forjaz na construção de umas paredes (telas) ao ar livre para as projecções, entretanto, este projecto de salas ao ar livre não vingou porque alguém disse que o Rui queria levar filmes de Tarzan para as comunidades.

Fracassado este projecto qual foi o passo seguinte?

Foi fazer cinema. Fiz o filme “Mueda” e fui fazendo documentários aqui e acolá, mas para mim não era o que me interessava fazer. Eu não vim aqui para fazer filmes meus, não porque não podia, mas achava naquele momento que o mais importante era criar uma estrutura de cinema, que é técnicos e dar essa ideia a esses técnicos da importância do cinema num processo de transformação e formação de uma nação. Evidentemente a médio prazo pensava que podia fazer um filme sobre Moçambique, portanto, o que me interessava era participar da criação de um cinema moçambicano.

Um pouco de Ruy Guerra

Ruy Alexandre Guerra Coelho Pereira (Maputo, antiga Lourenço Marques, 22 de Agosto de 1931) é um realizador de cinema, poeta, dramaturgo e professor nascido em Moçambique, então território português. Vive no Brasil desde 1958.

Estudou no Institut des hautes études cinématographiques (IDHEC) de Paris a partir de 1952. Até 1958, actuou como assistente de direcção, antes de se instalar no Brasil, onde dirigiu seu primeiro filme, Os cafajestes (1962).

Ingressando nas fileiras do Cinema Novo, em 1964 realizou seu melhor filme, Os fuzis, ao qual se seguiram obras notáveis como Tendres chasseurs (1969) e Os deuses e os mortos (1970).

A situação política brasileira durante a ditadura militar impôs-lhe uma pausa que terminaria em 1976 com A queda. Em 1980 regressou a Moçambique, onde rodou Mueda, Memória e Massacre, o primeiro longa-metragem do país. Ainda em Moçambique, realizou diversos curtas e contribuiu para a criação do Instituto Nacional do Cinema. Viveu e trabalhou também em Cuba por alguns períodos.

Em 1982 rodou no México, Erêndira, baseado em A incrível e triste história da Cândida Erêndira e sua avó desalmada, de Gabriel García Márquez. Posteriormente dirigiu: o musical Ópera do malandro (1985), baseado em peça de Chico Buarque; Kuarup (1989), baseado no livro Quarup, de António Callado; e o telefilme Fábula de la bella palomera, também baseado em Gabriel García Márquez.

Foi casado com a actriz Leila Diniz com quem teve uma filha, Janaína Diniz Guerra, nascida em 1971. Foi também casado com a actriz Cláudia Ohana com quem teve uma filha, Dandara Guerra, nascida em 1983.

Ruy Guerra tem também um importante trabalho como letrista de canções compostas em parceria com Chico Buarque, Carlos Lira, Edu Lobo, Francis Hime e Sergio Ricardo.

Filmografia

1954: Quand le soleil dort “Quando o sol dorme” (Director e roteirista)

1957: S.O.S. Noronha (Actor)

1962: Os cafajestes (Director e roteirista)

1962: Os mendigos (Montador e actor)

1964: Os fuzis (Director e roteirista)

1968: Balada de página três (Roteirista)

1968: Benito Cereno (Actor)

1969: Ternos caçadores (Director e roteirista)

1970: Os deuses e os mortos (Director e roteirista)

1970: O senhor do tempo (Actor)

1972: Os sóis da ilha de Páscoa. (Actor)

1972: Aguirre, der Zorn Gottes (Actor)

1975: As aventuras de um detective português (Roteirista)

1976: A queda (Director, roteirista, compositor e actor)

1980: Mueda, memória e massacre (Director e director de fotografia)

1981: Histoires extraordinaires: la lettre volée (Director e roteirista)

1983: Eréndira (Director)

1986: Ópera do malandro (Director, roteirista e produtor)

1988: Fábula de la bella Palomera (Director, roteirista e produtor)

1989: Kuarup (Director, roteirista e produtor).

1992: Me alquilo para soñar – telessérie (Director e roteirista).

1997: Posta restante (Roteirista)

2000: Monsanto –TV (Director).

2000: Estorvo (Director, roteirista e produtor)

2004: Portugal S.A. (Director)

2004: O veneno da madrugada (Director e roteirista)

2005: Casa de areia (Actor)

Por João Fuma

domingo, 11 de setembro de 2011

De Paola Rolletta: Futebol moçambicano revisitado em livro


(Entre outros grandes nomes do futebol moçambicano, destaque aqui para Nuro Americano (ex-Benfica/Portugal) e Fumito (ex-FCPorto), ambos de Pemba)

Quando se trata de escolher “o melhor jogador de sempre” do futebol moçambicano a decisão parece simples mas isso é para quem não sabe que no mundo do “finta-finta” nem mesmo o rei Eusébio é consensual.

«Não há um melhor jogador de sempre de Moçambique, há muitos melhores jogadores de sempre», defende a investigadora Paola Rolletta, apontando alguns nomes que pareciam improváveis: Calton Banze, Nuro Americano, António Brassard e Baltasar.

Jornalista italiana residente em Maputo, Paola Rolletta lança na próxima semana "Finta finta", um livro da Texto Editores com 31 retratos de ‘príncipes da bola’, como lhes chama o escritor João Paulo Borges Coelho, autor do prefácio.

«Este livro é uma homenagem aos jogadores e treinadores que durante várias décadas, dos anos 50 até aos nossos dias, têm levado alto o nome de Moçambique, sobretudo no estrangeiro», diz Paola Rolletta.

“Finta finta”, como os moçambicanos se referem a ‘jogar à bola’, é uma expressão associada às partidas de futebol de miúdos na rua, nas praias e nos baldios, jogos de onde saíram no passado tantos craques mas que hoje não abundam.

«Já não há baldios nem descampados, que eram os espaços de eleição para jogar ‘finta finta’, também já não há associativismo que foi uma das características principais dos clubes na época colonial e logo após a independência», defende a autora, sobre o actual estado da modalidade.

E igualmente decisivo no enfraquecimento do futebol moçambicano, acrescenta Paola Rolletta, é o empobrecimento do país que se reflecte no futebol e na sua organização.

«São estes os factores que fazem com que Moçambique já não tenha grandes campeões», considera, e dá como exemplos os problemas na investigação, que resultaram de não haver dados fiáveis sobre número de golos marcados ou de internacionalizações de muitos dos retratados.

De Costa Pereira a Domingues, de Mário Coluna a Tico Tico, e, sim, de Eusébio a Carlos Queiroz ou a Dauto Faquirá, Moçambique muito contribuiu para o futebol mundial mas, diz Rolletta, não tem ainda o lugar que merece na história.

“Finta finta”, edição em português e inglês de 224 páginas, é lançado em Maputo no dia 15 de setembro, estando a ser avaliada uma edição para o mercado português.

Leia aqui: As razões que minam a produção de talentos do futebol como Eusébio, Matateu e Coluna

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Por pressão da opinião pública: Laurentina “Sexy” Preta já foi retirada


A Cervejas de Moçambique (CDM), pressionada pela opinião pública, decidiu ontem retirar todos os painéis propagandísticos e anúncios publicados em diversos órgãos de comunicação social, referentes à cerveja Laurentina Preta, que estava a ser motivo de discórdia social, por estar associada, pelos piores motivos, à figura da mulher, indicou fonte autorizada daquela cervejeira.

De acordo com a mesma fonte, a intenção da empresa ao colocar aquela publicidade nunca foi de ofender a quem quer que seja, mas apenas com fins comerciais.

“Uma vez que esta publicidade está a criar polémica no seio da sociedade, a empresa decidiu retirá-la”, acrescenta a fonte.

A Directora do Fórum da Mulher, Graça Samo, instituição que liderou a manifestação de repúdio contra a publicidade em causa, que “usa e abusa do corpo da mulher”, considerou que a atitude da CDM é uma conquista da sociedade e que deve servir de lição para tantas outras empresas que usam de forma abusiva a figura da mulher para fins comerciais.

Livro Mitos: histórias de espiritualidade de Aldino Muianga é lançado esta quinta-feira


O escritor Aldino Muianga lança esta quinta-feira no Instituto Camões, em Maputo, o seu livro de contos, intitulado “Mitos: histórias de espiritualidade”. A obra é chancelada pela editora Alcance Editores e conta com 14 trabalhos, todos fazendo uma abordagem sobre a espiritualidade.

No prefácio à obra, Ungulani Ba Ka Khosa escreve que, em “Mitos” Aldino Muianga, médico de formação, resolveu trazer ao de cima o confronto entre a racionalidade materializada nos compêndios da medicina de que o autor/narrador é praticante e as fantásticas estórias que remontam da infância, num enredo em crescendo de conflitualidade, de exasperação: A Gina com Jota.

Mais adiante, o prefaciador afirma que ao ler as estórias confeccionadas pelo escritor, com ingredientes que só ele sabe dosear, sentiu-se em casa. “Fui tocado pela curiosidade, pois longe estava eu de pensar na galinha como personagem de referência no mundo efabulatório, na ‘Fala das Galinhas’ e o requinte de malvadez que a ‘Casa das Mambas’ faz emergir? E a triste estória do jovem que transpôs o afamado mundo dos prostíbulos da cidade de Lourenço Marques, em ‘Uma visita ao Prostíbulo?’. E a honra na ‘Dama da Honor?’ E a velha sage Khissane que atraía à sua cabana ‘A cabra do Soba’ com vagens partidas de matsimbe, cujo feijão emite essências que são um chamariz para determinados herbívoros?”.

Realça que, ler estas estórias é ir de encontro aos referenciais que o tempo presente tende a esbater, “mais por nossa própria culpa, pois ao erguermos as nossas balizas não nos preocupamos com o material que compõe os postes dos nossos limites”.

É provável que a ‘Alma Peregrina’ diga respeito a todos nós, desatentos ao mundo aos nossos pés, como a Selane sentenciada a regressar à terra para espiar o castigo pelas minhas faltas, muitos caminhos, atravessei rios e florestas, colhi abrigo na serração dos matos, acoitei-me nas concavidades das rochas, em busca do meu eu verdadeiro, da reconciliação comigo mesma e com os meus defuntos. Sou uma alma penada, uma vagabunda à procura de um caminho para eternidade tranquila.

“Estou em crer que Aldino Muianga, nestas estórias da nossa espiritualidade, mais do que em outras obras suas de valor inquestionável, diga-se, encontrou-se com o seu mundo, não para exorcizá-lo, mas para o trazer à perenidade das letras de modo a que todos o partilhem sem espartilhos de qualquer espécie”, anota.

Os arrabaldes de Lourenço Marques, ontem, Maputo, hoje, são os cenários privilegiados das histórias de Aldino Muianga. O autor é, ao lado de outros notáveis escritores de vivência suburbana, como Marcelo Panguana e Juvenal Bucuane e, mais distante, a roçar o campo, o Suleimane Cassamo, o grande paladino de temáticas da tradição em alteridade, de encontros conflituantes, de um modo ser característico dos subúrbios. Mundo de histórias fantásticas, de enredos maravilhosos, os subúrbios de ontem são os intermináveis filões de estórias do Aldino, os alfobres de que não dispensa o interior da sua casa espiritual, pois a elas se socorre insistentemente, ora carregado de angústias, ora querendo deleitar-se, encantando-nos com as histórias que perduram ao tempo.

O autor do livro diz que, as personagens das estórias desta colectânea são entidades confrontadas com os sobressaltos e com as angústias que a vida lhes impõe. Muitas destas superam as suas capacidades de resposta. O recurso a práticas míticas, à Divindade, é a resposta plausível no universo das suas culturas, porque essas crenças pessoais ajudam-na a entender as dificuldades da vida.

Aquelas personagens, nas suas fragilidades de humanos, possuem crenças pessoais, que são, afinal de contas, os valores que sustentam e que caracterizam os seus estilos de vida e os seus comportamentos.

“As estórias deste livro são, pelo menos procuro que elas assim sejam, a revelação do nosso quotidiano espiritual, em universos onde vivos e defuntos se relacionam e interferem uns com os outros; e também do modo com as crenças pessoais se alicerçam em cada indivíduo e influenciam esse mesmo quotidiano”, diz, sublinhando que ele, colhe a inspiração da prática médica que está cheia de exemplos ilustrativos da ingerência dos valores da Espiritualidade na relação indivíduo (paciente)-profissional de Saúde que muitas vezes determinam o tipo de resposta terapêutica no conjunto de todo o processo clínico.

E cita alguns exemplos que retratam a presença de crenças e de valores da Espiritualidade “…os médicos não conseguem descobrir a minha doença…”, “.. as análises não acusam nada…” “…X é impotente porque a mulher fechou-o numa garrafa…”, “…Y não faz filhos porque casaram-na com um espírito…”, “…não arranjo emprego porque a minha avó deitou-me um feitiço…”, “… não posso ir ao hospital antes de consultar os meus espírito…”.

Estas são ainda correntes de diversas práticas como o uso de amuletos (de pulseiras de missangas ou feitas de tiras de peles de certos animais), as invocações (ku-pahla) aos defuntos para salvaguarda da saúde da fortuna; os esconjuros, o feitiço; o efeito afrodisíaco das tatuagens nas coxas das mulheres, a mastigação de raízes de certas plantas antes de entrevistas para empregos, e outras mais que desconsideramos porque obscurantistas e se não adequam aos modelos de vida da sociedade moderna e civilizada.

As crenças naqueles valores constituem, segundo ele, um suporte que não pode ser subestimado nas relações inter-pessoais e colectivas, visto que são as fundações que asseguram o equilíbrio físico, social e emocional do indivíduo.

“Ignorar a existência, o vigor e o poder da Espiritualidade como a outra dimensão do nosso ser intrínseco e unitário é o mesmo que olhar para o sol e dizer que ele não passa de uma miragem”, diz, concluindo, pois, que “eis aqui oferecidas, estas estórias para leitura e sugestões como pontos de partida para uma reflexão sobre essa problemática tão apaixonante e candente como é a da Espiritualidade”.

Meio século de vida cheio de livros

Aldino Frederico de Oliveira Muianga, de seu nome completo, nasceu a 1 de Maio de 1950, no Bairro da Munhuana (Bairro índigena) nos arredores da cidade de Maputo (ex-Lourenço Marques).

Fez os estudos primários na Escola Missionária de S. Miguel Arcanjo e os secundários no Liceu António Enes, na mesma cidade.

É licenciado em Medicina pela Universidade Eduardo Mondlane e especializado em Cirurgia Geral. É docente na Faculdade de Medicina da Universidade de Pretória, na África do Sul.

Começou a escrever desde a adolescência, como colaborador no jornal de parede coordenado pela “Mocidade Portuguesa” no liceu que frequentava. Nesse jornal publicou alguns poemas, de uma vasta obra que se perdeu na totalidade.

A sua primeira publicação oficial foi o conto “A Vingança de Macandza”, no semanário Tempo, em 1986. Tem contos seus incluídos em antologias publicadas em Portugal e no Brasil, e em várias páginas e revistas literárias em Moçambique e no estrangeiro. Foi coordenador da página literária da revista SAPES editada no Zimbabwe, onde publicou ensaios sobre a Literatura Lusófona dos países africanos.

Foi colaborador de primeira linha da revista Charrua, editada pela Associação dos Escritores Moçambicanos.

Ao longo da sua carreira publicou os seguintes livros: “Xitala-Mati” (contos 1987, segunda edição 2007); “Magustana” (novela 1992), “A Noiva de Kebera” (contos 1994, encenação do conto do mesmo nome pela Companhia Nacional de Canto e Dança); “A Rosa Xintimana” (romance 2001, Prémio Literário TDM); “O Domador de Burros” (contos 2003, 2ª edição e Prémio Literário Da Vinci); “Meledina ou a Estória duma Prostituta” (romance 2004, 2ª edição 2009), “A Metamorfose” (contos 2005); “Contos Rústicos” (contos 2007); “Contravenção, uma História de Amor em Tempo de Guerra” (romance 2008), Prémio Literário José Craveirinha 2009, e “Caderno de Memórias, Vol.I” (contos 2010).

In Caderno Cultural (Notícias)

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Vinte e cinco anos depois: O cineasta Ruy Guerra de “Ópera do Malandro” volta à terra que o viu nascer


O cineasta Ruy Guerra chega esta quarta-feira, dia 7, a Moçambique para assistir à homenagem que o Dockanema lhe fará na 6º edição deste festival.

Depois de uma ausência de 25 anos, Ruy Guerra volta à terra que o viu nascer para estar presente neste evento, que se realiza entre os dias 9 e 18 de Setembro.

Assim, no dia 10 de Setembro, será apresentado o filme Os Fuzis, com que o cineasta ganhou o Urso de Prata do Festival de Berlim, em 1964.

A mostra acontecerá pelas 19.30, no Centro Cultural da Universidade Eduardo Mondlane, seguido de um cocktail nos Caminhos de Ferro, onde se cantarão músicas de Chico Buarque, com letra de Ruy Guerra.

No dia 15, pelas 18 horas, realizar-se-á uma palestra dirigida por Ruy Guerra, no Centro Cultural Brasil – Moçambique, onde o cineasta aproveitará para falar sobre a sua experiência e a sua história, nomeadamente em Moçambique, onde ajudou a erguer o cinema nacional.

Por fim, no dia 17, pelas 18 horas, igualmente no Centro Cultural Brasil–Moçambique, será apresentado A Queda, que ganhou o Urso de Prata do Festival de Berlim em 1977.

Já no Brasil, e em celeração dos seus 80 anos celebrados no dia 22 de Agosto, o cinesata vai ter as suas curtas e longas-metragens exibidas no Cineclube da Escola de Cinema Darcy Ribeiro, sempre aos sábados, com entrada franca, até o fim do ano.

É conhecido pela direcção de “Os Cafajestes” (1962), “Os Fuzis” (1964), “Ópera do Malandro” (1986) e “Estorvo” (2000).

Para comemorar a data, a ECDR preparou uma retrospectiva de filmes do director, até o dia 5 de novembro. A próxima sessão aconteceu no dia 3 de setembro, durante a qual foi exibida a obra “A Queda”, de 1977.

A ECDR é conhecida como um centro de formação de profissionais capacitados para actuar em diversas áreas do segmento audiovisual e já formou alunos brasileiros e estrangeiros, vindos da França, Alemanha, Grã-Bretanha, Portugal, entre outros países, que actuam no mercado de trabalho e foram premiados em festivais nacionais e internacionais.