RÁDIO MOÇAMBIQUE

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sábado, 20 de novembro de 2010

Cascatas da Namaacha: Saia para fora cá dentro

Muito se tem dito e comentado sobre as outrora famosas e aprazíveis cascatas da Namaacha. E não é para menos, quando hoje, mais do que nunca, os moçambicanos começam a (rea)ganhar o gosto de aproveitar os fins de semana para retemperar forças fora das cidades. No caso, de Maputo.

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No caso particular das Cascatas da Namaacha, o local, para além de se situar a pouco menos de cem kilométros da capital moçambicana, é também acessível a “todo o mundo” pelo simples facto de ser propriedade de todos. Não se tem que gastar seja o que fôr para lá se estar, para além das despesas da deslocação e dos acepipes e refrescantes.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Biografia: O começo de Jimi Hendrix, o menino que não podia chorar

(Jimi Hendrix com quatro anos)

Ele desejava ser famoso, mas era tímido demais para cantar. Quando aceitou a própria voz em 1966, Jimi Hendrix deu o último passo para se consagrar como o maior guitarrista do rock. O mérito deve-se a três pessoas. Bob Dylan – a entoação fanhosa era a prova de que qualquer um poderia se candidatar a cantor.

Lithofayne Pridgon – negra e sensual, ela foi maternal com Hendrix, que a conheceu no Harlem. E Linda Keith – namorada de Keith Richards, essa jovem apaixonou-se pelo guitarrista americano e lhe deu o primeiro ácido. Não fosse o trio, Hendrix teria sido um gênio frustrado.

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Esta é a conclusão de Becoming Jimi Hendrix, biografia escrita por Steven Roby e Brad Schreiber. Baseado em arquivos do FBI, da Justiça e do Exército dos EUA, o livro acompanha o período de formação do instrumentista, morto há três décadas, aos 27 anos.

Escritor moçambicano Ugulani Ba Ba Khosa discute papel do negro na literatura mundial na Biblioteca de São Paulo (Brasil)

A Biblioteca de São Paulo, espaço cultural do Governo de São Paulo administrado em parceria com a Poiesis - Organização Social de Cultura, promoverá um “bate-papo sobre” em torno do tema "O negro na literatura internacional" com o escritor moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa, no dia 20 de novembro. A mediação do encontro ficará a cargo de Carmen Tindó, doutora e professora de Literaturas Africanas na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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Durante o evento, realizado no mesmo dia em que se celebra a Consciência Negra, Ungulani falará sobre a influência do negro na cena literária. "Nunca procurei a cor num escritor, mas identidades, fluxos literários representativos de parcelas deste mundo cada vez mais global", conta o escritor, quando perguntado sobre os seus autores negros de referência.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Moçambique: Distúrbios em Maputo. Três mortos e vários feridos

Protestos contra agravamento dos preços dos produtos básicos, pão, água e energia

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Três mortos no Bairro do Benfica e várias dezenas de feridos que deram entrada no Hospital Geral José Macamo é o saldo preliminar dos distúrbios populares que estão a caracterizar as cidades de Maputo e Matola, em Moçambique, em protesto contra o agravamento dos preços de energia, água, pão e outros bens de consumo.

sábado, 7 de agosto de 2010

Moçambique : Parque Nacional da Gorongosa precisa de ajuda

No ano em que o Parque Nacional da Gorongosa comemora 50 anos, os responsáveis da joia da coroa dos grandes parques africanos só pedem uma coisa: a sua visita.

A reabilitação do Parque Nacional da Gorongosa, no centro de Moçambique, representa uma das grandes oportunidades de conservação no mundo de hoje. A Gorongosa é uma região com grande diversidade de espécies e características ecológicas únicas. A chave para assegurar a continuidade da diversidade de espécies no planeta é proteger as áreas que se encontram em situação crítica.

Com uma área de cerca de 4000 quilómetros quadrados, o Parque situa-se na zona limite sul do Grande Vale do Rift Africano. O Parque abarca a área plana do vale e partes dos planaltos que o circundam. A planície é irrigada pelos rios que nascem na Serra da Gorongosa, a qual chega a atingir os 1862 metros de altitude.

As inundações sazonais e alagamento do vale, o qual é composto por tipos de solo diferentes, criam uma variedade de ecossistemas distintos. As terras de pasto são pontilhadas de remendos de acácias, de savana, de floresta seca sobre areias, de poças cheias de água das chuvas sazonais e de densos bosques de termiteiras. Os planaltos contêm matas de miombo e florestas de montanha, assim como uma espetacular floresta tropical húmida, na base de uma série de desfiladeiros ou "gargantas" de calcário.

Esta combinação de características únicas albergou, um dia, uma das mais densas populações de vida selvagem de toda a África, incluindo carismáticos carnívoros, herbívoros e mais de 500 espécies de pássaros. Contudo, no final do século XX e enquanto durou o conflito civil em Moçambique, o número de mamíferos de alto porte sofreu uma drástica redução de 95% e os ecossistemas foram alvo de forte pressão.

A Fundação Carr, uma organização norte-americana sem fins lucrativos criada em 1999, aliou-se ao Governo de Moçambique para proteger e restaurar o ecossistema do Parque Nacional da Gorongosa e desenvolver um setor de ecoturismo que beneficie as comunidades locais. Em Janeiro de 2008, a Fundação assinou com o Governo Moçambicano um contrato de gestão conjunta do Parque, pelo prazo de 20 anos. Este compromisso de longo prazo foi precedido de um período de três anos e meio de atividades de restauração legitimadas por um Memorando de Entendimento assinado pelas referidas partes.

Segundo Gregory Carr, "este parque tem potencial suficiente para ser a máquina económica impulsionadora do desenvolvimento do centro de Moçambique."

Por enquanto há que investir, a reintrodução de animais vai continuar, pelo menos, até 2015, obrigando ao dispêndio de muito dinheiro pela Fundação Carr na aquisição de exemplares -búfalos e elefantes, zebras, gnus, hipopótamos, cudos, elandes, rinocerontes... A isto somam-se 14 milhões de dólares (9,6 milhões de euros) destinados à construção de estradas, pontes, edifícios (incluindo um centro de investigação científica) e uma nova pista de aviação.

Segundo os responsáveis pelo Parque: "Estamos a formar uma equipa anti-caça furtiva revitalizada e a reconstruir a infraestrutura do Parque. Estamos a levar a cabo acompanhamento e vigilância biológica, incluindo contagem de herbívoros de alto porte, um levantamento de carnívoros, de peixes e um mapa de vegetação.

Estamos a criar no Parque um centro permanente de investigação biológica, o qual permitirá contribuir para o conhecimento científico e também proporcionar educação e oportunidades de emprego aos Moçambicanos".

Os responsáveis pelo Parque Nacional da Gorongosa e a Fundação Carr pensam que, um pouco por todo o mundo, muita gente se quererá associar a este trabalho de amor pela Natureza e Desenvolvimento Social . "E a melhor maneira para ajudar a restaurar o Parque Nacional da Gorongosa é contribuir para um dos seus projetos" -afirmam.

Ajude a Replantar Árvores

A Serra da Gorongosa está a perder a sua floresta de forma vertiginosa, e todo o ecossistema está em apuros. Estamos a lutar para estancar esta situação, e contamos com a sua ajuda. Estamos a formar pessoas das comunidades locais para aprender a semear árvores nativas em pequenos viveiros e depois plantar dentro das suas comunidades. Uma doação neste projeto será diretamente canalizada para pagar o salário das pessoas que plantam árvores na Serra da Gorongosa. A sua ajuda vai fazer uma diferença.

Construa uma Escola

Estamos a ajudar as comunidades locais a construir escolas melhores, a desenvolver um currículo contextualizado, e ajudamos na contratação e formação de professores qualificados. Recentemente acabámos de ajudar a comunidade de Vinho na construção de uma escola moderna e funcional. Gostaríamos de poder construir 100 escolas como esta nas comunidades da Zona de Desenvolvimento Sustentável do Parque Nacional da Gorongosa. A sua contribuição vai tornar este sonho uma realidade.

Adote um Animal

Antes da guerra em Moçambique, o Parque Nacional da Gorongosa era o habitat da mais densa população de animais na África Austral. Muitos anos de caça furtiva reduziram drasticamente o número de herbívoros, e o Parque necessita destes animais para repovoar e manter as savanas do Vale do Rift. Estamos a reintroduzir elefantes, zebras, bois-cavalos, e búfalos para ajudar todo o ecossistema. Ajude-nos a revitalizar o Parque Nacional da Gorongosa.

Texto elaborado com base na informação contida no website do Parque Nacional da Gorongosa. A sua distribuição é também um ato de solidariedade, para que - cada vez mais -, um maior número de pessoas e instituições conheçam, visitem e financiem este meritório projeto.

[Este texto foi-nos enviado pela consultora 'matéria escrita - consultores de comunicação'. É reproduzido na íntegra, como numa cadeia de mensagens, tendo em conta os seus objetivos sociais. Envie, também.]

SAIBA MAIS EM: http://www.gorongosa.net/

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Stewart Sukuma: Com ‘Xitchuketa Marrabenta’ inicia a saga de levantar poeira nos palcos da Marrabenta

O multifacetado cantor e compositor, Stewart Sukuma e a sua Banda Nkhuvu vão dar o pontape de saida este fim de semana a uma série de shows para marcar a temporada de verão de 2010.

Na sequência da iniciativa, o artsita e a sua banda pretendem promover o lancamento da sua mais recente criação: a música ‘Xitchuketa Marrabenta’, a ser brevemente colocada no mercado no formato single.

Os shows inserem-se também na preparação de Stewart e o seu grupo para uma digressão nacional e regional, com datas e locais ainda por anunciar.

Stewart Sukuma acredita que a carteira de shows poderá contribuir fortemente para o fortalecimento da música popular moçambicana e alavancar no mercado nacional os artistas que pretendem tocar e cantar ao vivo.

Entretanto, a banda já não conta com a colaboração de Stélio Zoe ( Baterista ) por razões de agenda do artista, sendo já seguro a sua substituição por Stélio Mondlane, mantendo a banda com a formacao original: Nelton Miranda no baixo, Dódó Firmo, Guitarras, Papi Miranda nos Teclados, Cizaquel e Filo nas vozes, e Nelson Lifanissa e Nando Morte na percussão.

‘Xitchuketa Marrabenta’, diz Stewart Sukuma, marca o inicio de uma nova era da marrabenta: “mais estilizada, mais arranjada e mais forte do que nunca numa tentativa de resgatar este que e um dos géneros de música popular mais conhecidos dentro e fora do país”.

Stewart Sukuma combina a música moçambicana tradicional e contemporânea, com uma instrumentação revolucionária para criar um som enérgico e dançante, que pode ser chamado de Afro/Pop/Jazz.

Nascido em Cuamba, uma pequena cidade na provincia setentrional de Niassa, Sukuma, ganhou sua primeira guitarra num evento de caridade quando ainda menino.

Em 1997, cinco anos após o fim da guerra que dilacerou país por 16 anos, ele gravou o seu primeiro álbum, Afrikiti, ( feat. Hugh Masekela & Jimmy Dludlu ), no que constituiu mote para muitos outros artistas moçambicanos trilharem a mesma experiência.

Desde então, o músico fez digressões por África, Europa, Estados Unidos e Caraibas, apresentando-se em festivais de renome como Beat Apartheid!, Houston International Festival, ao lado de lendas como Miriam Makeba, Hugh Masekela, Abdullah Ibrahim, Gilberto Gil, Jimmy Dludlu, Mike Del Ferro e outros…

A revista Bilboard de 7 de Junho de 1997 conferiu a Stewart Sukuma o mesmo nível de Papa Wemba e outros músicos africanos consagrados.

Stewart Sukuma é membro do Comité Africano de Avaliação e Consulta do “African Scholars Program” da Berklee College of Music ( USA/Boston/Mass ), prestigiada instituição de que fazem parte outros grandes nomes da música africana como, Angelique Kidjo, Richard Bona, Bakiti Kumalo, Lionel Loueke…

Sukuma liga a sua música a aspectos sociais, trabalhando em coordenação com as campanhas nacionais de luta contra o HIV/SIDA, com a Comissão Nacional de Eleições, a UNICEF e outras organizações de ajuda humanitária, com o objectivo de expandir o conhecimento sobre o HIV/SIDA, a importância do Voto e dos Direitos Humanos.

Em Novembro de 2007, Sukuma lançou o seu último álbum, “Nkhuvu”, que significa “Celebração”, parceirando com grandes músicos como Lokua Kanza, Jimmy Dludlu, Bonga, Artur Maia e Elizah - só para citar alguns. Neste álbum, Sukuma canta em Português, Inglês, Shitswa, Ekoti, Shangana, Gitonga, Ciyao e Shimakonde, a maioria das línguas nunca representada numa única obra discográfica moçambicana. Inspirando-se nas línguas bantu, com as variantes de várias regiõs do seu país (Moçambique), e Angola e Guiné-Bissau, Sukuma captou a voz da África Lusofona.

Discografia:

2008: Kizomba Mix/Vidisco
2007: Nkhuvu/Celebração Feat: Lokua kanza, Bonga, Jimmy Dludlu…/in Studio

2006: Tales of Mozambique/Sheer Sound
2003: Música da CPLP/Marcelo Salazar

2000: Mozambique Relief/Naxos World

1998: New African World Beat Vol 4/Star Pool/Universal

1997: Afrikiti Feat. Hugh Masekela, George Lee e Jimmy Dludlu/CCP Records/EMI/Tropical Music


Prémios:
- Prémio da Canção Mais Popular/Ngoma Moçambique 1994 (Rádio Moçambique)
- Prémio da Melhor Canção /Ngoma Moçambique (1996)
- Prémio Mozart/UNESCO/Melhor Músico (1997)
- Nomeado Para Melhor Vídeo Masculino Channel O Awards 2005 ( Nomination )
- Personalidade Cultural 2008/Jornal Noticias
- Prémio da Canção Mais Popular/Ngoma Moçambique 2008 (Rádio Moçambique)
- Prémio Música Mais Popular no MMA (Moçambique Music Awards ) 2009

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Pemba: Arranca hoje festival "Tambo Tambulani 2010"

Arranca hoje, 12, na cidade de Pemba, em Cabo Delgado, o Festival Tambo 2010, pela quinta vez consecutiva organizado pela Associação Cultural, Tambu Tambulani Tambu, sedeada no bairro de Nanhimbe, que tem o condão de trazer àquela região, diversas sensibilidades artistico-culturais internacionais.


Nesta segunda-feira, está prevista a entrada em cena de dois escultores zimbabweanos, bem como uma pintora e escultora das Ilhas Seychelles, para além do arranque do “Workshop” de artes plásticas com a participação do multiartista queniano, Tony Mboyo, o nigeriano Kola Akintola, a brasileira Ângela, Nangashinu N´taluma, que de Portugal traz na sua “bagagem”a arte Maconde, Mieke Oldenburg, escultora que vem de Maputo e quatro artistas pembenses, também calejados na escultura.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Carvão de Moatiza (Tete) poderá vir a ser escoado através do rio Zambeze

O escoamento de parte do carvão a ser extraído na bacia carbonífera de Moatize, província de Tete, poderá ser efectuado através do rio Zambeze caso se confirmem os resultados dos estudos actualmente em curso, de acordo com o diário Notícias, de Maputo.

Leia Mais aqui: www.rm.co.mz

No decurso de um debate realizado em Maputo, Martin Papper, presidente da Global Marin Resources, disse que através de barcaças leves o carvão pode ser escoado de Tete até à região do Chinde, onde estariam ancorados navios de grande calado que transportariam o carvão para os mercados de consumo.

Leonard Cohen anuncia novo disco

O cantor canadiano Leonard Cohen anunciou que vai lançar um novo disco, o primeiro em seis anos. Ainda sem título, o álbum chega às lojas no próximo ano.

De acordo com o jornal britânico 'The Guardian', o novo disco terá 10 ou 11 canções, que foram compostas antes da digressão mundial de Cohen em 2008 e 2009.

"Na verdade, uma delas foi escrita durante a digressão. Todas as outras foram escritas antes", explicou Cohen durante a sua introdução no 'Songwriters Hall of Fame em Nova Iorque, na última quinta-feira.

O novo álbum será produzido pelo próprio Cohen, que contará com as colaborações da cantora de jazz Anjani Thomas e de Sharon Robinson, com quem partilha a autoria de várias canções desde a década de 80.

Morreu baixista dos Kinks

O músico britânico Peter Quaife, fundador do grupo Kinks, um dos mais populares da década de 1960, morreu quinta-feira em Londres, anuncia a BBC.

A causa da morte não foi ainda tornada pública, mas, segundo a BBC, Quaife sofria de problemas renais e fazia hemodiálise há dez anos.

Quaife foi um dos fundadores dos Kinks, grupo britânico pioneiro do hard rock liderado pelo vocalista e guitarrista Ray Davies.

Quaife tocou em êxitos do grupo como 'You Really Got Me', 'All Day and all of the Night' e 'Everybody’s Gonna Be Happy', entre outros.

Em 1966 Peter Quaife sofreu um acidente de carro em que partiu uma perna. Em cosequência, o músico foi substituído por John Dalton por alguns meses. De volta à banda, Quaife participou de alguns dos discos mais importantes dos Kinks, casos de 'Something Else' e “Village Green Preservation Society', que Quaife considerava o ponto mais alto da sua carreira.

Cansado dos conflitos entre os irmãos Dave e Ray, o músico saíu dos Kinks em 1969 e tentou ainda formar outra banda, os Maple Oak. No entanto, o grupo fracassou e Quaife passou a dedicar-se a trabalhos gráficos e ilustrações, passando a viver no Canadá e Dinamarca.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Mia Couto: seria desastre nacional se alguma vez Afonso Dlakhama chegasse ao poder em Moçambique

O escritor Mia Couto analisa o recente processo eleitoral em Moçambique e os caminhos trilhados pela jovem nação africana até a conquista de um Estado democrático pleno

O escritor e biólogo moçambicano Mia Couto vê com cepticismo as possibilidades de o actual processo eleitoral no seu país induzir o renascimento das utopias que animaram o processo revolucionário moçambicano na década de 1970 e a consolidação de um projecto de nação que ele ajudou a construir. No entanto, não deixa de ressaltar o papel fundamental da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) – actual partido governista e elementar no processo de redemocratização como grupo revolucionário – na estabilidade do país e na continuidade do processo de construção nacional.

Leia mais aqui: www.rm.co.mz

"Seria um desastre nacional se alguma vez Afonso Dlakhama, da Renamo, chegasse ao poder. Já Deviz Simango, jovem engenheiro que saiu em ruptura com a Renamo e que ainda é prefeito da cidade da Beira (a segunda cidade de Moçambique) fez um bom trabalho em prol da cidade. Mas é preciso dizer que a oposição é algo que está em processo de criação. E é urgente que se crie uma oposição capaz, uma oposição construtora de alternativas e que abra caminhos e ideias novas." (Mia Couto)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Sexto Festival Nacional de Cultura em Chimoio: a celebração e exaltação da cultura moçambicana

(Imagem (EGMatos) captada sábado, 5, na vila da Namaacha, na fase de apuramento dos representantes da província de Maputo)

Chimoio, Julho/agosto de 2010. Será exactamente na capital da província central de Manica, de 27 de julho a 1 de agosto, que os fazedores das artes e cultura, uma vez mais, terão a oportunidade de celebrar e exaltar as ricas, diversificadas e milenares tradições culturais moçambicanas. É o VI Festival Nacional da Cultura, evento nacional que ocorre no Ano Internacional de Aproximação de Culturas, facto proclamado pela 62ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em reconhecimento do poder da cultura como factor de compreensão mútua, de paz e sobretudo de desenvolvimento sustentável.

O VI Festival Nacional de Cultura pretende-se que seja o momento mais alto de celebração e exaltação da cultura moçambicana, no objectivo de preservar, desenvolver as artes, a cultura e as tradições das diferentes comunidades e criar uma plataforma de interacção, intercâmbio e de divulgação do rico e diversificado património cultural do país.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Música tradicional moçambicana: “Timbila ta Venâncio”: Testemunho e consagração do icone da timbila

In Cadernos Culturais (jornal Notícias), 26/05/2010

A Música chopi, figurada na timbila, registou esta semana mais um momento alto da sua secular história. O seu ícone, Venâncio Mbande, aos 80 anos de idade, lançou segunda-feira (21 de Maio, Dia Mundial da Diversidade Cultural), em Maputo, o seu primeiro disco compacto, com o título génerico “Timbila Ta Venâncio – Ao vivo no Teatro África”.

Trata-se de uma obra prima que em si encerra a dimensão de Venâncio Mbande, enquanto músico e precursor deste instrumento tradicional que da província de Inhambane, sul de Moçambique, granjeou simpatia em todo o mundo e hoje é Património Oral e Imaterial da Humanidade.

O disco, com um total de onze faixas que retratam musicalmente a vivência e sonhos de Venâncio Mbande, é assumido desde já como a sua maior consagração.

Conta-se que este não é o primeiro registo discográfico. Logo após o seu regresso ao país e com base num estúdio móvel de 24 pistas, o músico e produtor finlandês Eero Koivistoin registou na casa do próprio Venâncio Mbande, a primeira obra intitulada “Timbila Ta Venâncio”, a qual foi editada pela NAXOS WORLD.

São escassas as informações sobre a circulação deste disco no mercado, entretanto, o que se afirma é que a NAXOS não produz para fins comerciais, mas sim funciona como depositária dos maiores clássicos do mundo.

Sob influência do seu tio e outros familiares, Venâncio Mbande aprendeu a tocar timbila aos 6 anos de idade e aos 18 anos, emigrou para África do Sul para trabalhar nas minas de Ouro. Foi neste país que em 1956, criou a sua própria orquestra e começou a compor as suas próprias músicas, começando assim, a sua grande ascensão como um dos maiores mestres de música Chopi.

Foi ainda a partir da vizinha África do Sul que Venâncio Mbande catapulta a música Chopi para os vários quadrantes do globo, particularmente depois do lançamento em 1948 do livro “Chopi Musicians”, escrito pelo etnomusicólogo Hugh Tracey. Diz-se que o livro contribuiu bastante para o reconhecimento internacional da música Chopi.

Mas foi com o apoio do professor de etnomusicologia Andrew Tracey, filho de Hugh Tracey que Venâncio Mbande se tornou no maior mestre de timbila conhecido no mundo, tendo actuado em muitas cidades importantes da Europa, e a sua música ou filmes, constam dos arquivos das mais importantes bibliotecas e arquivos espalhados pelo mundo inteiro.

Entretanto, o disco “Timbila Ta Venâncio – Ao vivo no Teatro África”, produzido sob a chancela da editora nacional “Ekaya Productions”, liderada por João Carlos Schwalbach”, surge no âmbito das celebrações dos seus 30 anos da Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD) e foi igualmente associado ao Festival Aldeia Cultural que decorre desde a última sexta-feira, na capital do país.

É forma de reconhecimento e homenagem da CNCD àqueles que com o seu talento e criatividade contribuíram para o desenvolvimento da cultura, criando um ambiente favorável para a prática e massificação das actividades culturais.

Conforme disse David Abílio, director geral da CNCD, entre essas figuras, destaque vai para o Venâncio Mbande, considerado o maior ícone de timbila. “Nós somos testemunhos disto. Nas nossas viagens, pelo mundo fora por curiosidade, visitamos bibliotecas e arquivos especializados em música e dança, para sabermos que informação dispunham de África e em particular de Moçambique. E encontramos com surpresa e satisfação, músicas gravadas e imagens de Venâncio Mbande, as vezes como a única referência de Moçambique”, anotou David Abílio, afirmando que prova maior da presença universal de Mbande foi a proclamação de Timbila pela UNESCO em 2005 como Obra Prima do Património Oral e Imaterial da Humanidade.

O Primeiro-Ministro moçambicano, Aires Ali presente na cerimónia oficial do lançamento do disco, apelou a dado passado do seu discurso, a união de esforços para que haja mais registo de obras de Venâncio Mbande, não só sob forma de disco, mas também de filme.

É interesse que a obra daquele ícone de timbila seja cada vez mais difundida e que sirva de bandeira da moçambicanidade. Aliás, Aires Ali disse que nas suas visitas de trabalho quer dentro ou for a do país, vai lever sempre consigo o disco de Venâncio Mbande.

De referir que depois da cerimónia oficial de lançamento do disco nas instalações do Centro Cultural Franco Moçambicano, Venâncio Mbande e a sua orquestra constituída foi 20 elementos, fizeram-se ao palco principal da “Aldeia Cultural” para apresentação ao grande público do novo álbum “Made in Mozambique”.

Indica-se que além da CNCD, da Ekaya Productions, o disco foi registado e produzido com o patrocínio da MOZAL, contou com o apoio da UNESCO e do Centro Cultural Franco Moçambicano.

Entretanto, o disco “Timbila Ta Venâncio – Ao vivo no Teatro África”, produzido sob a chancela da editora nacional “Ekaya Productions”, liderada por João Carlos Schwalbach”, surge no âmbito das celebrações dos seus 30 anos da Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD) e foi igualmente associado ao Festival Aldeia Cultural que decorre desde a última sexta-feira, na capital do país.

É forma de reconhecimento e homenagem da CNCD àqueles que com o seu talento e criatividade contribuíram para o desenvolvimento da cultura, criando um ambiente favorável para a prática e massificação das actividades culturais.

domingo, 23 de maio de 2010

Cinema: Longa-metragem 'A República das Crianças' de Flora Gomes nasce nas ruas de Maputo

Numa cidade onde todos os adultos foram para a guerra, são as crianças que assumem as funções dos mais velhos, de polícia sinaleiro a deputado, e constroem um mundo novo, de esperança e de sonhos. A cidade existe só na cabeça de Flora Gomes, mas está gradualmente a tomar forma nas ruas da capital moçambicana, onde o realizador guineense está a filmar A República das Crianças, a sua quinta longa-metragem.

O argumento, escrito a meias com um amigo, está pronto há meia dúzia de anos mas só agora começaram as filmagens, depois de escolhidos os nove actores principais entre 600 crianças de Maputo. No meio delas, um adulto, o actor norte americano Danny Glover, de Escape from Alcatraz, Lethal Weapon, Silverado ou, mais recentemente, 2012, onde interpreta o papel de presidente dos Estados Unidos.

"Queria falar um pouco de uma África mais organizada, uma África de esperança. Nos últimos tempos tem havido muitas guerras civis no nosso continente e queria virar as páginas da história, fazer com que pensássemos como um povo livre, que sonha e que constrói um país, para uma nova geração", conta Flora Gomes. O cineasta resume assim o conteúdo do conto dos meninos que ocuparam a cidade que os adultos abandonaram, que organizaram o sistema de saúde e de educação, e criaram um Parlamento onde o presidente é diferente todos os dias.

Como em filmes anteriores, Flora Gomes escolheu não-profissionais para fazer o filme, onde Danny Glover, o conselheiro da República, é um dos poucos adultos com um papel relevante.

"Gosto dessas aventuras, de trabalhar com crianças, e até adultos, que nunca fizeram cinema. E tem dado resultado", diz o realizador.

"Não e fácil trabalhar com meninos, mas é apaixonante. Gosto muito. Em todos os meus filmes sempre tenho essa possibilidade de trabalhar com os miúdos que nos dão coisas extraordinárias", garante Flora Gomes num intervalo das filmagens, quando grandes camiões, projectores, máquinas de filmar e muita confusão deixam de boca aberta dezenas e dezenas de outras crianças, ávidas de ver o "circo" que se monta uma manhã inteira para um minuto de filmagem.

O filme, diz o cineasta guineense, deverá estar pronto no final do ano e a montagem é feita em Portugal, tanto mais que é uma co- -produção portuguesa (Tejo Filmes) e francesa (Les Films de l'Après-midi).

terça-feira, 27 de abril de 2010

Zé Mucavele: a homenagem a um cantor que não cede a gostos duvidosos e ‘pimbistas’

O Zé Mucavele anda cá vai para sessenta anos, comemorou-os, quinta-feira ,22 de abril, em concerto inolvidável. Diz ele que a sua carreira musical começou há 41 anos, mas nós não acreditamos, porque a música nasceu-lhe no ventre materno que lhe estruturou o código genético em ‘cocktail’ forjado com raízes da moçambicanidade, sendo a liberdade de ser e estar marcas indeléveis do seu cantar. Zé Mucavele é um cantor universal. Um homem, por vezes, de trato difícil, sobretudo quando joga à defsa, intransigente na defesa dos seus projectos que mereciam ser acarinhados e, regra geral, não o são, porque Zé Mucavele não é um diplomata, é ele mesmo e a sua música, que não cede a gostos fáceis, duvidosos, corriqueiros, “pimbistas”, à procura de popularidade circunstancial, moeda de consumo corrente na arena de uma boa parte dos compositores e cantadores domésticos”.(Editorial do semanário Domingo, 25-04-2010)

José Alfredo Mucavele, natural de Chibuto, Gaza, 1950. No passado dia 5 de Abril, um dos maiores compositores e intérpretes de Moçambique completou 60 anos de vida. Aqui e agora, e certamente traduzindo a vontade do país artístico, e não só, um modesto tributo do «Clube dos Entas» a José Mucavele. Pelo seu percurso de vida e pela brilhante carreira que tem trilhado desde 1969.

Conhecemos o José Mucavele em 1969, trabalhava então como pintor publicitário, ocupação para a qual ingressara em benefício de um curso de desenho tirado na Escola Industrial da então cidade de Lourenço Marques.

Decorria ainda o ano de 1969 quando o vemos integrado no conjunto «Os Escravos», conjunto que, depois, e claramente por razões de ordem política, se viu obrigado a mudar para a designação de «Os Psicadélicos».

Depois dos «Psicadélicos», Mucavele é convidado a integrar o agrupamento «Djambu 70», onde actua como trompetista. Em 1971, faz parte da banda «Conceito», formada por músicos universitários actuando na casa dos Antigos Estudantes de Coimbra e na residencial universitária vulgarmente conhecida por SELF.

Em 1972, Mucavele é visto a tocar com «Os Outros», tão somente a melhor banda de música ligeira de todos os tempos na cidade da Beira. Também tocou para a «Alta Tensão», outra banda de referência dos anos 70.

A partir de 1973, a carreira musical de José Mucavele parece eclipsar-se. É visto a leccionar a 4.ª Classe em Caniçado, Gaza, e depois, em 1974, a engajar-se nas fileiras da Frente de Libertação de Moçambique, para o que teve de fazer treinos militares em Nachingweya, na Tanzânia, juntamente com outros jovens de então como o até recentemente Ministro das Obras Públicas e Habitação, Felício Zacarias.

Só que não foram, nem o professorado, nem as armas que conseguiram sublimar a apetência de José Mucavele pelo campo cultural. Começa por integrar o grupo cénico das então FPLM, para depois, entre 1976 e 1977, na empresa Metochéria Agrícola, em Nampula, onde foi colocado como funcionário, desenvolver uma das suas maiores paixões: a pesquisa etno-cultural ligada à música.

Não nos custa por isso acreditar que é dessas pesquisas que emerge esta autêntica obra-prima de José Mucavele, do qual sobressai o Muthimba, o Tsope e o Tufu. E isto se mais não couber. Que o diga Felício Zacarias, que o ouviu o trmpete de José Mucavale, pela primeira vez, na Tanzânia.

José Mucavele retoma a carreira em 1978, nomeadamente com a sua participação no festival da juventude realizado em Cuba, e sobretudo com a sua integração no projecto que conduziria à criação do Grupo RM, onde actuava como trompetista. A circunstância pode ser aproveitada para breves considerações sobre o Grupo RM.

O projecto do Conjunto RM foi sem dúvida uma ideia interessante, principalmente por ter entretido pessoas e fixado canções até aí reduzidas à sua expressão meramente popular.

Não querendo elaborar muito à volta dessa matéria, manda porém a verdade dizer que quem acompanhou como nós o percurso histórico deste agrupamento da nossa estação, sabe o quanto a sua estrutura orgânica limitava, e muito, os horizontes e a criatividade dos inquietos músicos, entre os quais se conta, sem dúvida, o José Mucavele. Era o problema da constelação de estrelas, mas também, e sobretudo, do burocratismo e da compensação nivelada por baixo, os quais, como sabemos hoje tão bem, não são bons parceiros da cultura. Aliás, como toda a tentativa de dirigir a cultura, ou de fazê-la por decretos.

Dissemos que José Mucavele iniciou a sua carreira em 1969, um ano marcante para a canção internacional, ou seja, o ano do festival de Woodstock.

Sobre isso, e num dos programas com que evocámos os 40 anos desse acontecimento, Hortêncio Langa, outro músico de créditos firmados entre nós, defendeu que praticamente todos os músicos da sua geração, ele próprio incluído, foram fortemente influenciados pelo festival de Woodstock. E para sustentar a sua tese, avançou mesmo que José Mucavele, seu companheiro de percurso, terá adoptado a técnica de Richie Heavens na forma como toca a sua guitarra. Uma técnica que confudi até grandes compositores nossos conhecidos, como seja, o português Rui Veloso e o moçambicano Roberto Xitsondzo.

Apenas para recuperar o que então dissemos, Richie Heavens abriu o festival de Woodstock no lugar de Joe Cocker, por este ter apanhado uma tremenda pedrada na noite de véspera. Realinhou-se o programa, e lá teve Richie Heaven que subir ao palco.

Beneficiando ou não do impacto que deixam sempre aqueles que inauguram os grandes acontecimentos, a verdade é que Heavens electrizou literalmente a assistência e todos aqueles que o viram em filme rodado sobre Woodstock. Rui Veloso como que nos obrigou a ir à poeira do tempo, onde pudemos verificar que de facto fazia todo o sentido a sua afirmação.

De resto, José Mucavele e Rui Veloso são companheiros de uma já longa estrada, que terão provavelmente vivido as mesmas crises de identidade musical, o que lhes confere alguma autoridade na apreciação de um sobre o outro. O que a nós compete dizer sobre isso é que estranho seria se os bons não se inspirassem nos melhores! De resto, qual é o músico dos anos 60 e 70 que não foi beber do Woodstock?

Mais à frente veremos como José Mucavele teve as suas próprias opções a partir das matrizes musicais nacionais, aí se tornando, sim, o músico que todos conhecemos.

Influenciado ou não pelo festival de Woodstock, ou se quiserem por Richie Heavens, o mais importante é que José Mucavele veio a encontrar e a seguir o seu próprio caminho, como aliás o prova toda a sua obra.

Interessante também é saber o que pensa José Mucavele sobre a música de outros criadores de Moçambique.

Decorria o ano de 2009 quando num debate, não nos ocorrendo se na televisão ou na rádio, ouvimos José Mucavele dizer que para ele o maior músico de Moçambique de todos os tempos é Matchonguezy.

Tratando-se sem dúvida de uma afirmação discutível, a nossa opinião sobre ela é de que Mucavele terá sido igual a si próprio. Não fugiu um milímetro da sua forma peculiar de provocar uma polémica: fazer uma afirmação arrojada para deixar as pessoas estupefactas e obrigá-las a pensar. E tal como se esperava, a maior parte das pessoas não sabia quem era o tal Matchonguezy. O moderador incluído.

Na nossa opinião, e sem que nos arrisquemos tanto pela catalogação em excesso, Matchonguezy é, de facto, um ilustre desconhecido do meio musical moçambicano. E se nos é permitida uma comparação também algo arrojada, Matchonguezy estará para a música moçambicana, como Luís de Camões é para a literatura portuguesa. E até pelo percurso de vida de ambos. Morreu no anonimato e na quase indigência, deixando porém atrás de si uma obra de dimensões descomunais. À parte as comparações, julgamos que se impõe um estudo aturado à obra de Matchonguezy. E talvez concluamos o mesmo que concluiu José Mucavele.

Mas aonde pretende chegar o José Mucavele quando qualifica o Matchonguezy como o maior músico de sempre do nosso país? Na nossa modesta opinião, a afirmação de Mucavele não nasce do nada. Tem também por alvo a justificação do caminho que ele próprio resolveu trilhar: a música com tonalidade verdadeiramente moçambicana. Logo, o herói maior tinha de ser a sua nova candeia: Matchonguezy.

O presente texto, de autoria de Luís José Loforte, é uma adaptação do programa dedicado a Zé Mucavele, que dia 5 de Abril completou 60 anos e 41 de carreira.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Livro “Pátio das Sombras”: a promoção dos hábitos de leitura a partir de histórias moçambicanas

É lançado esta quinta-feira o livro “Pátio das Sombras”, uma obra que conta com textos do escritor Mia Couto e ilustrações do pintor Malangatana.

O acto do lançamento terá lugar no Instituto Camões, em Maputo, com a presença dos dois autores.

Esta obra inaugura a colecção “Contos e Histórias de Moçambique”, acção que está sob a responsabilidade da Escola Portuguesa de Moçambique, em parceria com uma fundação espanhola.

O projecto editorial e educativo, que visa a promoção de hábitos de leitura e da própria portuguesa, a partir das tradições moçambicanas, compreende a recolha de histórias da tradição oral de Moçambique e a sua recriação e ilustração por escritores e artistas plásticos até à sua publicação em livro.

Estes já estão a ser gratuitamente distribuídos por escolas moçambicanas para a sua exploração pedagógica pelos professores da disciplina de Português.

Estes, como prevê, o próprio projecto, também já começaram a receber formação adequada no âmbito da leitura e escrita a partir de histórias, que está a ser ministrada.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Instalação inusitada em Londres

A galeria Barbican em Londres apresenta uma instalação inusitada: trata-se de um aviário que usa guitarras e baixos no lugar de poleiros, fazendo com que o movimento dos pássaros ao pousar e voar produza notas musicais.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Vai ao Mundial de Futebol na RAS? Compre um colete prova de facadas por 50 euros

Para evitar que a festa do futebol se converta na festa do crime, a empresa britânica protektorvest pôs à venda coletes à prova de punhaladas, os quais recomenda a todos os que visitarem a África do Sul durante o Mundial de 2010.

Esta iniciativa pôs de novo sobre a mesa o debate sobre a segurança num país onde se cometem 50 assassinatos por dia.

O colete custa 50 euros e pode ser adquirido personalizado com a bandeira da sua equipa preferida ou com mensagens como “Free Hugs” (Abraços grátis) ou “Olé” (como se canta nos estádios de futebol).

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Foto sobre protestos no Irão é eleita melhor imagem de 2009

Esta imagem de mulheres a gritar em protesto contra o governo no telhado de um edfício de Teerão na noite de 24 de junho de 2009 foi eleita a melhor foto do ano passado pela World Press Photo nesta sexta-feira, 12. Registada pelo italiano Pietro Masturzo, a foto recebe um dos prêmios internacionais mais importantes do fotojornalismo.

Segundo o jurado Ayperi Karabuda Ecer, a "imagem mostra o início de algo, o início de uma grande história". "Dá perspectiva às notícias. Toca visual e emocionalmente", disse.

Na época em que a imagem foi registada, o Irão enfrentava uma crise interna devido aos protestos contra as eleições realizadas pouco antes, no dia 12, que a oposição diz terem sido fraudadas pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad. Durante esse período, os jornalistas internacionais estavam proibidos de cobrir os protestos da oposição e corriam o risco de ser presos pelas autoridades.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Malangatana Doutor Honoris Causa pela Universidade de Évora

"Juizo final", 1961
A Universidade de Évora atribui na passada quarta-feira, 10, o doutoramento honoris causa ao pintor moçambicano Malangatana, no ano em que se assinalam 50 anos da sua obra. Com a laudatio da responsabilidade de Marcelo Rebelo de Sousa, a cerimónia decorreu na Sala de Actos da instituição.

No dia do doutoramento, foi inaugurada a exposição «Malangatana - 50 Anos de Pintura», no Palácio D. Manuel, que tem como objectivo traçar uma retrospectiva da vasta obra de artista, representada em inúmeros museus e colecções privadas em todo o mundo. A mostra reúne 50 trabalhos produzidos de 1950 até aos dias de hoje, ilustrativos das suas diferentes fases. A exibição está patente até 28 de Março.

Malangatana Valente Ngwenya nasceu na vila de Matalana, província de Maputo, em 1936. Frequentou a Escola da Missão Suíça protestante, onde aprendeu a ler e a escrever em ronga. Após o encerramento desta instituição, transitou para a Escola da Missão Católica em Bulázi, onde conclui, em 1948, a terceira classe.

O seu pai era mineiro e passava longos períodos afastado da sua família. Por isso, Malangatana cresce muito ligado à sua mãe, de quem aprecia o desenho e as cores com que esta decorava cabaças ou bordava cintos de missangas. Mas esta educação não o afastou das raízes culturais: foi iniciado nos costumes ancestrais, aprendendo os elementos da medicina tradicional (nyamussoro) com a médica que tratou sua mãe, quando esta adoeceu.

Na sua aldeia, foi pastor de bovinos e aos 12 anos começou a trabalhar em Lourenço Marques, onde desempenhou diversas tarefas, como 'criado' de meninos, apanhador de bolas no clube de ténis e, mais tarde, como empregado de mesa. Posteriormente, teve o seu talento artístico reconhecido e foi, por isso, encorajado a estudar arte, tendo tido como mestre o Arquitecto Garizo do Carmo.

Pintor “engagé”

E, em 1959, as suas obras foram, pela primeira vez, expostas publicamente. Tornou-se artista profissional em 1960 graças ao apoio do arquitecto Miranda Guedes, que lhe cedeu a garagem para atelier e lhe adquiria dois quadros por mês, para que se pudesse manter. Mas foi em 1961 que organizou a sua primeira exposição individual, no Banco Nacional Ultramarino.

A sua actividade de pintor “engagé”, concomitante com a publicação de poemas no jornal “Orfeu Negro” e na “Antologia da Poesia Moderna Africana”, indiciaram-no como membro da Frelimo, o que o fez ser preso, conjuntamente com José Craveinha e Rui Nogar. Julgado em Tribunal Militar, é absolvido a 23 de Março de 1966, sendo de novo preso a 17 de Junho desse ano, sendo restituído à liberdade a 11 de Novembro. Data, dessa época, a notável colecção “Desenhos de Prisão”.

Obteve uma bolsa da Fundação Gulbenkian que lhe permitiu ainda estudar gravura e cerâmica. Conseguindo vencer a oposição da PIDE, trabalhou em gravura na “Gravura – Sociedade Cooperativa dos Gravadores Portugueses” e em cerâmica, na Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego.

Com a independência de Moçambique, Malangatana envolve-se directamente na actividade política (foi eleito deputado em 1990 nas listas da Frelimo; foi eleito em 1998 para a Assembleia Municipal de Maputo e reeleito em 2003), participa em acções de mobilização e alfabetização e, a partir de 1978, na organização das aldeias comunais na Província de Nampula. Foi um dos fundadores do “Movimento Moçambicano para a Paz”. Em 1984, integra os "Artistas do Mundo contra o Apartheid", expondo em diversas cidades da Europa. Tem colaborado intensamente com a UNICEF e durante alguns anos fez funcionar a escola de bairro dominical "Vamos Brincar".

Exposições colectivas e individuais

Desde 1959 que participa em exposições colectivas em várias partes do mundo e, a partir de 1961, realizou inúmeras exposições individuais em Moçambique e ainda na Alemanha, Áustria, Bulgária, Chile, Cuba, Estados Unidos, Espanha, Índia, Macau, Portugal e Turquia. Tem murais pintados ou gravados em cimento em vários pontos de Maputo (Mural do Museu de História Natural e Mural do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane, entre outros), assim como em outros países.

A sua obra, para além dos murais, sobressaiu ainda em Pintura, Desenho, Aguarela, Gravura, Cerâmica, Tapeçaria, Escultura e encontra-se em vários museus e galerias públicas, bem como em colecções privadas, espalhadas por inúmeras partes do Mundo. Terminou, recentemente, um baixo-relevo, em mármore, na cidade do Barreiro. Malangatana é, sem dúvida, o artista plástico mais famoso – no plano internacional – de Moçambique e um dos mais destacados da África Austral.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Cinema moçambicano: uma merecida homenagem a Camilo de Sousa

O cineasta Camilo de Sousa é o próximo homenageado no programa “Noite de Abraços”, numa apresentação a ser feita pelo cineasta e secretário-geral da Associação Moçambicana de Cineastas (AMOCINE), Gabriel Mondlane. O acto terá lugar esta quinta-feira, às 18.00 horas, no espaço do Sheik, onde irá se discorrer sobre vida e obras daquele que é um dos maiores cineastas moçambicanos.

Membro fundador e vice-presidente da Associação Moçambicana de Cineastas, criada em 2003, Camilo de Sousa nasceu em Lourenço Marques a 29 de Maio de 1953, onde fez os estudos secundários.

Em 1968, começou a interessar-se pela fotografia, trabalhando nas Artes Gráficas e, posteriormente, como repórter fotográfico e redactor do diário "O Jornal" publicado na então cidade de Lourenço Marques. Em 1972 refugiou-se na Bélgica, onde obteve o estatuto de refugiado político junto às Nações Unidas (UNHCR).

Em 1973 partiu para a Tanzânia e juntou-se à Frente de Libertação de Moçambique, participando na luta pela Independência de Moçambique.

Depois da proclamação da Independência Nacional em 1975, trabalhou em diversos projectos de carácter social e de comunicação na Província de Cabo Delgado, criando a primeira rede moçambicana de correspondentes populares de informação e levando o cinema móvel a todos os distritos e localidades desta província.

Em 1980, ingressou no Instituto Nacional de Cinema, onde trabalhou até 1991 como realizador, editor, director de produção, produtor e, finalmente, Director Geral de Produção.

Em 1992, com outros profissionais de cinema e comunicação, criou a primeira cooperativa independente de comunicação e produção de imagem, a Coopimagem.

Em 2001, associou-se à Ébano Multimédia, onde tem vindo a desenvolver a actividade de Produtor e Realizador. É membro fundador e vice-presidente da Associação Moçambicana de Cineastas, criada em 2003.

Ele conta com uma participação em centenas de produções cinematográficas, como produtor, director, realizador, primeiro assistente.

Nas produções cinematográficas que marcaram Moçambique, Camilo de Sousa tem a sua participação, onde, a título de exemplo, se pode citar a sua presença no filme “O Tempo dos Leopardos”, uma longa-metragem de ficção co-produzida por Moçambique e a Jugoslávia.

A sua marca está igualmente presente no filme “O Vento Sopra do Norte”, uma longa-metragem de ficção do cineasta José Cardoso.

A “Noite de Abraços” é um evento cultural que visa criar um espaço para a interacção directa e informal entre personalidades da cultura moçambicana e os seus admiradores, constituindo uma oportunidade para os fazedores culturais trocarem impressões com os seus colegas e admiradores, partilhando caminhos que levem ao desenvolvimento cultural.

Obra de Mia Couto será debatida num congresso na Bélgica


Um congresso internacional sobre a obra de Mia Couto vai decorrer na Antuérpia, Bélgica, de 23 a 25 de Março, organizado pelo Instituto Superior de Tradutores e Intérpretes da Bélgica com o apoio do Instituto Camões.

Comunicações de especialistas de diversas universidades da Europa e América serão apresentadas, incluindo da Universidade da Sorbone de Paris, da Universidade de Caen da Normandia (França), a Universidade de Bucareste (Roménia), Universidade de Utrech (Holanda), a Universidade Koln (Alemanha), Universidade Federal de Pernambuco (Brasil), Universidade de Berkeley (Inglaterra), bem como as universidades portuguesas de Viseu, Lisboa, Porto e Trás-os-Montes.

No final do primeiro dia, inteiramente dedicado à análise da obra do escritor moçambicano, será exibido o filme "Terra Sonâmbula" que venceu diversos prémios internacionais de cinema.

Mia Couto vai estar presente no colóquio.

A primeira do evento será dedicada à tradução da obra de Mia Couto. "Serão escolhidos dois livros entre a obra do autor e serão convidados alguns dos tradutores destes textos, para participarem em mesas redondas", segundo uma nota dos organizadores.

A segunda vertente "será centrada na análise da obra do autor". Nessa parte, pretende-se abordar especificamente os temas como o trabalho/o jogo com a linguagem na obra de Mia Couto, bem como o seu processo narrativo, a literatura e a constituição de uma identidade (linguística, cultural e/ou política) moçambicana e a tradução, a divulgação e a internacionalização da obra do escritor moçambicano.

Além das comunicações seleccionadas, estão também previstas palestras por Mia Couto, Ana Mafalda Leite e Alberto Carvalho.

Os organizadores lançam um apelo à apresentação de comunicações numa das áreas temáticas do colóquio, devendo a intenção de apresentar uma comunicação acompanhada de um título provisório ser apresentada até 1 de Novembro de 2009.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Moçambicanos em festa: o Ukanyi bebe-se a rodos

O fruto, Canhu, maduro, pronto para ser esprimido e o sumo fermentado
A árvore do Canhu, o canhueiro, carregada do fruto já maduro
Grupo de bebedores do canhu, com cabaças, algures no sul de Moçambique

As comunidades da região sul de Moçambique estão em festa, tudo porque se está na época de ukanyi, vinho tradicional produzido a partir da fermentação do suco do fruto do canhoeiro.

Nesta época do ano assiste-se diariamente e, em especial, aos fim-de-semana, uma procissão de citadinos para as zonas suburbanas, incluindo alguns distritos das províncias de Maputo e Gaza, com agenda única: o consumo de ukanyi, uma bebida bastante apreciada, sobretudo, pelo seu valor social.

Diga-se, em abono da verdade, é também o momento do verdadeiro turismo doméstico.

Para um conhecimento mais aprofundado do assunto, a seguir algumas notas extraidas de um estudo realizado pelo Instituto de Investigação Sócio-Cultural (ARPAC), intitulado “Ritual das Primícias de Ukanyi”.

Ukanyi é um tipo de vinho tradicional de baixo teor alcoólico bastante apreciado, não somente pelo valor sócio-cultural que encerram as sessões de consumo, mas também pela sua conotação afrodisíaca. De facto, ao longo de gerações, o ukanyi tem sido objecto de muitos debates com relação à sua conotação afrodisíaca. Algumas pessoas se esforçam em consumi-lo, supostamente para o aumento da sua virilidade. Outras especulam negativamente em relação as tais propriedades.

O facto é que até agora não há confirmação científica. As conotações afrodisíacas são do domínio de crenças, essas propriedades têm sido atribuídas somente a uma parte de ukanyi, nomeadamente o hongwe que é a parte densa da bebida que fica no fundo do recipiente.

Tradicionalmente o hongwe era servido aos jovens de ambos sexos, como forma de dota-los de capacidades para uma melhor actividade sexual.

O suposto efeito afrodisíaco de ukanyi tem levado à tomada de medidas cautelares, durante os convívios, com a separação e distanciamento dos locais de dejecção, por sexo. Por outro lado, tem-se assistido à exposição de cordas para serem usadas contra os que perturbam a ordem e tranquilidade da festa de ukanyi.

A FESTA DA FAMÍLIA

Nos tempos idos a frutificação, fabrico e posterior consumo de ukanyi marcava a transição do ano no seio das comunidades. Uma outra importância associada ao ukanyi está relacionada, por um lado, com o fortalecimento das relações sociais e, por outro, com a criação de novos laços de solidariedade. É durante a época de ukanyi que se registam com maior frequência visitas entre indivíduos pertencentes a uma mesma família, incluindo membros de diferentes comunidades.

Durante o ano muitos membros das famílias ficam dispersos, cada um nos seus afazeres, mas chegada a época de ukanyi, as pessoas concentram-se, aproximam-se para conviver e discutir vários assuntos ligados à sua vida e a da sua comunidade. É também nesta ocasião que se fazem novas amizades.

O ritual de ukanyi cria e fortifica as redes de solidariedade entre habitantes de diferentes ecossistemas, o que por sua vez se revela importante na resposta às crises provocadas por calamidades naturais, no âmbito da segurança alimentar ou ruptura de reservas de sementes para a agricultura.

No que se refere à dimensão espiritual, o ukanyi reveste-se de uma importância crucial na manutenção do equilíbrio social. A época de ukanyi é vista com a fase de maior aproximação das populações locais aos espíritos dos seus antepassados, para fazer preces de vária ordem, tendo como finalidade a busca de um equilíbrio cosmológico, o que levou a sacralização da bebida e transformou-a num produto de venda proibida.

Para as comunidades do sul de Moçambique, o fabrico de ukanyi tornou-se numa das actividades que acompanham alguns momentos da sua vida. Com efeito, o ukanyi é indispensável nos eventos sócio-culturais, quer no seio da família, quer das comunidades.

Nas celebrações relacionadas com ukanyi, o seu consumo segue algumas regras costumeiras, nomeadamente três rituais fundamentais (kuphahla ukanyi, xikuwha e kuhayeka mindzeko), ou seja, as fases de abertura, festa e encerramento, respectivamente.

Estes rituais condicionam, na visão comunitária, o sucesso de toda a época de ukanyi, pois, supõe-se que esta bebida também alimenta os antepassados.

Todas as comunidades, independentemente do contexto social, realizam acções de modo a atingirem certa finalidade, seja política, económica ou cultural. Grosso modo, os ritos praticados testemunham a grande necessidade que o Homem tem de estar em harmonia com o cosmos.

Do ponto de vista mais pragmático, o ritual consiste na operacionalização de uma crença ou mais crenças, trazendo à superfície determinadas normas, valores e tradições comunitárias.

É neste contexto que o consumo de algumas bebidas tradicionais no seio das comunidades toma em consideração uma conjugação de factores sócio-culturais inerentes a cada grupo social. O ukanyi não é excepção. O seu consumo observa alguns rituais e mitos transmitidos de geração em geração, na base da oralidade.

Com efeito, para se proceder com o consumo de ukanyi, existem algumas regras a serem respeitadas: é preciso que o chefe de cada comunidade comece, em presença dos seus súbditos, o kuluma (ritual da abertura da época e o seu sentido ritual é tirar por certas cerimónias o carácter nocivo de um certo alimento) e só depois é que estes podem beber livremente nas suas povoações.

Tal acontece até hoje, o consumo liberalizado de ukanyi é antecedido por um ritual de abertura, conduzido por líderes comunitários, onde são evocados os espíritos dos antepassados. Este ritual é designado, de forma genérica por Kuphaha ukanyi.

IMPORTÂNCIA DO CANHOEIRO

O canhoeiro possui uma grande importância para as comunidades. Nalgumas, reveste-se de valores associados à sacralidade, noutras a aspectos políticos utilitários. Estas qualidades, por um lado, tornam esta árvore mítica e especial, no contexto da preservação cultural e, por outro lado, inserem-na na vivência política e quotidiana das comunidades.

A respeito da sacralidade, esta surge como uma tentativa de interpretação do mundo e, sobretudo de busca de tranquilidade espiritual. Trata-se de um fenómeno antigo, adoptado numa primeira fase para o estabelecimento de uma feliz convivência entre o mundo animal e o humano e depois, como uma resposta às dinâmicas societárias.

Com efeito, o canhoeiro acabou fazendo parte da cosmovisão e do modus vivendi das comunidades da África Austral, em geral, e de Moçambique, em particular.

Em suma, embora não seja de carácter obrigatório, variando de comunidade para comunidade, o canhoeiro é usado para as cerimónias de veneração ou evocação de espíritos dos antepassados (localmente, ou melhor, na região sul do país, apelidados por “gandzelo”).

No concernente aos aspectos políticos, o canhoeiro está associado a aspectos como a lealdade às tradições e o respeito aos símbolos comunitários. É neste contexto, que se estabelece a relação entre o canhoeiro e os aspectos políticos, pois, no seio das comunidades, esta árvore simboliza o poder do chefe tradicional.

O canhoeiro é das árvores que os líderes comunitários e seus súbditos se sentam à sua sombra, discutem e resolvem os vários problemas que afectam a comunidade.

Os frutos do canhoeiro em Moçambique caem somente de Janeiro a Março. Nas suas múltiplas utilidades figura também o processamento e fabrico de jam de fruta, doces variados, vinagre e xarope anti-tússico. Entretanto, as comunidades usam mais para o fabrico de sumo.

Refere-se igualmente, que na província da Zambézia, centro do país, os frutos do canhoeiro são colocados ao redor das machambas para afugentar algumas pragas, especialmente os ratos.

APLICAÇÃO MEDICINAL

No âmbito da medicina tradicional, as aplicações do canhoeiro se inserem no domínio do conhecimento tradicional ou local.

As comunidades usam a casca interna para o tratamento da malária, tosse, aftas, hemorróides, bem como no alívio às picadas de escorpiões e cobras. A raiz é usada como antidiarreico. As folhas são fervidas, produzindo-se um chá, usado no tratamento de má-digestão e na cura de dores de ouvido.

A casca do tronco é usada para variados fins medicinais.

TIMONGO

A semente do canhoeiro, localmente designado por “fula” é usada, após o processo do fabrico do sumo (ukanyi) para extrair a amêndoa (timongo) que as comunidades usam como tempero na confecção de diversos alimentos.

A amêndoa, melhor o timongo, é também iguaria, servida para acompanhar o consumo de bebidas alcoólicas ou ara servir a pessoas de importância especial, como o chefe da família, o filho ou o neto mais amado.

O consumo do timongo é um indicador social da posição hierárquica reservada à alguém e, em geral, de admiração ou respeito no quadro das relações de parentesco. Assim, o consumo do timongo permite evidenciar o status social do individuo, distinguindo-o dos demais.

CANÇÕES TÍPICAS: CANÇÃO I

He masseve kundjani
Swakala leswi unga ni mahela swona
He masseve kundjani
Swakala leswi unga ni mahela swona

(Explicação do sentido em português

Minha/meu comadre/compadre
É muito raro o que me proporcionaste)

Hoyo hoyo masseve
Axirwala xa ukanyi xikala ngopfu masseve
Hinga tsama hindau nita kurungulisa

(Explicação do sentido em português
Bem-vindo compadre
Uma oferenda de ukanyi não se ganha todos os dias
Por issso, seja bem-vindo compadre
Sente-se aqui deste lado para saber da vossa saúde)

UMA DAS CANÇÕES QUE SE REFEREM AO EFEITO AFRODISÍACO DO HONGWE

Bava Matavele
Hi nga hi lavela mathando loko litxona
Há hela hi hongwe
Hahela hi hongwé loko litxona
Hahela hi hongwe
Gwelani Matavele a hilavela mathand loko litxona

(Tradução em português)

Senhor Matavela!
Pedimos para nos arranjar companheiros
Porque não suportamos tanta excitação por causa da escória do canhú.

Nanando: a música moçambicana perdeu mais um dos melhores executantes

Morreu na noite de terça-feira (2), vítima de doença, o conceituado guitarrista moçambicano Nanando. Luís Henrique Wilson, de seu nome completo, perdeu a vida no Instituto do Coração, em Maputo, onde se encontrava internado desde quinta-feira, data em que deu entrada queixando-se de fortes dores de cabeça.

Entretanto, os restos mortais de Nanando vão hoje(4) a enterrar, observando-se antes uma missa de corpo presente às 11.30 horas na sede da Associação dos Músicos Moçambicanos e o funeral será as 14.00 horas, no Cemitério da Lhanguene, na cidade de Maputo.

Os médicos diagnosticaram-lhe uma doença grave, entretanto não revelada. Sabe-se, porém, que na noite de terça-feira Nanando teve uma paragem cardíaca e que os médicos ainda tentaram reanimá-lo, mas debalde, acabando por sucumbir à doença.

Duas semanas antes de dar entrada no hospital o guitarrista perdera uma das suas filhas, de nome Luisinha, mas os médicos avançam que a morte da filha pouco ou nada tem a ver com a deterioração do seu estado saúde que acabaria lhe retirando a vida.

Excelente executante de afro-jazz, Nanando fez da marrabenta a sua bandeira artística, tendo integrado bandas como Hokolokwè e Franze Bappa.

Chegou a fazer parte do agrupamento Ghorwane, para além de ter trabalhado muitos anos na África do Sul e na Suazilândia. Depois da desintegração de Hokolokwè, Nanando fundou, com outros elementos, a banda Ngalanga. Mais recentemente Nanando trabalhava num projecto musical que leva o seu nome: Nanando Project. Realizou igualmente vários concertos musicais, sendo que num dos quais contou com a participação do agrupamento Majescoral.

Nascido no Bairro de Chamanculo, cidade de Maputo, a 1 de Abril de 1960, onde aprendeu a dar os seus primeiros toques na guitarra, muito inspirado por Jaimito Mahlatine, Nanando é considerado professor de guitarra de Jimmy Dludlu, em virtude de ter sido ele que lhe iniciou nesta área. Faz parte de uma geração de artistas de ouro do nosso país, tendo sido uma das faces mais visíveis dos concertos que os músicos moçambicanos realizam nas casas de pasto, onde a música de fusão é o prato mais forte.

Nanando conseguiu igualmente fazer a fusão do estilo tradicional ximandje-mandje com o jazz e a marrabenta.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Beyoncé faz história no Grammy e leva seis prêmios

Beyoncé marcou um novo recorde na premiação do Grammy na noite do domingo, 31. A cantora americana ganhou seis estatuetas numa única noite, inclusive a de melhor canção do ano com a música "Single Ladies", e com este feito é a mulher que mais foi premiada numa única edição. Mas o principal prêmio da noite, o de melhor álbum, foi para Taylor Swift pelo trabalho 'Fearless'.

Aos 28 anos, Beyoncé chegou como favorita com dez indicações e viveu a sua grande noite na premiação da 52.ª edição do Grammy, considerado o Oscar da música americana. Venceu, além de melhor canção, como melhor performance de cantora feminina de R&B, com "Single Ladies (Put a Ring On It)", melhor performance cantora tradicional de R&B, com "At Last", melhor música de R&B, também por "Single Ladies (Put a Ring On It)", e melhor álbum de R&B contemporâneo, por "I Am… Sasha Fierse".

A rainha da festa apresentou o seu número musical logo no início da cerimônia, pouco depois da abertura feita dos performáticos Elton John de óculos prateados e Lady Gaga, ambos com os rostos sujos de tinta, cantaram e tocaram juntos com um piano de frente para o outro um dos maiores hits do cantor e compositor, Your Song. Os pontos altos dos shows foram de Beyoncé e de The Black Eyed Peas, com sua "I Gotta a Feeling', em noite repleta de apresentações.

"Muito obrigado. Esta foi uma noite incrível para mim", declarou a cantora, que aproveitou para agradecer a todos os fãs pelo apoio que ela recebeu durante o último ano.

A jovem de 20 anos, Taylor Swift, que vem se destacando no cenário country, surpreendeu a plateia ao levar o prêmio de Melhor Álbum, desbancando as divas Beyoncé e Lady Gaga e disputando ainda com pesos pesados The Black Eyed Peas e Dave Matthews band. A cantora levou também os troféus de melhor interpretação vocal feminina e melhor canção com "White Horse", todos na modalidade de música country.

Nos seus discursos de agradecimento Taylor lembrou que no colégio as amigas diziam que ainda a veriam no Grammy e nesta noite ela realizava o que considerava "seu sonho impossível". Dedicou ainda o prêmio ao pai "por sempre ter dito que eu poderia fazer tudo o que quisesse. Essa história eu contarei para os meus netos. Muito obrigada", disse Taylor Swift ao receber o prêmio.

Já Lady Gaga, que vem sendo chamada de a nova Madonna, e conquistado legião de fãs levou apenas os prêmios de Melhor Gravação de Dance por "Poker Face' e Melhor Álbum de Dance/Eletrônica, com 'The Fame'.

Durante a premiação, um dos momentos mais emotivos da cerimônia foi o tributo especial a Michael Jackson, com imagens em 3D de parte da turnê que o cantor faria antes de morrer em junho do ano passado. Aplaudidos pela platéia em pé, os seus filhos mais velhos, Prince e París, receberam um troféu em homenagem à trajectória do cantor.

Prince disse que eles tinham orgulho de estar ali a representar o seu pai, Michael Jackson. Emocionou-se ao agradecer a Deus por cuidar deles e aos avós pelo apoio nos últimos sete meses. "Também gostaríamos de agradecer aos fãs, a quem nosso o pai amava demais. O nosso pai sempre se preocupou com o planeta e a humanidade e ajudava os outros. Em todas as suas músicas a mensagem era simples: amor. Continuaremos a divulgar a sua mensagem e a ajudar as pessoas", concluiu Prince. "Era para o meu pai estar aqui hoje, ele ia se apresentar este ano". Ambos se despediram com um "obrigado, amamos-te pai".

Confira a lista dos principais vencedores

* Álbum do Ano
'Fearless' - Taylor Swift
* Música do Ano
'Single Ladies (Put A Ring On It)' - Beyoncé
* Gravação do Ano
'Use Somebody' - Kings Of Leon
* Revelação - 
Zac Brown Band

Categorias Pop

* Melhor Cantora (performances solos) 
Beyoncé - "Halo"
* Melhor Cantor (performances solos)
 Jason Mraz - "Make It Mine"
* Melhor Performance em dueto ou grupo
The Black Eyed Peas - "I Gotta Feeling"
* Melhor Colaboração Pop com vocais
Jason Mraz e Colbie Caillat - "Lucky"
* Melhor Performance Pop Instrumental
 Béla Felck - "Throw Down Your Heart"
* Melhor Álbum Pop Instrumental 
"Potato Hole" - Booker T. Jones
* Melhor Álbum Pop Vocal
"The E.N.D." - The Black Eyed Peas

Categoria Rock

* Melhor Performance Solo 
Bruce Springsteen - "Working On A Dream"
* Melhor Performance em dueto ou grupo
Kings of Leon - "Use Somebody"
* Melhor Hard Rock Performance
AC/DC - "War Machine"
* Melhor Performance Metal
Judas Priest - "Dissident Aggressor"
* Melhor Música Rock
"Use Somebody" - Kings Of Leon
* Melhor Álbum Rock
"21st Century Breakdown" - Green Day

sábado, 23 de janeiro de 2010

Fio da Memória: a Rádio Moçambique vai lembrar Leite de Vasconcelos, um dos fundadodores deste programa há 20 anos

(LVasconcelos e António Fonseca (fundadores) e João de Sousa (realizador)

Leite de Vasconcelos deixou-nos há 33 anos. Foi a 29 de Janeiro de 1997. Um telefonema vindo dum hospital de Joanesburgo transportava a triste notícia do seu desaparecimento fisico, daquele que foi o primeiro responsável pela realização do programa “Fio da Memória” de parceria com Carlos Silva, na altura em que António Alves da Fonseca era Director Comercial desta Rádio.

Um programa da RM que completou os seus 20 anos de existência em Outubro de 2009.

O “Fio da Memória”, na sua edição do dia 24, domingo, não podia deixar de lembrar esse facto naquilo que é, no dizer de um dos seus realizadores, a “nossa singela homenagem ao homem e ao profissional. Homem de rádio e televisão. Jornalista e poeta”.

Serão transmitidos extractos da última entrevista que ele concedeu, e onde Leite de Vasconcelos, entre outras coisas, refere-se às suas vivências musicais. Às canções que tocou na Rádio, mas especialmente às canções que o regime da época não deixou que ele tocasse. Nessa entrevista, a ser reposto este domingo (24), ele recorda-nos que a sua paixão pela rádio, começou muito fora dos Estúdios.

O “Fio da Memória” é produzido por João de Sousa e Carlos Silva. É transmitido aos domingos na Antena Nacional a partir das 09.05 horas e pode ser escutado na Internet em "http://www.rm.co.mz".

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Tete: O Kudeca saiu de cena. Actores 5 estrelas sobem ao palco

O emblemático “Cine Esplanada Kudeca”, sala de cinema ao ar livre da cidade de Tete, erguida em meados da década 70, está a ser destruido para, no seu lugar, ser erguido um hotel 5 estrelas, propriedade do Grupo Hotel Vip.

O “Kudeca”, cujas obras de construção iniciaram depois do 25 de Abril de 1974, resultado de uma réplica de um estabelecimento idêntico localizado em Luanda, a capital angolana, foi concluído e inaugurado no dia 25 de Junho de 1975, dia da independência de Moçambique.

Isaías Marrão, um dos sócios-administradores de “Kudeca”, disse que o objectivo para o qual foi erguido foi ofuscado, tal como aconteceu com outras salas de cinema pelo país fora, pela “invasão” e massificação da televisão em Moçambique. As tentativas para contornar o problema, através da exibição de eventos culturais, não conseguiram inverter a fuga de espectadores.

A história do “Kudeca”

“A ideia da construção de Kudeca, não foi minha, mas sim da Moçambique Filmes, pertença de um empresário ligado ao Vaticano e que tinha casas de cinemas em Angola e em Moçambique. Nos meados da década 70 lembrou-se então de fazer em Tete o “Kudeca”, igual a um outro construído na capital angolana. Convidou várias personalidades de Tete incluindo a mim, para idealizar o projecto e foi assim que o construímos, no tempo recorde de cerca de um ano. No dia 25 de Junho de 1975 inauguramos o recinto”, disse Isaías Marrão.

Em 1978, o “Cine Esplanada Kudeca” foi, tal como outras salas de cinema, nacionalizado pelo Governo, o que fez com que a sociedade “Kudeca” quase sumisse, vendendo as suas acções a Marrão.

“Foi assim que o Instituto Nacional de Cinema na altura representando o Governo, enviou dois indivíduos a Tete que chegaram a minha casa e me pediram as chaves do cinema e os entreguei. Foi desta maneira que tomaram conta do cinema. Mas porque a direcção toda do Kudeca ainda se encontrava coesa e constituída por moçambicanos, indagamos pelo procedimento, trocando correspondências com o governo provincial e central numa autentica guerra que levou cerca de 14 anos”, explicou Isaías Marrão, um dos sócios administradores do então “Cine Esplanada Kudeca”.

O que agora deixará de ser “Kudeca” está situado num terreno paisagisticamente privilegiado, donde se pode observar o nascer do sol, reflectido sobre as aguas do rio Zambeze e a Ponte Samora Machel.

As cercas de 720 cadeiras de madeira valiosa foram oferecidas ao Conselho Municipal da Cidade de Tete.