RÁDIO MOÇAMBIQUE

RÁDIO MOÇAMBIQUE
CLICA NA IMAGEM. NOTÍCIAS ACTUAIS DO PAÍS

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Pemba: impressões após nove anos de ausência


Mar e Sol e Múmbula, são dois locais aprazíveis para retemperar as forças, seja conversando com amigos, a ler, a tomar umas “2M” bem geladas, seja para “lavar” a vista apreciando belissímas esculturas humanas que desfilam numa passarela de areia fina e branca da praia e... mergulhar nas aguas de um verde-azulado claro do oceano índico.
O Mar e Sol encontra-se no Wimbe. É tão ou mais velhinho do que eu. Nos anos passados não passava de um pequeno bar onde mais se bebia do que degustar uma boa iguaria. Passou por muitas mãos. Hoje é explorado e bem pelo conhecido casal Renato Chambarlain e Eugénia Gaspar. Que o redimensionou aproveitando os espaços que o circundam e acrescentando-lhe um ou dois parrôs. E uma vedação que não “ofende” a praia.
Como sempre o Mar e Sol é ponto incontornável de encontro, da cavaqueira e das “novidades” da terra, onde tive a oportunidade de “tachar” uns bons pratos de peixe pedra e lula grelhada e rever velhas amizades que há muito não via.
Lá se juntam aos domingos para além do casal Renato e Eugénia e os seus filhos, o João Mário e o Nanato, como também o Maíto e a Olga, o Nuro Americano e o Marabuto e o Abulatifo, os incorrigíveis Chico Rezende e Jorge “Zimbabwé” Carapito e o Faruk ... e os rebentos de velhos amigos já desaparecidos feitos candidatos a nossos sucessores (no copo e na ramboiada) e ... tanta malta de que se esqueceu os nomes porque durante anos se espalhou por aí ... vida a quantas obrigas...
O Mumbula: é um quiosque que funciona há menos de um mês. Vizinho do velho/renovado Hospital Provincial e da Pensão Transmontano (hoje loja das TDM). Foi construído nos espaços do Jardim Dona Amélia. Defronte da Igreja São Paulo. A ideia da sua edificação no local foi do Maíto (Mário Gaspar) e da Olga sua esposa. Com a preciosa ajuda do Issa Tarmamade na batalha de ultrapassar as dificuldades impostas por aqueles que “não fazem e nem deixam fazer”.
Com o Mumbula o jardim Dona Amélia ganhou vida e cor após anos a fio ao abandono e local de pastagem da cabritada. Nas cadeiras e mesas de plástico espalhadas entre as árvores pode-se bebericar um saboroso refrigerante, tomar uma bica, enquanto a criançada, sempre alegre e barulhenta, por ali baloiça e saltita. Por uma questão de respeito para com os crentes que frequentam a Igreja São Paulo não estão disponíveis bebidas alcoolicas, sobretudo cerveja, embora um bom apreciador de café tenha à sua disposição uma boa bagaceira ou um inconfundível 1920 para o indispensável “cheirinho”. Aqui juntam, nas noites de luar e do calor inclemente de Pemba, os pais e avôs levam os filhos netos.
Para o Jorge “Zimbabwe” Carapito a ideia do Maíto “peca” por o Mumbulá atrair os alunos do colégio que funciona nas traseiras da Igreja. O aproveitamento pedagógico dos jovens alunos não ultrapassa os 10%. Simplesmente porque eles não pensam noutra coisa senão nos intervalos entre as aulas. Deu o toque e a meninada instala-se barulhenta no Quiosque e com os trocados surripiados aos pais lá adquirem um sumo e um biscoito. Calculo a bagunça que por ali vai acontecer quando se instalar a máquina dos sorvetes.
Esquecia-me: a simpatia da Vanessa, filha do Maíto, dá outra beleza ao Mumbulá, transportando-nos para os antigamentes da nossa juventude nas farras em casa do Maíto, do Toné, dos Rosários ... na Cumilamba.(X)

Mecufi: impressões após nove anos de ausência


A erosão, é verdade, é um cancro maligno que dilacera impiedosamente o distrito costeiro de Mecufi. Há anos. Antes mesmo da independência nacional.
O fenómeno abate-se com maior inclemência sobre a praia e as várias tentativas para aplacá-lo de nada serviram. Os estudos científicos para a correcção da acção do oceano e do homem não passam disso mesmo. Muitos mas engavetados.
Desapareceram da praia a prancha para o mergulho. Os parrôs implantados nas frondosas causuarinas nem sequer deixaram marcas. Do balneário só restam o entulho em forma de pedra. As raízes desventradas dos coqueiros são como que a prova de que ali se bebericava whisky com agua de lanho.
O barquito “pilotado” pelo velho Jenguesse já lá não está... para meu desgosto, uma vez que, para além da travessia (paga) para Kambala, com ele “navegavamos” entre os inúmeros canais e mangais até “aportar” em Muária, aldeia construída já depois da independência nacional.
O bar do Herculano Faria está numa lástima à espera que um diferendo qualquer, inexplicável, seja sanado. Ali perto funciona uma cabana feita com macuti
Reduzido devido à invasão das aguas do mar o terreno que utilizavamos para acampanar com tendas feitas de macuti e bambu, simplesmente já não existe.

Pemba: impressões após nove anos de ausência


Prato da Baía”. Nome de uma barraca de comes e bebes. Construída com material local, está situada na que hoje chamam avenida 16 de junho, no meio entre o fim da estrada alcatroada e o que foi quartel dos fuzileiros navais portuguses.
A especialidade são os pratos tradionais, como o tocossado, acompanhado pela incontornável muatranca e o kitore (arroz e feijão nhemba moído) que podem ser servidos na sala de todos ou no quintal, debaixo da mangueira.
A casa, constituída por uma meia dúzia de beldades locais e por um “puto” de porte boxeur para desencorajar os atrevidos, é administrada pela Dona Abiba.
Recomendo a casa a todos quantos se orgulham de ser “bons garfos”, assim como mo recomendaram a mim, às médicas Benedita e Gisela, às duas Julietas (Dimande, minha companheira, e Mussanhane, minha colega), bem como ao Fernando Canana, muito patusco Delegado da RM.
Aviso: para um bom servicinho, à maneira, recomenda-se encomenda antecipadissíma. Contacto - Dona Abiba (82 724 9 722).

Mecufi: impressões após nove anos de ausência


Para Mecufi ia para as férias escolares. Ficava alojado nos aposentos da maternidade local, onde a minha progenitora, Cristina, labutava e residia como parteira.
O quarto, minuscúlo, era meias-portas com a sala de partos e enfermaria para as parturientes. Testemunhei o “vir ao mundo” de muita criança, quar através dos “berros” das mães contorcendo-se com as dores de parto, quer com o som das pancadas nas nádegas das parturientes que a minha “velha” ferrava nelas, utilizando para tal uma ripa dos barris de vinho, para força-las a trazer para a vida o ser que se encontrava alojado no ventre.
Nas traseiras desta “primeira casa” de muitos, a velha Cristina, tinha um curral com mais de uma centena de cabritos sob a guarda de um macambúzio tão “panhonha” quanto àqueles animais.
Para suprir as necessidades em carnes para as farras na Cumilamba muitos daqueles caprinos foram por mim “roubados”, fazendo-me transportar numa velha Canter posta à disposição pelas “cozinheiras” Line Gaspar e Lena do Rosário para o servicinho. Elas estavam ao corrente do meu “ilícito”. Não estarei enganado se disser que entre dez e quinze cabritos “desapareceram” do curral de Mecufi directamente para as panelas das cozinhas da Cumilamba. A velha, quando se dava conta do “roubo” ia aos correios da administração de Mecufi, berrava comigo pelo telefone à manivela que ali funcionava.
A mangueira que se vê na imagem proporcionava uma fresca sombra para os almoços do fim de semana, onde, para além do guisado de cabrito, empaturravamo-nos de carne estufada de javali que o Chiquito Gonzaga, uma vez por semana, caçava nas languas à entrada de Mecufi e distribuía pelos poucos funcionários públicos: Administrador e Administrador-Adjunto, Escriturário e Mecânico, Enfermeiro e Parteira e o Professor.
Nesta mangueira, recordo-me, almoçaram e saborearam o famoso “mutchekele” (sumo de cajú fermentado) duas eminentes personalidades do judiciário nacional: Os Doutores Mário Mangaze, Presidente do TS e Sinai Nhatitima, Juíz-Conselheiro do TAdministrativo. Para além de outros amigos e colegas, como seja o Camilo de Sousa (cineasta), o Luís Alvarinho (já falecido), o Albano Mendes Narroromele (advogado) e o Renato Carrilho (Gunassi).

Mecufi: impressões após nove anos de ausência


A vila de Mecufi, 50 kilometros a sul de Pemba, foi iluminada durante vários anos por um gerador eléctrico a diesel, propriedade da administração. Os gastos no combustível eram tão elevados que a iluminação pública e nas residências dos funcionários e algumas poucas lojas era providenciada apenas entre as 18 e as 22 horas ou, aos fins de semana, até à meia noite.
Hoje, Mecufi, está ligada à Rede Nacional de Energia, possuindo uma pequena substação exactamente no local onde funcionava a velha central eléctrica.
No dia da inauguração do novo e moderno sistema escrevi a crónica que se pode ler a seguir. Foi transmitida no jornal sonoro da Rádio Moçambique.

"A minha crónica tem este título: “Aquinthuna Wonna Athu Elhaka Enhonda”, que, traduzido de Macua para português, significa qualquer coisa como “Não quero ver ninguém a comer apenas peixe seco”.
Ora vejamos: Num mundo em que há muito pouca coisa para nos alegrar e tanta tristeja para infernar ainda mais as nossas vidas, não é todos os dias que nos sentimos realmente satisfeitos e, por momentos, gozamos de alguma leveza de espírito interior, qual pássaro a rasgar o céu, como dono e senhor.
Hoje, 22, caro leitor, levantei-me do meu catre bem disposto: comigo mesmo, com os vizinhos, com o meu cão-guarda, com a irritante vendedeira de hortaliça, enfim, bem disposto com tudo e todos.
A boa disposição foi-me transmitida pelo meu colega e amigo, Óscar Limbombo de seu nome, a partir de uma pacata vila, situada a cinquenta quilómetros a sul da cidade de Pemba.
Óscar Limbombo, esse malabarista que mesmo sem uma antena das telefonia móvel ou fixa, lá conseguiu “despachar” para o Jornal da Manhã da Rádio Moçambique, uma notícia tão simples mas ao mesmo tempo tão gratificante como esta: o velho gerador de energia eléctrica de Mecufi passava a partir de hoje à reforma. Em seu lugar as gentes de aldeias como Muária, Sassalane, Nthakane, e se calhar, de Kambala, passam a ser iluminadas pela corrente eléctrica da nossa Hidroeléctrica de Cahora Bassa. Que Mecufi, enfim, entrava a partir de hoje, numa nova era do seu desenvolvimento. Quer dizer: os produtos marinhos, como peixe, camarão, lagosta, Mbare, capturados nas aguas do índico, já não iriam ser apenas fumados ou postos a secar por falta de meios frios, que agora se poderá pô-los a congelar e, assim, enviá-los para outros pontos da província e resto do país, para a sua comercialização. Aqui está o sentido do título desta minha crónica.
O Limbombo, como só ele, não se esqueceu de registar a voz de uma beldade que, tão inocentemente, sintetizou a alegria das gentes de Mecufi: “Agora vamos comprar geleiras e congeladores para pormos o nosso peixe”. Aí está o que é uma conquista que, aos olhos de gente que vive nas cidades, é tão corriqueira tanto quanto o ar que respiramos.
Uma conquista que me deixou bastante bem disposto, mas ao mesmo tempo com uma pontinha de tristeza. Porquê?, perguntar-se-á o leitor.
É o seguinte: quando ainda adolescente, e vivendo eu em Mecufi com irmãos e amigos: Roque, Luís, Adolfo, Sidónio, Germano, Quim e Melita Russo de Sá, a Cleid e o Meco, o gerador de energia que hoje vai a reforma, iluminou as nossas casas e permitia que, entre as 18 e as 22 horas, pudessemos ler e ouvir música e dançar. Não passavamos daquele limite, o combustível mesmo nessa altura (1970/73) já era ... caro.
O bonacheirão do Manuel, então encarregado de ligar e desligar este gerador que hoje vai a reforma em Mecufi, de quando em vez, lá adormecia e esquecia-se que estava na central eléctrica, o que nos valia mais uma ou duas horas de corrente eléctrica para nos divertirmos. Assim acontecia porque lhe corrompiamos com uma garrafinha de “Mwaken Mwalo”(*) da primeira. E uns "Mata Ratos" Kwekwero.
Não queria terminar esta minha crónica sem homenagear dois homens que marcaram de certa forma a infância de muitos das gentes de Mecufi. São eles, Genkwesse (barqueiro) e Chiquito (mecânico), zelesos funcionários da Administração desta vila que hoje, teve em Armando Guebuza não o Manuel da antiga Central Eléctrica, mas o accionador da energia eléctrica de Cabora Bassa rumo ao desenvolvimento de Mecufi, de Cabo Delgado, enfim desta Pérola do Índico. Akinathiwona, pá..., ou seja, “só visto...”."

(*) Mwaken Mwalo: "Arranca-lhe a faca" em ximácua

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Pemba: impressões após nove anos de ausência




15/26 de outúbro: período da minha estada na cidade de Pemba, após nove anos de uma ausência involuntária. A curiosidade era tanta, alimentada pelas informações que, regularmente, me eram fornecidas por amigos e familiares que lá vivem ou que para lá se deslocavam: que a cidade cresceu muito; que o turismo imprimiu à urbe outros hábitos de vida; que as caras eram outras uma vez que as conhecidas, com o decorrer dos anos e na pior das hipóteses, desapareceram para sempre ou que imigraram para outras paragens.
A minha principal curiosidade, tal como muitos outros que conheceram Pemba noutros tempos, estava centrada no famoso Pemba Beach Hotel e nas transformações porque passara a praia do Wimbe. Enfim, queria testemunhar pessoalmente a “metamorfose” que se abateu sobre uma cidade e suas gentes que, confesso-o, exerceram uma grande influência sobre a minha pessoa. O que hoje sou (ou grande parte) foi moldado na capital da província de Cabo Delgado. Por isso mesmo posso me reservar o direito de pertencer de corpo e alma àquela (ainda) bonita cidade.

Pemba: impressões após nove anos de ausência




O Hotel Cabo Delgado, cuja construção e funcionamento acompenhei de perto (foi inaugurado em 1970), os prédios habitacionais como o do Cunha Alegre (onde vivi durante alguns anos), da ex-Manuntenção Militar, do Bispo (7 andares) e da Deta (Lam), só para citar alguns exemplos, terão servido para aquilatar o quão Pemba se transformou.
Confesso que não fiquei lá muito surpreendido com o que vi uma vez que, em comparação com o que nove anos tinha constatado, o estado de degradação permaneceu o mesmo, com a diferença de que, a zona alberga agora instituições que anteriormente não existiam.
Fiquei profundamente desolado, isso sim, foi com a transformação de dois importantes locais de lazer em barracas de comes e bebes (de prostituição também), de pequeno comércio e outros serviços. Estou a referir-me ao Clube Desportivo e ao Parque Infantil.
Julgo que os gestores da cidade cometeram um erro para o qual terão, no futuro, grandes dificuldades para corrígi-lo.
A cidade de Pemba perdeu duas importantes infra-estruturas que tiveram – e que poderiam continuar a ter – grande importancia na educação e formação da sua juventude: O Desportivo e o terreno adjacente, que serviu para a realização de bailes e outros convívios salutares e também para a prática de modalidades como o Futebol de Salão e o Basquetbol, está hoje entulhado de barracas onde imperam o vício e a má conduta; de venda de quinquilharias e electrodomésticos da mais baixa qualidade e, dizem, pessoas provenientes de outras latitudes mais a norte do país, a coberto do pequeno comércio, escondem actividades ilícitas como o tráfico de drogas.
Incompreensível para mim foi como foi possível a edilidade ter autorizado a transformação do pequeno zoo e da pequena biblioteca em instalação para a revelação de fotografias; como se deixou em estado de completo abandono o mini-cinema. Acrescento a este rol de apectos negativos, a transformação da Pastelaria “Triunfo” num estabelecimento de venda de ferragens. É uma aberração.
O intenso movimento que se regista nesta zona central da cidade de Pemba, longe de significar o desenvolvimento e consequente melhoria da vida da população, apenas reproduz fielmente o “modus vivendi” de outras urbes africanas: milhares e milhares de pessoas que deambulam de um lado para outro sem nenhuma ocupação e, pior, sem nenhuma perspectiva para o seu futuro. São jovens aos magotes que se movimentam sem elas próprias saberem para quê e para onde, vivendo o imediato de uns trocados que lhes satisfaz fugazmente as necessidades básicas, para no fim e num ciclo vicioso, regressarem à casa – se é que a tem – sem terem feito absolutamente nada para as suas vidas.

Pemba: impressões após nove anos de ausência




No decurso da minha estada na cidade de Pemba fiquei hospedado na casa do meu amigo Faruk Jamal, implantada mesmo à beira da praia da Maringanha, uns kilometros depois da emblemática praia do Wimbe.
Aqui, para além de ter desfrutado de condições principescas e de um acolhimento de irmandade dispensados pelo Faruk e sua companheira Shakila, passei alguns dias de absoluta calma, algo que há muito não experimentava.
A tranquilidade, o silêncio “rasgado” apenas pelo bater das ondas nas rochas madrugada adentro, os cajueiros com os frutos como há muito não via, os pescadores com as canoas a deslizarem suavemente no horizonte do mar alto, as raparigas e as mulheres inclinadas sobre si próprias a apanhar as ostras entre as pedras, as areais brancas, as algas de um verde reluzente, as grutas com galerias, o velho e solitário farol, tudo isso, teve o condão de um apaziguamento para comigo mesmo, permitindo-me o que na selva de Maputo não é possível: reflectir sobre o sentido da vida.
A praia do Wimbe conheceu, é verdade, um crescimento notável, destacando-se a existência de novas residências e locais de pasto e de entretenimento, para não falar do Casino pertença, ao que julgo, do meu amigo e antigo colega de escola Humberto Monteiro.
Fiquei agradavelmente surpreendido com as melhorias feitas no que foi outrora um pequeno bar, hoje Mar e Sol do Renato Chambarlain e da Eugénia Gaspar, local onde se pode degustar uns bons pratos de peixe pedra, do vermelho e do xaréu, para além, é claro, sorver, com toda a calma do mundo, umas bem geladinhas “2M” e Whisky com agua do lanho. O mesmo se pode dizer do “Nautilus”, embora aqui não deixe de torcer o nariz pelo facto de ter descurado a verdadeira função do local: o Clube Naútico, onde a criançada aprendia a canoagem, a natação e o salvamento em caso de afogamento.
O intenso movimento de pessoas que se regista aos fins de semana, sobretudo aos domingos, é algo que defrauda qualquer observador. No fundo, aquelas milhares de pessoas, sobretudo crianças de ambos os sexos, entulham a praia do Wimbe não para se refazerem da canseira da semana de trabalho ou escolar, juntamente com a família e amigos, mas sim para incomodar. São crianças que circulam por ali, à caça de algumas moedas ou, o que é pior, para surripiar algo como telemóveis e outros bens dos que, na realidade, ali se deslocam para descançar. Ao fim da tarde, aos milhares, aqueles “turistas”, pegam a estrada a pé de regresso às suas casas. Chamar a este fenómeno sinónimo de crescimento turístico da praia do Wimbe é simplesmente falso.

Pemba: impressões após nove anos de ausência


Já ouvira pelos relatos de amigos e da comunicação social: a ocupação desordenada dos espaços e os efeitos da erosão causados pela acção do homem. Não tinha a exacta dimensão dos estragos.
As imagens fotográficas que registei são elucidativas. Impressiona a construção de bairros em locais impróprios, como por exemplo, pelas bermas da estrada que liga a cidade ao aeroporto e nas ravinas, outrora lindissímas, que “beijam” a baía e visíveis a partir do cemitério municipal.
Para aquelas bandas existiam a não menos famosa praia da Sagal e aquela que nós, ainda crianças, chamavamos de “praia dos nús” porque nela banhavamo-nos completamente pelados.
Pelo que me informaram estes locais desapareceram ou foram simplesmente ocupados para outros fins, com todas as consequências nefastas sobre o eco-sistema.
Não tive tempo de visitar outros locais que conheci na minha meninice, como por exemplo, os bairros e praias de Paquitiquete, Cumissete, Cumilamba, “fuzileiros” e Inos. Pelo que me informaram, o cenário hoje é outro e ... confragedor. Pior: com "minas" humanas.
De relance vi o que me pareceu ser a “Meia Via” e a sua corcomida piscina que, ao que me pareceu, está a ruir devido aos efeitos do salitre.
Consolou-me o facto de a “febre” de constuir em todo o lado e de forma desordenada não ter atingido os centenários e portentosos imbondeiros: a maior parte continuam de pé. Espero que se continue a presevar aquela espécie de planta, deixando que as que ainda estão de pé, caiam por si mesma, como aquela que existia na Cumilamba até bem pouco tempo e que morreu devido à sua longevidade.

Pemba: impressões após nove anos de ausência




Mecufi, dista cinquenta quilometros da cidade de Pemba. Uma pacata vila implantada à beira do oceano, bonita pelas suas praias com mangais e conhecida até por não residentes em Cabo Delgado, pela sua cestaria em palha.
Ali viveu e trabalhou a minha proginitora como parteira e os meus irmãos mais novos, Sidónio e Germano. Nas férias escolares para ali ia descançar juntamente com os meus irmãos, Roque, Luís e o Adolfo e os nossos amigos, o Meco e a Claid e o Quim e a Melita e as irmãs Boene, entre outros. Mecufi é a terra de outros amigos como os irmãos Neves: Aguinaldo, Antuía, o Bernardino (já falecido) e o Adolfo. Mecufi, algumas vezes, acolheu alguns acampamentos de Escuteiros, nos quais estavam filiado, entre outros, eu próprio, o João Tique, o Chico Ávila, o Amaral “Russo”, etc.
Por algumas horas tive o prazer de visitar Mecufi. Já é iluminada pela Rede Nacional de Energia (HCB) em substituição do velho gerador que funcionava das 18 as 22 horas. Os edifícios públicos (Administração, Centro de Saúde e Residências dos funcionários) estão em bom estado de conservação, inluindo a pequena capela.
O mesmo não se pode dizer da praia e dos parrôs, balneário e da prancha: desapareceram, como também alguns coqueiros. A erosão, um problema antigo, não foi travado. O bar do Herculano Faria está simplesmente uma ruína. Em avançado estado de degradação estão as cantinas. Quanto à cestaria e as mobílias de kambala, essas, estão desprovidas da qualidade do antigamente. Por culpa da excessiva procura. O turismo tem destas, infelizmente.
O novo em Mecufi é a casa de pasto pertença do Assane, esse proprietário da Pensão Baía. Defronte da praia e com uma vista extraordinária, serve bons pratos de peixe e outros produtos marinhos.
Fiquei orgulhoso com as modestas mas aprazíveis casas (duas) do meu antigo colega e amigo, o João Lopes ou simplesmente Buda. Disse-me que não são para aluguer mas para usofruto pessoal e de amigos e antigos colegas. Força camarada.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Richard Bona no "Clube dos Entas"

Era uma vez... uma criança por todos considerada irrascível; que chorava por tudo e por nada, sem razão aparente. Enfim, uma criança de trato difícil.
Nasceu e vivia então essa criança, em Minta, uma pequena aldeia do leste dos Camarões. Viu a luz do dia decorria o distante ano de 1967.
Contam as pessoas que a conheceram, ainda com trés anos de idade, que aquela criança “chata” só abandonou o hábito de chorar quando um dia ouviu os sons de um instrumento chamado Balafon, dedilhado por um músico da sua aldeia.
O pequeno “chorão”, completamente fascinado, já esquecido da mania de chorar por “dá-la aquela palha”, ficava horas a fio a ouvir o artista do balafon. Como que a querer “beber” de uma fonte que, anos mais tarde, o tornaria um dos mais virtuosos viola baixo do mundo.
Estou a falar de Richard Bona, que já produziu cerca de meia dúzia de albúns de originais, para além de participações em obras musicais de grandes nomes do jazz, sobretudo europeus e americanos.
Acompanhem-nos então nos cinquenta e picos minutos do Clube dos Entas com este que, ainda criança, um jornalista qualificou de um diamante por lapidar.
O destaque vai para o seu albúm "Bona Makes You Sweat", gravação de uma actuação ao vivo nos dias 11 e 12 de julho de 2001, em Budapeste, capital da Hungria.

O "Clube dos Entas" pode ser escutado na Antena Nacional da Rádio Moçambique: FM 92.3 ou em http://www.rm.co.mz/, todas as quintas-feiras (22H05) ou segundas-feiras (02H05)

Elvis lidera ranking das celebridades mortas que mais facturam

Elvis Presley pode ter saído de cena há várias décadas, mas a sua capacidade de ganhar dinheiro está longe de ser reduzida, tanto que a Forbes.com o considerou a celebridade morta que mais factura pelo segundo ano consecutivo. De acordo com o site, Presley faturou US$ 52 milhões no ano passado, auxiliado em parte pelo aumento dos visitantes que visitaram a sua mansão, Graceland, celebrar o 30.º aniversário da sua morte, além de novos empreendimentos como o programa Elvis Sirius Satellite Radio.
"As coisas podem andar turbulentas nos mercados financeiros do mundo dos vivos, mas o mercado dos mortos ainda avança a pleno vapor", disse a Forbes.com.
Presley facturou mais entre outubro de 2007 e outubro de 2008 que alguns dos maiores astros vivos da música pop, como Justin Timberlake (US$ 44 milhões) e Madonna (US$ 40 milhões), disse a Forbes.com.
O segundo colocado no ranking, com 33 milhões de dólares ganhos no ano, foi o cartunista Charles Schultz, que morreu em 2000 e é conhecido sobretudo pela sua tira "Peanuts".
O terceiro lugar foi do actor australiano Heath Ledger, morto em janeiro de overdose de medicamentos. O seu último papel no cinema foi o do Coringa em Batman - O Cavaleiro das Trevas. "Com Cavaleiro das Trevas rendendo US$ 991 milhões nas bilheterias mundiais, estimamos os ganhos de Ledger em US$ 20 milhões", disse o site.
A Forbes.com informou que consultou especialistas e fontes entre os herdeiros das celebridades mortas e pesquisou os ganhos brutos - não contabilizadas as deduções de impostos, honorários de administradores e outros custos - relativos ao período de outubro de 2007 a outubro de 2008.
O físico alemão Albert Einstein é o quarto colocado no ranking, com 18 milhões de dólares obtidos principalmente da linha Baby Einstein (pertencente majoritariamente à Disney) de vídeos e brinquedos para crianças.
O produtor Aaron Spelling, cujos programas incluem Barrados no Baile e As Panteras, foi o quinto nome no ranking, com receita de US$ 15 milhões.

Led Zeppelin deve fazer digressão sem Robert Plant


A banda de rock britânica Led Zeppelin está a equacionar a possibilidade de realizar uma digressão e gravar sem a participação do vocalista Robert Plant, que tem resistido às pressões para compor a formação original da banda, informou a BBC.
O grupo, que vendeu cerca 300 milhões de álbuns e é considerado uma das bandas de rock mais influentes de todos os tempo, juntou-se em dezembro de 2007 para um show beneficente em Londres, na sequência dos apelos de fãs para voltarem a fazer digressões.

O guitarrista Jimmy Page e o baixista John Paul Jones concordam, e com entusiasmo, em voltar para o palco, assim como o baterista Jason Bonham, filho do membro original da banda John Who, falecido em 1980, após uma luta contra o alcoolismo. No entanto, Plant, que construiu a carreira de maior sucesso entre os membros da banda, sempre se mostrou relutante e no último mês divulgou um comunicado confirmando suas intenções.

"Ao contrário do grande número de recentes reportagens, Robert Plant não irá gravar ou fazer qualquer digressão com Led Zeppelin", disse ele numa nota.

Jones disse à Radio Devon, da BBC, que a banda tem testado possíveis substitutos para Plant. "Nós queremos fazer isso", disse o guitarrista. Jones disse que a banda, separada desde 1980, planeia lançar um novo álbum e fazer uma digressão.

Outras grandes bandas vêm tentando juntar-se com novos componentes. A mais notável é a banda Queen, que tem trabalhado com Paul Rodgers no vocal nos últimos anos, substituindo Freddie Mercury que morreu em 1991.

sábado, 18 de outubro de 2008

Pemba: um desenvolvimento que nos vai custar o futuro















A terceira maior baía do mundo ou, para ser mais embelezador, aquela que é uma das Trinta Mais Bonitas Baías do Mundo, Pemba, está a conhecer um acelerado desenvolvimento, depois de anos de um marasmo que tornava um inferno a vida dos seus habitantes.

A beleza das suas inúmeras praias, a afabilidade e a hospitalidade das suas gentes e um clima para todos os gostos, estão a ser potenciados para criar riqueza, fomentando o turismo “cinco estrelas”.

Inúmeras infra-estruturas, entre os quais o Pemba Beach, foram erguidos ao longo da orla da cidade, atraindo milhares de turistas europeus, americanos e asiáticos, que aqui “drenam” dinheiro, a níveis tais que acaba tendo um efeito benéfico na vida da população.

Aos meus olhos e depois de uma neurasténica ausência de nove anos, Pemba deu um salto em frente, deixando para trás outras cidades moçambicanas.

Contudo, quer me parecer que o “pecado mortal” da febre colectiva de desenvolvimento, abateu-se irreversívelmente sobre Pemba, levando muitos gestores da cidade a não acautelarem efeitos que, mesmo que colaterais, irão nos custar bastante caro num futuro próximo: em termos económicos e sobretudo culturais.

Não creio que desconheçamos as experiências desenvolvementistas que nos chegam de outras paragens do mundo, denunciando estragos cujos malefícios irremediavelmente serão corrigidos.

Aponto apenas dois exemplos para exemplificar esta minha opinião, admitindo desde já que me possam incluir na lista daqueles que muitos jovens quadros em matéria de políticas de urbanização chamam de “parado no tempo”.

Primeiro Caso: O que outrora foi um pequeno Clube Nautíco virou hoje uma casa do jogo de azar, ou seja, um Casino. Trata-se de uma actividade prevista no nosso ordenamento jurídico, que permite a colecta de importantes fundos para o erário público. Nisso, creio, estamos de acordo. O que me faz moça é que desapareceu o Clube Naútico e com ele a sua função de ministrar aulas de canoagem e natação às crianças. O investimento para o Casino não incluiu a transferência do Clube Naútico para um outro local.

Segundo Caso: Até finais dos anos oitenta, o Parque Infantil foi um local de lazer para milhares de crianças da cidade de Pemba que ali assistiam filmes infantis educativos e deliciavam-se com as acrobacias de macacos, a graciosidade das gazelas e o cantar de diversas espécies de passarinhos. Quer dizer, aquelas crianças, algumas das quais hoje são quadros técnicos deste país, tomavam o contacto com o mundo exterior e com a natureza.
O Parque desapareceu, virou um conjunto de barracas de prestação de serviços, e, como que a testemunhar importantes referências culturais, o cinema infantil lá está, teimando em não ser vítima do desenvolvimento cego mas permitindo que uma maçaniqueira enterre as suas raízes no intervalo entre os bancos de cimento como que a defender-se da fúria das marretas e picaretas.

A todos nós: Desenvolvamos o nosso sim. Mas com cautela para não comprometermos o futuro dos nossos filhos.

Pemba: nove anos de uma ausencia torturante

Os ponteiros do relógio marcavam exactamente as 4 horas da madruagada do dia 17 quando “violamos” os portões da cidade de Pemba, terminando assim uma viagem – excursão, para certo mais exacto – iniciada em Maputo no dia 15, quarta-feira.

Feitas as contas, a nossa pequena/grande odisseia durou 50 horas, percorreu mais ou menos 2.500 kilometros, atravessou as províncias de Gaza e Inhambane, no sul, Sofala e Zambézia no centro e Nampula, no norte, entrando depois, pelo distrito de Chiúre, na província de Cabo Delgado.

Foi uma viagem que aconteceu praticamente sem sobressaltos, que permitiu aos excursionistas (pouco mais de cinquenta) conhecerem melhor o país profundo, vendo, avaliando e analisando o que, muitos deles, só através dos meios de comunicação social, tinham ouvido falar.

Impressionou a todos o esforço que está a ser dispendido numa mais praticável e moderna ligação rodoviária entre o sul, cento e norte do país, com a edificação da ponte sobre o Zambeze a pontificar uns furos mais acima que outros projectos; a disseminação por todo o lado de infra-estruturas escolares e sanitárias; o desabrochar intenso do turismo para todos os bolsos. Mas o que mais me marcou terá sido a tranquilidade e o ambiente de paz sob o qual decorre o movimento de pessoas e seus pertences.

O percurso rodoviário na Estrada Nacional UM pode – e certamente que irá – durar muito menos tempo do que aquele que dispendemos. Tal ainda não é possível porque, à par de longos troços que se lhes pode tirar o chapéu, outros há – poucos – que se apresentam problemáticos: refiro-me aos trajectos Massinga/Pambarra em Inhambane e Mocuba/Alto Molocué na Zambézia. Consola o facto de estarem a ser submetidos a obras de construção de raiz ou reabilitação.

Ao fim e ao cabo, para exursionistas como nós, alguns dos quais (eu) não tão jovens como isso, fez bem ouvir e sentir o chocalhar dos ossos. Afinal são os tais ossos do ofício.

Nove anos depois da minha última estada, entro em Pemba e apanho de imediato o primeiro embate “assustador”: o silêncio, a tranqulidade, a paz de espírito que as gentes desta cidade experimentam e respiram. Tomara, para um residente no grande rebuliço, confuso e desnorteado Maputo, a terceira maior baía do Mundo e uma das trinta mais belas à escala planetária, é simplesmente uma espécie de Éden.

Um Éden do qual vou desfrutar até dizer basta nos longos dias da minha estada, aproveitando da melhor forma as festividades dos 50 anos da elevação de Pemba à categoria de cidade.

Minutos após a nossa instalação numa unidade hoteleira local, recebi no meu telemóvel uma SMS recordando-me uma bonita canção interpretada pela cantora brasileira Maria Bethânia que diz mais ou menis assim: “Foram me avisar para pisar este chão devagarinho”. Que é como quem diz “em Pemba não há maçãs, mas existe muita, mas muita maçanica saborosa”. Ayuwéééé.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Francês Le Clézio é o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura

ESTOCOLMO - O mais prestigioso e cobiçado prêmio literário do mundo vai para o escritor Jean-Marie Gustave Le Clézio, anunciado nesta quinta, 9, o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 2008. A Academia considerou Le Clézio "um escritor da ruptura, da aventura poética e do êxtase sensual, explorador de uma humanidade além da civilização dominante". O escritor destacou-se como romancista com “Deserto”, uma obra que, segundo a Academia "contém imagens magníficas de uma cultura perdida no deserto do norte da África, com a descrição da Europa vista pelos imigrantes indesejados".

Com mais de 30 livros publicados, Le Clézio é o primeiro escritor nascido na França a ganhar o prêmio após Claude Simon, em 1985. Em 2000, o Nobel foi concedido ao escritor nascido na China, mas naturalizado francês Gao Xingjian.

Le Clézio disse ter ficado "muito comovido" ao saber que havia sido o escolhido. Contou que foi a sua mulher quem atendeu ao telefone e recebeu a notícia, da Academia sueca, enquanto ele estava a ler e a escrever. Em entrevista a uma rádio sueca, agradeceu "com muita sinceridade à Academia Nobel", dizendo que também à Suêcia a 25 de outubro para receber o prêmio literário sueco Stig Dagerman, que lhe foi atribuído em junho passado. Pouco antes da notícia do prêmio, Le Clézio disse a uma emissora de rádio francesa que a possibilidade de ganhar tal prêmio "é algo que nos leva a continuar a publicar, que dá vontade de continuar a escrever... Nós escrevemos para ser lidos, para encontrar respostas e essa é uma resposta".

O prêmio Nobel de literatura consiste em 10 milhões de coroas suecas (US$ 1,3 milhão), uma medalha de ouro e um diploma.

Le Clézio, de 68 anos, vive entre Albuquerque, no Novo México, nas ilhas Maurícias e em Nice, cidade francesa onde nasceu a 13 de abril de 1940. A sua forte ligação com as ilhas Maurícias, antiga colônia francesa conquistada pelos britânicos em 1810, vem do facto de os seus pais terem nascido lá. O seu pai era um médico inglês e a sua mãe, francesa. Aos 8 anos, mudou-se com a família para a Nigéria, onde o seu pai trabalhou como médico durante a 2.ª Guerra Mundial e aí começou precocemente a sua carreira literária, com dois livros: Un Long Voyage e Orandi Noir. Ele cresceu entre duas línguas, francês e inglês. Em 1950, a sua família voltou para Nice. Formado em Letras, estudou na França, na Inglaterra e fez a sua tese de doutoramento no México. É autor de romances, contos, ensaios, novelas, literatura infanto-juvenil, e ainda jovem, aos 23 anos, ganhou o prêmio literário Renaudot pelo seu livro Le Procès-verbal, chamando a atenção para a sua literatura. É casado e tem duas filhas.

Por ocasião do lançamento do seu livro A Quarentena, em 1997, o escritor concedeu uma entrevista ao jornalista brasileiro José Castello na qual admitia a influência de Os Sertões, de Euclides da Cunha, para compor um tipo de história que gosta, a da luta do homem com os seus limites. O seu romance reflecte a aventura da sua família, que emigrou da Bretanha, na França, para as Ilhaa Maurícias, ainda no século 18. Segundo Le Clézio, os livros que o influenciaram definitivamente para compor a sua obra foram os de Robert Louis Stevenson, como A Ilha do Tesouro e Kidnapped. Outro, segundo o escritor, foi Os Sertões, de Euclides da Cunha. "Eu diria que, ao começar a escrever A Quarentena, quis fazer um livro que ficasse entre Kidnapped e Os Sertões, isto é, que ficasse entre uma aventura literária e uma reportagem”.

Após tomar conhecimento da premiação, o escritor falou com os jornalistas na sede da editora Gallimard, que publica os seus livros, em Paris, cidade onde estava de passagem, fazendo uma escala entre a Coréia do Sul e o Canadá, fiel à sua fama de viajante incansável. "Escrever não é apenas sentar à mesa consigo mesmo, é escutar o ruído do mundo. Quando você está na posição de escritor percebe melhor o ruído do mundo, vai de encontro ao mundo", disse. Le Clézio, recomendou a leitura de romances, como "uma forma de questionar o mundo. O romancista não é um filósofo ou um técnico da língua, é alguém que faz perguntas e se há uma mensagem que eu gostaria de passar é que se façam perguntas."

Le Clézio afirmou que se sente francês, mas disse que a sua pátria está nas ilhas Maurícias, ex-colônia francesa de onde procede a sua família. Além disso, o escritor define-se como um apaixonado pelo México e a cultura latino-americana.

O prêmio

O vencedor do Prêmio Nobel de Literatura é sempre divulgado pelo secretário permanente Horace Engdahl, nos escritórios do século 18 da entidade, na parte histórica de Estocolmo. Engdahl causou polêmica ao menosprezar a literatura norte-americana na disputa pelo prêmio na semana passada. Disse que o país é demasiado insular e ignorante para competir com a Europa como centro literário do mundo. "Eles não traduzem o suficiente e não participam realmente do grande diálogo da literatura", disse Engdahl. "Essa ignorância é limitante", acrescentou.

Vários nomes figuraram entre os favoritos do ano, como o italiano Claudio Magris, o sírio-libanês Adonis, o americano Thomas Pynchon, a canadiana Margaret Awood e o japonês Haruki Murakami encabeçavam a lista de apostas para o prêmio deste ano.

A casa de apostas britânica Ladbrokes deu ao jornalista e acadêmico italiano Claudio Magris uma chance em três, seguido pelo israelita Amós Oz e pela norte-americana Joyce Carol Oates até a semana passada.
Phillip Roth, o favorito de 2007, caiu para quinto lugar na lista da Ladbrokes. Em último lugar, com uma chance em 150, ficou o cantor e letrista norte-americano Bob Dylan.

A romancista britânica Doris Lessing foi uma vencedora surpresa no ano passado.

Alfred Nobel, que fez fortuna ao inventar a dinamite, criou os prêmios para a paz, a literatura e várias ciências no seu testamento, em 1895. Os prêmios foram entregues pela primeira vez em 1901 e um prêmio adicional, para a economia, foi estabelecido em memória de Nobel, em 1968.

Os prêmios são entregues a 10 de dezembro, data da morte do fundador do prêmio, Alfred Nobel, em 1896.

Madonna proíbe Sarah Palin de ir a seus shows

A popstar Madonna proibiu a candidata republicana à vice-presidência, Sarah Palin, de ir a seus shows, informa o jornal New York Post. Durante um show da sua digressão Sticky & Sweet em Nova Jersey, a cantora disse ao público: "Sarah Palin não pode vir a minha festa. Não é nada pessoal."

Nesta digressão, Madonna, que já confessou a sua admiração pela senadora democrata Hillary Clinton, exibe um vídeo nos telões no qual coloca o candidato republicano John McCain ao lado de ditadores e cenas negativas. Obama também aparece, mas ao lado de personalidades que lutaram pela paz, como Martin Luther King e Bono Vox.

Segundo o New York Post, após a declaração, Madonna continuou: "este é o som da moto de neve do marido de Sarah Palin quando ela [o veículo] não dá a partida", simulando um alto ruído com a sua guitarra.

Nas eleições de 2004, Madonna declarou o seu apoio ao candidato democrata John Kerry e durante os shows da digressão Reinvention pedia para os eleitores se registarem e irem às urnas.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Mostra revela morte sangrenta de personagens de desenhos

LONDRES - A exposição Splatter, que será aberta em Londres na sexta-feira, 10, dá asas à imaginação de quem já pensou no que aconteceria de verdade quando os personagens de desenhos animados cometem actos de violência uns contra os outros.

Na mostra, que apresenta esculturas e ilustrações, Tom mata Jerry, o Coiote alcança e acaba com o Papa-léguas e Frajola finalmente almoça o Piu-piu.


"É incrivelmente sanguinário. As consequências reais da violência nos desenhos animados são reveladas. Eles massacram uns aos outros", disse o artista plástico britânico James Cauty.


O artista diz que a idéia para a mostra partiu do seu filho, Harry, de 15 anos de idade.

"Clube dos Entas": O multi-instrumentista Hermeto Pascoal

Hoje com 78 anos, este compositor e multi-instrumentista, mas também um grande contador de histórias, nasceu numa perdida aldeia de camponeses pobres. Diz-se que escapou do trabalho com a enxada por ser albino e não poder, por isso mesmo, ficar exposto ao sol.

Mas a vida de campo, os seus sons, terão certamente exercido nele um grande fascínio e influência na sua música.


Hermeto Pascoal conta que quando criança, na escola, os professores mandavam-lhe fabricar instrumentos com latas de marmelada. E terá sido de uma lata dessas que o nosso convidado de hoje terá construido o que chamou a sua primeira criação: "violãozinho".


“Quando as Aves Se Encontram, Nasceo Som”, é talvez um bom exemplo do que acabamos de dizer, uma faixa musical incluída no album "Festa dos Deuses", de 1992, a ser rodado na edição desta quinta-feira do "Clube dos Entas".

O seu primeiro parceiro na música foi o irmão mais velho, com quem tocava em nos chamados bailes de "pé-de-pau", realizados ao ar livre, sob as árvores, comuns naquela época. Os dois irmãos exibiam o seu talento em batizados e casamentos, suando “bom bocado” quando, às vezes, caminhavam um dia inteiro para chegar até o local do baile.


Em 1961, quando esteve nos Estados Unidos, Miles Davis, ao ouví-lo tocar os vários instrumentos, chamou-lhe de "Albino Louco".


O "Clube dos Entas" é transmitido na Antena Nacional da Rádio Moçambique, podendo ser escutado na frequência 92.3FM ou na internet: http://www.rm.co.mz/.


Quintas-feiras: 22H05
Segundas-feiras: 02H05 (reposição)

sábado, 4 de outubro de 2008

2013/2014: O plano internacional para “golpear” Afonso Dlakhama













Numa qualquer sala de espera de uma qualquer repartição ou empresa, os jornais e revistas, lidos e relidos, permitem-nos “aguentar” com estoicismo a longa espera para seremos recebidos pelo Senhor Director. São uma espécie de baralho de cartas para o jogo da paciência.
Mas, por vezes, encontramos numa ou outra publicação, uma informação que, à altura da sua publicação, escapou-se-nos por qualquer motivo. Informação até mais interessante em relação ao assunto que nos leva à audiência com o senhor director
Aconteceu comigo: o matutito “Notícias” de Maputo, edição de 2 de Junho último, esparramou na página trés uma notícia com o seguinte título: “
Para edil da Beira : Uma facção da Renamo distancia-se da proposta de Dhlakama".
Trata-se de uma notícia que ajuda-nos a compreender o historial dos motivos que terão estado na base da expulsão de Daviz Simango da Renamo e a retirada do apoio do Partido à sua recandidatura à eleição de novembro próximo.

Interessado na notícia, sou informado que “A ala da Renamo na Beira veio a público anunciar a existência de um novo concorrente à presidência do município, caso... o deputado Manuel Pereira se mostre disponível a retirar a sua candidatura”.

O autor da notícia cita Mário Barbito, a quem considera ser “um dos membros da base e influente da “perdiz” em Sofala” a afirmar que na altura (2/6) a Renamo na província estava apenas a espera de MPereira “para declarar a sua continuidade ou não na corrida”, após o que “se irá conhecer o seu substituto na corrida com outros candidatos, incluindo o actual edil, Daviz Simango

Nesta informação, Barbito terá explicado que a ala a que pertence continuava firme na aposta pelo Deputado Manuel Pereira Pereira “
já que (a ala) não manifesta a sua confiança em Daviz Simango”.

Explica depois os motivos porque não apoiam a candidatura do actual edil da Beira “em salvação ao nosso presidente, Afonso Dhlakama, e ao próprio partido, dado que Daviz Simango manifesta alheamento em relação ao funcionamento da Renamo e ignora a maioria dos seus membros”.

Mario Barbito revela depois a existência “de um alegado plano denominado 2013/2014 que pretende colocar Daviz Simango na presidência da Renamo, de modo a que este possa vir a concorrer às eleições presidenciais. “Há forças estrangeiras envolvidas neste plano” revelou Mário Barbito, a crer no matutino “Notícias”.

Este membro influente da Renamo depois de “classificar de atitude prepotente de Daviz Simango”, esclareceu “que Manuel Pereira já era uma figura de grande consenso no seio das bases em Sofala”, sendo considerado de “aglutinador e pessoa ideal para dirigir a Renamo e município da Beira”.

A célebre declaração de Afonso Dlakhama de que ele era um ditador é esclarecedora, quando Mário Barbito, sempre citado pelo Notícias, afirma que “Nós defendemos o presidente Dhlakama e a Renamo mas para a escolha do nosso candidato às próximas autárquias não houve democracia e é por isso que avançamos com alternativa a Daviz Simango, porque ele sempre tomou atitude de exclusão em relação aos verdadeiros membros da Renamo, alguns dos quais fundadores”.

Nós sabemos que dentro do partido existem pessoas que pretendem fazer um golpe de modo a acabar com a ala forte da Renamo e um deles é o actual edil da Beira” – outra citação esclarecedora de Mário Barbito.

Exemplificou que o actual delegado político provincial, Fernando Mbararano, e o presidente da Assembleia Municipal, Borges Cassicussa, não possuem casas próprias vivendo o primeiro numa residência cedida pela Renamo e o segundo alugada algures no bairro da Manga.

Como é possível isso se temos o município nas nossas mãos? Isso revela desprezo pelos quadros seniores do partido e não pactuamos com esta atitude”. É com esta citação que o jornal “Notícias” conclue esta esclarecedora notícia lida numa qualquer sala de espera de um qualquer Director de repartição ou empresa.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Santuário da Namaacha prepara-se para melhorar acolhimento dos peregrinos




Está em vias de de se melhorarem as condições para um acolhimento mais confortável e menos problemático para todos aqueles que se deslocarem ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, na vila fronteiriça da Namaacha.
Há dias tive a oportunidade de testemunhar (e registar em imagem) alguns trabalhos de reabilitação das suas infraestruturas, para além de inovações de pequena monta.
A pintura geral externa do edifício e a montagem de novos sanitários público para servir aos peregrinos são algumas das beneficiações que já são uma realidade.
Já é notícia a construção de uma basílica no terreno do santuário, estrutura que vai permitir que cerca de cinco mil pessoas estejam sentadas, o que dará um outro ímpeto às orações.
O antigo Instituto João de Deus, uma completa ruína deverá ser reabilitado para ser a futura pousada dos peregrinos.

Domingos Macamo: O novo "boss" dos Músicos

Aí está. É novo timoneiro da Associação dos Músicos Moçambicanos. Eleito esta semana. Substitui o também músico/compositor, Hortêncio Langa, que esteve à frente da agremiação por 20 anos. Muito tempo, é preciso que se diga, o que terá contribuído muito para um ambiente nada são entre os "fazedores" da nossa música.
Domingos Macamo, com quem privo e colaboro há bastantes anos na Rádio Moçambique, é "peça" que, no meu entender, vai imprimir uma maior dinâmica na prossecução dos objectivos para que foi criada a associação: a dignificação dos artistas musicais.
Uma das bandeiras de Domingos Macamo à frente da Associação dos Músicos Moçambicanos, é o combate a uma descarada e conssentida contrafacção e um maior respeito pelos direitos dos músicos por parte das editoras e dos promotores de espectáculos.
Macamo conhece e vive os problemas pois está ligada aos serviços editoriais da Rádio Moçambique, tendo trabalhado com nomes de peso da casa: Américo Xavier, Fernando Azevedo, António Fonseca, Roberto Aúze, Albino Caetano, para além do emblemático "Grupo RM".
Todo o apoio ao Domingos Macamo nunca será demais.

Campanha Internacional de Recolha de Fundos Anti-Bolha

Autor: António do "Expresso"/Portugal

Carlos do Carmo comemora 45 anos de carreira

Durante 45 anos foi estrela de todos os palcos que pisou. Fez-se fado personificado, cantor português da palavra. Mas as décadas de trabalho levaram-no também a encontrar nos músicos que o acompanharam o suporte definitivo para a poesia que declamou entre melodia. Hoje, 3, Carlos do Carmo presta homenagem aos nomes que o acompanharam ao longo dos anos, numa gala que comemora este aniversário no Casino Estoril, em Lisboa.

"Ao longo deste belo percurso, tenho homenageado todos os meus autores, tenho prestado os meus profundos agradecimentos ao público", afirmou, recordando que sem este último "não existia como hoje sou". Para a comemoração dos 45 anos, o cantor escolheu os músicos como objecto da sua reverência: "Sou um apaixonado pela palavra que canto, tenho profundo amor e respeito pelos poetas que me preenchem as canções. Mas sem os músicos não teria feito nada."

"Eu como não toco instrumentos, o meu trabalho sem músicos seria de uma tristeza constrangedora", remata Carlos do Carmo.

Namaacha: a pedra ao serviço da arte de construir


Texto/Fotos: Edmundo Galiza Matos
Os interessados pelas mais diversas formas de arquitectura moçambicana, antiga e actual, não ficarão indiferentes à forma como a pedra foi e continua a ser artistiscamente aproveitada em diversas construções implatadas na Vila da Namaacha.
Provavelmente muitos que por ali transitam em viajem para a vizinha Swazilândia não se dão conta da extraordinária beleza de alguns edifícios da vila implantados no seu interior, beleza conseguida com recurso à um material de construção, a pedra, bastante abudante e, por isso mesmo, barata.
Existem edifícios que são autênticas obras de arte, muitos deles desenhados, é verdade, por arquitectos formados, mas edificados por pedreiros que nunca se sentaram em nenhum banco de uma Escola de Artes e Ofícios.
Muitos desses edifícios estão hoje em ruínas não sabe muito bem porquê mas não resiste em registar para câmara algumas imagens que ilustram o quão simples, e por isso mesmo, belos foram quando ainda habitados.
Não raras vezes testemunhei o mau uso que alguns residentes da vila dão a algumas dessas obras de arte, herdadas em decorrência do 24 de julho de 1976. Outros, perante ofertas feitas por pessoas com posses e interessadas em ter uma casa de campo, não resistiram em passá-las, o que levou a que se evitasse que a sua progressiva degração.
Algumas dessas edificações ainda estão a tempo de serem recuperados. Outros, nem por isso. Este será certamente um dos principais desafios para as autoridades locais a sairem da primeira eleição autáquica de novembro próximo.

Namaacha: Uma infância marcada pela escassez de agua




Texto/Fotos: Edmundo Galiza Matos
Recordo-me que, ainda petiz, o acarretamento da agua num riacho na aldeia dos meus avôs no interior da província de Inhambane, constituir uma actividade não só necessária, como também de pretexo para as nossas brincadeiras. Socorriamo-nos então de um imponente burro para puxar rio acima o barril de madeira de pinho cheio do precioso líquido até uma cisterna na pequena casa de alvenaria onde viviamos.
Ao fim de umas tantas carradas, decliciavamo-nos com o mergulhar na agua fresca e cristalina do riacho, enquanto as nossas modestas roupas estendidas no capim ou nos arbustos secavam.
Portanto, a agua nunca foi um problema para a comunidade onde viviamos e penso que o mesmo se passava um pouco por este país fora.
Hoje, por motivos bastante conhecidos – mudanças climáticas devido à emissão de gases que danificam o efeito estufa – Moçambique vive o drama de ter agua em demasia em determinadas regiões e escassa em outras.
O sul do país, mais precisamente a província de Maputo, debate-se com esta realidade: um petiz que vai crescer com a triste realidade de ter que testemunhar o esforço da mãe para ter alguns litros de agua para as necessidades do dia a dia. A imagem acima é disso ilustrativa.
Pode-se divisar o esforço desta mulher a tirar do poço a agua a partir de uma lata presa a uma corda e o que foi outrora uma bomba manual para a sucção do líquido, artefacto agora sem outra serventia do que um improvisado encosto ao filho sonolento debaixo do sol abrasador nas imediações da Igreja Católica da Namaacha.
Esclareça-se que a bomba manual nem sequer está avariada. Acontece que a agua está a um nível bastante profundo porque o lençol freático reduziu devido a anos de falta de chuva para a necessária reposição.
Como esta, muitas outras imagens podem ser colhidas um pouco por toda aquela vila fronteiriça.

Carlos Beirão: A "Negra" moçambicana está bem aconchegada




"Ao meu amigo Fernando Azevedo..." este o teor de uma pequena dedicatória escrita na capa do disco "Negra" de 1988 do músico beirense, Carlos Beirão, já falecido.
Fernando Azevedo, para além de amigo de Beirão, era o responsável pelos serviços de captação e gravação de música da Rádio Moçambique, chefiando uma equipa de técnicos de peso, nomeadamente Roberto Aúze, Albino Caetano, José Barata e António Francisco Cuna, este último já falecido.
Barata, também ele músico, responsabilizou-se pela captação e mixagem da "Negra", sendo que a nota explicativa foi elaborada por João de Sousa e Alípio Cruz, músico moçambicano radicado há anos em Portugal, colaborou para que a obra de Beirão viesse à luz do dia.
As imagens deste disco em vinil foram por mim registadas na Discoteca da Rádio Moçambique quando, por mero acaso, enxerguei a obra num amontoado de discos que, pelo que deduzi, não estavam a merecer a necessária atenção para conservação.
Felizmente existe já várias cópias digitalizadas da "Negra" de Carlos Beirão, o que, mesmo assim, não pode constituir motivo para se descuidar de uma relíquia de um músico como Beirão. Carlos Beirão que, como muito bem sabem os residentes da Beira e seus amigos pelo país inteiro, era uma "espécie em vias de extinção", sempre pronto para ajudar quem quer que seja, envolvido em tudo quanto fosse manifestação cultural, desportiva e social.
Pelo que me toca, beirense Beirão apadrinhou o casamento do meu amigo beirense Tony Ferreira e a minha amiga e cunhada, Beatriz Miguel, também ela beirense de gema.
À Betty fiz questão de oferecer uma cópia da "Negra" quando ela esteve em Maputo em gozo de férias, estando a residir na fria Londres.
Beirão era um "Bon Vivant", farrista inveterado e apreciador da culinária moçambicana, com destaque para a zambeziana.
Por alguns dos títulos da obra, única, pode-se aferir um pouco da personalidade de Carlos Beirão.
Em memória de Carlos Beirão vai um cálice da bem nossa "Catcholima" de primeiríssima.