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sexta-feira, 28 de maio de 2010

Música tradicional moçambicana: “Timbila ta Venâncio”: Testemunho e consagração do icone da timbila

In Cadernos Culturais (jornal Notícias), 26/05/2010

A Música chopi, figurada na timbila, registou esta semana mais um momento alto da sua secular história. O seu ícone, Venâncio Mbande, aos 80 anos de idade, lançou segunda-feira (21 de Maio, Dia Mundial da Diversidade Cultural), em Maputo, o seu primeiro disco compacto, com o título génerico “Timbila Ta Venâncio – Ao vivo no Teatro África”.

Trata-se de uma obra prima que em si encerra a dimensão de Venâncio Mbande, enquanto músico e precursor deste instrumento tradicional que da província de Inhambane, sul de Moçambique, granjeou simpatia em todo o mundo e hoje é Património Oral e Imaterial da Humanidade.

O disco, com um total de onze faixas que retratam musicalmente a vivência e sonhos de Venâncio Mbande, é assumido desde já como a sua maior consagração.

Conta-se que este não é o primeiro registo discográfico. Logo após o seu regresso ao país e com base num estúdio móvel de 24 pistas, o músico e produtor finlandês Eero Koivistoin registou na casa do próprio Venâncio Mbande, a primeira obra intitulada “Timbila Ta Venâncio”, a qual foi editada pela NAXOS WORLD.

São escassas as informações sobre a circulação deste disco no mercado, entretanto, o que se afirma é que a NAXOS não produz para fins comerciais, mas sim funciona como depositária dos maiores clássicos do mundo.

Sob influência do seu tio e outros familiares, Venâncio Mbande aprendeu a tocar timbila aos 6 anos de idade e aos 18 anos, emigrou para África do Sul para trabalhar nas minas de Ouro. Foi neste país que em 1956, criou a sua própria orquestra e começou a compor as suas próprias músicas, começando assim, a sua grande ascensão como um dos maiores mestres de música Chopi.

Foi ainda a partir da vizinha África do Sul que Venâncio Mbande catapulta a música Chopi para os vários quadrantes do globo, particularmente depois do lançamento em 1948 do livro “Chopi Musicians”, escrito pelo etnomusicólogo Hugh Tracey. Diz-se que o livro contribuiu bastante para o reconhecimento internacional da música Chopi.

Mas foi com o apoio do professor de etnomusicologia Andrew Tracey, filho de Hugh Tracey que Venâncio Mbande se tornou no maior mestre de timbila conhecido no mundo, tendo actuado em muitas cidades importantes da Europa, e a sua música ou filmes, constam dos arquivos das mais importantes bibliotecas e arquivos espalhados pelo mundo inteiro.

Entretanto, o disco “Timbila Ta Venâncio – Ao vivo no Teatro África”, produzido sob a chancela da editora nacional “Ekaya Productions”, liderada por João Carlos Schwalbach”, surge no âmbito das celebrações dos seus 30 anos da Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD) e foi igualmente associado ao Festival Aldeia Cultural que decorre desde a última sexta-feira, na capital do país.

É forma de reconhecimento e homenagem da CNCD àqueles que com o seu talento e criatividade contribuíram para o desenvolvimento da cultura, criando um ambiente favorável para a prática e massificação das actividades culturais.

Conforme disse David Abílio, director geral da CNCD, entre essas figuras, destaque vai para o Venâncio Mbande, considerado o maior ícone de timbila. “Nós somos testemunhos disto. Nas nossas viagens, pelo mundo fora por curiosidade, visitamos bibliotecas e arquivos especializados em música e dança, para sabermos que informação dispunham de África e em particular de Moçambique. E encontramos com surpresa e satisfação, músicas gravadas e imagens de Venâncio Mbande, as vezes como a única referência de Moçambique”, anotou David Abílio, afirmando que prova maior da presença universal de Mbande foi a proclamação de Timbila pela UNESCO em 2005 como Obra Prima do Património Oral e Imaterial da Humanidade.

O Primeiro-Ministro moçambicano, Aires Ali presente na cerimónia oficial do lançamento do disco, apelou a dado passado do seu discurso, a união de esforços para que haja mais registo de obras de Venâncio Mbande, não só sob forma de disco, mas também de filme.

É interesse que a obra daquele ícone de timbila seja cada vez mais difundida e que sirva de bandeira da moçambicanidade. Aliás, Aires Ali disse que nas suas visitas de trabalho quer dentro ou for a do país, vai lever sempre consigo o disco de Venâncio Mbande.

De referir que depois da cerimónia oficial de lançamento do disco nas instalações do Centro Cultural Franco Moçambicano, Venâncio Mbande e a sua orquestra constituída foi 20 elementos, fizeram-se ao palco principal da “Aldeia Cultural” para apresentação ao grande público do novo álbum “Made in Mozambique”.

Indica-se que além da CNCD, da Ekaya Productions, o disco foi registado e produzido com o patrocínio da MOZAL, contou com o apoio da UNESCO e do Centro Cultural Franco Moçambicano.

Entretanto, o disco “Timbila Ta Venâncio – Ao vivo no Teatro África”, produzido sob a chancela da editora nacional “Ekaya Productions”, liderada por João Carlos Schwalbach”, surge no âmbito das celebrações dos seus 30 anos da Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD) e foi igualmente associado ao Festival Aldeia Cultural que decorre desde a última sexta-feira, na capital do país.

É forma de reconhecimento e homenagem da CNCD àqueles que com o seu talento e criatividade contribuíram para o desenvolvimento da cultura, criando um ambiente favorável para a prática e massificação das actividades culturais.

domingo, 23 de maio de 2010

Cinema: Longa-metragem 'A República das Crianças' de Flora Gomes nasce nas ruas de Maputo

Numa cidade onde todos os adultos foram para a guerra, são as crianças que assumem as funções dos mais velhos, de polícia sinaleiro a deputado, e constroem um mundo novo, de esperança e de sonhos. A cidade existe só na cabeça de Flora Gomes, mas está gradualmente a tomar forma nas ruas da capital moçambicana, onde o realizador guineense está a filmar A República das Crianças, a sua quinta longa-metragem.

O argumento, escrito a meias com um amigo, está pronto há meia dúzia de anos mas só agora começaram as filmagens, depois de escolhidos os nove actores principais entre 600 crianças de Maputo. No meio delas, um adulto, o actor norte americano Danny Glover, de Escape from Alcatraz, Lethal Weapon, Silverado ou, mais recentemente, 2012, onde interpreta o papel de presidente dos Estados Unidos.

"Queria falar um pouco de uma África mais organizada, uma África de esperança. Nos últimos tempos tem havido muitas guerras civis no nosso continente e queria virar as páginas da história, fazer com que pensássemos como um povo livre, que sonha e que constrói um país, para uma nova geração", conta Flora Gomes. O cineasta resume assim o conteúdo do conto dos meninos que ocuparam a cidade que os adultos abandonaram, que organizaram o sistema de saúde e de educação, e criaram um Parlamento onde o presidente é diferente todos os dias.

Como em filmes anteriores, Flora Gomes escolheu não-profissionais para fazer o filme, onde Danny Glover, o conselheiro da República, é um dos poucos adultos com um papel relevante.

"Gosto dessas aventuras, de trabalhar com crianças, e até adultos, que nunca fizeram cinema. E tem dado resultado", diz o realizador.

"Não e fácil trabalhar com meninos, mas é apaixonante. Gosto muito. Em todos os meus filmes sempre tenho essa possibilidade de trabalhar com os miúdos que nos dão coisas extraordinárias", garante Flora Gomes num intervalo das filmagens, quando grandes camiões, projectores, máquinas de filmar e muita confusão deixam de boca aberta dezenas e dezenas de outras crianças, ávidas de ver o "circo" que se monta uma manhã inteira para um minuto de filmagem.

O filme, diz o cineasta guineense, deverá estar pronto no final do ano e a montagem é feita em Portugal, tanto mais que é uma co- -produção portuguesa (Tejo Filmes) e francesa (Les Films de l'Après-midi).