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terça-feira, 30 de agosto de 2011

A vida na "Terra do Lixo" captada pelo fotográfo José Ferreira

Por Emily Wither, CNN

Para algumas pessoas que vivem na cidade de Maputo, o lixo dos outros é o ganho pão para a sua sobrevivência.

O conceituado fotográfo português José Ferreira, residente em Maputo, viajou para as profundezas da Lixeira de Hulene, onde capturou a crua realidade da vida na “Terra do Lixo”.

Ferreira diz que o que mais o impressionou foi que, apesar das dificuldades, descobriu as “melhores pessoas” que jamais conheceu.

“Apesar de todas as circunstâncias em que vivem, continuam a mostar a sua amabilidade, felicidade e hospitalidade”, comentou. “Não encontramos estas qualidades humanas em muitos lugares do mundo”.

Ferreira explica que conheceu dois tipos de pessoas naquela lixeira: os indigentes e os “recolectores de lixo”. “Muitos dos que ali vivem dependem do lixo para sobreviver, alguns procuram comida e outros diferentes tipos de materiais para reciclar e que vendem em fábricas”, acrescentou.

“O dinheiro que eles ganham por tudo o que apanham não é suficiente, mas é alguma coisa e por isso, continuam ali para recolectar mais lixo para voltar a vender”.

Alguns relatórios estimam que o número de habitantes da Lixeira do Hulene ronda os 700. A lixeira está situada numa zona densamente povoada e cobre uma área de 17 hectares. É a única destinada a detritos sólidos em Maputo, uma cidade com mais de um milhão de habitantes. Os montes de lixo alcançam uma altura de 15 metros, de acordo com um relatório do Conselho Municipal de Maputo.

Ferreira diz que não tem uma fotografía favorita. Mas há uma imagem que afirma ter sido a mais difícil de fotografar.

“A mais difícil de presenciar foi quando duas mulheres estavam a comer a cabeça crua de um cão morto já a apodrecer”.

Há muito que a lixeira foi destinada a encerrar, mas até agora permanece aberta.

Depois de passar algum tempo em Hulene, Ferreira diz que “o maior erro que as pessoas podem cometer é pensar que não há lugar para a vergonha para aqueles que são forçados a viver do lixo dos outros”.

"É uma vergonha muito mais legítima do que qualquer outra porque para a maioria deles nunca houve uma escolha", disse ele.

Para Ferreira, as suas experiências tê-lo-ào ensinado a apreciar mais a vida.

"A vida que perdemos todos os dias, porque queremos uma vida melhor, ou porque nunca estamos satisfeitos com ela, é a vida que muitos desejam e por ela suspiram e dão tudo por tê-la".

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Albufeira de Cahora Bassa: Saia Para Fora, Cá Dentro

O Director do Turismo na província de Tete, Rafael Funzamo, diz que as autoridades estão a trabalhar seriamente na atracção mais investidores, através da divulgação das principais potencialidades turísticas daquela região do centro de Moçambique. E o Turismo Cinegético, sobretudo na Albufeira de Cahora Bassa, é um dos polos para o qual estão a ser convidados os investidores, uma vez que aquele recurso está praticamente inexplorado.

Criada em 1975 e localizada no troço terminal do médio Zambeze, com uma capacidade de armazenamento de água máxima de 65 quilómetros cúbicos e um volume útil de 52 quilómetros cúbicos, 270 quilómetros de comprimento e 30 de largura máxima e uma superfície de inundação de 2 900 quilómetros quadrados ao nível de máxima cheia, a Albufeira de Cahora Bassa, é, assim, “Gigante” adormecido que Tete detém e que, bem aproveitado, atrairia os amantes do turismo do interior e, também, os fãs da pesca desportiva.

O potencial da Albufeira de Cahora Bassa criou um volume de água doce que constitui um manancial para o desenvolvimento de um ecossistema que integra uma enorme variedade de animais aquáticos, desde os de grande porte como crocodilos e hipopótamos, até ao famoso peixe kapenta ( ou a chamada sardinha do Lago Tanganica). O kapenta corresponde a uma pescaria industrial com enorme valor económico na região. Paralelamente, existem outras espécies de peixe de importância comercial, como é o caso de pende (Tilápia).

A área de inundação da Albufeira de Cahora Bassa apresenta características peculiares em termos de distribuição irregular da massa de água, bastante recortada e com inúmeras saliências e reentrâncias. A vastidão das suas reentrâncias caracteriza autênticas baías com um potencial de desenvolvimento do ecossistema aquático de grande relevância para o uso e aproveitamento para a pesca artesanal, semi-industrial e industrial, recreação, turismo e caça.

Actualmente, a margem sul da albufeira apresenta-se com um potencial enorme de áreas de reservas, como é o caso da região de Bawa, com destaque para o projecto Tchuma Tchatu (em língua local, “Nhungwe”, A nossa riqueza), e o Kafukudzi Camp. Na margem norte, próximo da Vila do Zumbu, existe o complexo Chawalo Safari.

Fuja do Stress e va ao M'saho’2011 em Zavala este fim de semana

A vila de Quissico, distrito de Zavala, vai ser palco este fim-de-semana da décima sétima edição do M´saho, uma festa de celebração do instrumento Timbila, sob o lema “M’saho 2011: Marechal Samora Machel”.

A escolha do lema da presente edição é um tributo ao primeiro Presidente de Moçambique independente, coincidindo com o facto de 2011 ser “Ano Samora Machel”.

O evento tem em vista a promoção e divulgação desta expressão artístico-cultural que, em 2005, foi elevada à categoria de Património Cultural da Humanidade.

Organizada pela Associação dos Amigos de Zavala (AMIZAVA), em parceria com o Governo, através do Ministério da Cultura, o “M’saho” vinca ainda a importância da sua protecção, preservação e valorização da timbila como um bem cultural nacional e da humanidade.

O primeiro dia do festival, sexta-feira, será dedicado à realização de um seminário, no qual serão debatidas as acções práticas da preservação da Timbila, bem como a prática do turismo cultural e os mecanismos de valorização daquele património cultural.

Nesta acção serão envolvidos os praticantes, operadores turísticos, investigadores e etnomusicólogos, que irão traçar as linhas-mestras sobre o melhor aproveitamento e definir estratégias de dar a conhecer e utilização, de forma sustentável, da timbila.

No segundo dia do evento, sábado de manhã, iniciará o verdadeiro “show” de Timbila, no palco erguido defronte das oito lagoas que ladeiam Zavala.

Foram convidados ao evento 16 orquestras de timbila, envolvendo cerca de 400 artistas.

Recorde-se que abril último, o Presidente da República, Armando Guebuza, de visita àquele distrito do sul da província de Inhambane, manifestou a sua satisfação por ter constatado que há um trabalho profundo para a valorização da cultura moçambicana.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Ilha de Moçambique: Reabilitação de mais edifícios históricos vai prosseguir

Estão já em curso, obras de reabilitação de mais infra-estruturas históricas em ruínas na cidade da Ilha de Moçambique, na província de Nampula, no quadro dos esforços que estão sendo feitos com vista a travar a degradação acelerada que tomou conta da maior parte seus imóveis.

Trata-se dos antigos edifícios do Comando Distrital da Polícia da República de Moçambique, residência da administração, casa da Saúde, Museu S. Paulo, sede da Fundação da Ilha de Moçambique e do Gabinete de Conservação da Ilha de Moçambique, GACIM, que corriam o risco de desabar.

O director do GACIM, Celestino Girimula, disse à nossa Reportagem, que o arranque das obras de restauração constitui um passo rumo à concretização de tantos outros que as infra-estruturas históricas em ruínas da ilha ainda precisam.

O GACIM conjuntamente com o Conselho Municipal da Cidade da Ilha de Moçambique, têm vindo a apelar a todos os residentes com contratos de arrendamento ou título de propriedade de edifícios, para que zelem pela conservação e restauro dos mesmos.

“O nosso apelo tem surtido efeito. Aliás, como resultado disso muitos edifícios históricos em ruínas foram reabilitados com destaque para Hotel Villa Sands, Café Central, Casa Fabula, Bar Flor, Terraço das Quintas e outros. Estão em curso as obras de reabilitação dos edifícios da Mahari Tecle, Gabriel Melazi, Bruno Muski, Piscina e Casa da JFS”,disse.

O GACIM - Gabinete de Conservação da Ilha de Moçambique foi criado em 2006 e iniciou as suas actividades em 2007. É uma instituição pública que tem como atribuições planificar, coordenar e orientar actividades de pesquisa, protecção, conservação e restauro do património edificado, histórico e arquitectónico daquela cidade património mundial.

“Um Passo com unha”: escultor alemão, pintor moçambicano e músico luso-angolano “brincam” com a chanfuta

“Habitat”- Volker Schnuttgen, Labor Gras & Guests

Um escultor alemão que dá aulas na cidade portuguesa do Porto, um reputado pintor moçambicano e um músico luso-angolano que inventa os seus instrumentos, vão dar “um passo com unha” em troncos de chanfuta, que começaram a ser trabalhados em Maputo.

O pontapé de saída coube a Volker Schnuettgen, alemão que vive em Sintra e lecciona em Belas Artes no Porto, e que todos os dias, enquanto a luz do sol o permite, trabalha com uma serra eléctrica a chanfuta, uma “madeira nobre” da região.

“Decidimos fazer um projecto em conjunto, no qual vamos criar peças em co-autoria”, disse Volker, sobre a sua parceria com Idasse, pintor moçambicano que conhece de outras iniciativas comuns realizadas em Portugal e na Alemanha.

Idasse será o próximo a trabalhar na chanfuta, pintando partes que Volker vai preparando, num projecto que foi buscar o título a um jogo infantil.

“Um jogo com unha é uma medida de jogo de berlindes, é uma medida que faz com que se partilhe um ideal, um projecto que inclui escultura, pintura e música, ou seja, uma escultura pintada e musicada”, explicou Idasse, sobre o título que encontrou para a obra a “seis mãos”.

A intervenção dos dois artistas será mais tarde complementada com o trabalho de Vítor Gama, um músico de renome internacional e que inventa e produz grande parte dos instrumentos que executa.

“Pensámos que África tem muito a ver com música, com ritmo, e que seria interessante convidar um músico e chegámos à conclusão que a pessoa certa é o Vítor Gama”, afirmou Volker.

Idasse explicou a vantagem das parcerias com um cenário do quotidiano de muitos artistas: “Há determinadas alturas em que a gente fica engasgado, em que às vezes não tem solução, mas que o companheiro a possa ter”.

O projecto ainda vai durar até ao Verão do próximo ano, altura em que ficarão prontos — esculpidos, pintados e musicados — os quatro troncos de chanfuta, que por agora Volker trabalha no pouco cuidado jardim do Museu Nacional de Arte de Maputo, paredes-meias com um atelier de escultores macondes.

“Já estive aqui a trabalhar há dois anos, com cinco moçambicanos, dois dos quais escultores. Também temos aqui os escultores macondes que trabalham pau-preto mas, apesar desta diferença artística e cultural, há uma conversa, há um diálogo”, garantiu Volker.

O novo Bandolim de Ximanganine

Para o Ernesto “Ximanganine” Zevo foi como que umas segundas núpcias de um casamento que tardava a acontecer. E há muito aguardado, uma vez que o primeiro, demasiado gasto e sem ponta por onde se pudesse remendar, lhe dava dó, como só os dias sem sol são capazes.

Agora sim, “parece que estou a casar com uma nova mulher”, disse-o Ximanganine, assim mesmo, aos microfones da Rádio Moçambique, uma confissão escutada pelos milhões de ouvintes espalhados pelo país inteiro.

O “enlance matrimonial” do Ernesto Zevo – nome verdadeiro do Ximanganine – aconteceu em directo no final da tarde desta sexta-feira (19) no Estúdio Auditório da Rádio Moçambique em Maputo, perante algumas testemunhas amigas. A “nova mulher” foi um instrumento musical, o Bandolim, oferecido, novinho em folha, por admiradores seus, o Afonso Uamusse e o Oliveira Mucare, residentes em Chimoio e ouvintes assíduous da RM. Eles que, por mero acaso, souberam do estado precário do instrumento que há mais de trinta e cinco anos acompanha o Ximanganine. E da tristeza que se abatia sobre aquele músico. E, mais do que isso, estava em jogo, a carreira musical do único tocador de bandolim que o país conhece e aprecia.

Afonso e Oliveira mandaram trazer de Coimbra, essa cidade portuguesa famosa também pelo seu Fado, um novo instrumento. Entregaram-no a um Ximanganine que não queria acreditar no que lhe estava a acontecer. Ali mesmo, no programa “Compasso”, em directo para todo o auditório nacional, Ximanganine, acompanhado pela Banda RM, dedilhou como só ele é capaz, o Moda Xicavalu, em memória do seu Mestre Fany Mfhumo.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Alexandre Chaúque confunde-se com pintor - Pedro Chissano na apresentação do livro “Bitonga Blues”

“Alexandre Chaúque confunde-se com um artista plástico. Tira as palavras como pensa e as põe no papel. Ao pintar nos anuários emprega sempre textos e cartas. Tem um defeito que é bom. Ele comunica-se com as pessoas com cartas. Se calhar é um pintor anónimo”.

Estas palavras são do escritor Pedro Chissano proferidas na apresentação do livro de crónicas “Bitonga Blues” do jornalista e escritor Alexandre Chaúque. “Bitonga Blues”, lançado sexta-feira passada (12) na Casa de Cultura da cidade de Inhambane, é o segundo livro do autor, depois de em 2002 ter estreado com “Inhambane Sem Badalo”.

Para Pedro Chissano, o autor de “Bitonga Blues” tem um segmento identitário porque sempre tem a sua terra, Inhambane, sempre presente e transporta a crença divina e ainda nutre um amor expresso pelos seus ídolos.

“Alexandre Chaúque é um homem de livros e de jornais e de música, que quis, hoje, trazer uma importante prenda ao quinquagésimo aniversário da elevação de Inhambane à categoria da cidade”, expressou Chissano.

Com este seu segundo livro, que retrata parte das crónicas publicadas em vários jornais por onde tem estado a passar nesta sua vida de andarilho dos órgãos de comunicação social, Chaúque expressa ainda mais a qualidade de um brilhante cronista, sublinha Pedro Chissano.

É ele quem nos diz que a ida de uma caravana da AEMO para Inhambane, foi feita com orgulho porque não só pretendiam testemunhar o lançamento de “Bitonga Blues” como também a viagem serviu de pretexto para obsequiar a “Terra de Boa Gente” pelo seu aniversário, ao mesmo tempo que aquele ponto do país era revisitado por um dos mais prestigiados filhos daquela terra que tanto a quer e que tanto a ama.

“Este homem de jornais e de letras, Alexandre Chaúque estreou-se em livros em 2002 com o livro, “Inhambane sem Badalo” e hoje quis celebrar a festa da sua cidade de origem, com o lançamento do seu segundo livro “Bitonga Blues” junto dos conterrâneos e amigos num acto demonstrativo de amor da terra que o viu a nascer”, sublinhou Chissano, também homem de letras e de fino discurso.

Um movimento cultural desusado caracterizou a cerimónia do lançamento de “Bitonga Blues” e da festa da capital provincial de Inhambane.

Para além da leitura de algumas crónicas patentes na obra de Chaúque, a Casa de Cultura de Inhambane foi palco de um desfile de moda, declamação de poesias, exibição de peças teatrais, entre outras actividades culturais.

Entretanto um dos momentos marcantes deu-se quando o jovem escritor, Leo Sidónio, escolheu e leu a crónica “Homem baleado parecia um dançarino de mapiko”, um dos textos do livro para dar aquilo que chamou de um cheirinho de “Bitonga Blues”.

Sangare Okapi, como que a sustentar as palavras de Pedro Chissano na apresentação do livro, escolheu “Olá Biti, akuvava minha maconde maluca “, uma carta que o escritor escreve para uma amiga que conheceu no distrito de Mueda, província de Cabo Delgado.

Familiares, amigos, alguns dos quais de infância, artistas, académicos e demais admiradores não quiseram perder a ímpar oportunidade de ver e ou rever Alexandre Chaúque, apresentando mais uma obra sua.

Ao usar da palavra, o autor do livro foi um homem de poucas palavras. Apenas disse que “Bitonga Blues” era dedicado ao seu filho Abebe, que perdeu a vida em Julho, vítima de acidente de viação na província da Zambézia, onde se encontrava a trabalhar.

Acompanhado pelo secretário-geral da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), Jorge de Oliveira, e ainda pelos escritores Aurélio Furdela, Leo Sidónio e Sangare Okapi, bem como alguns jornalistas que compunham a delegação, a direcção da agremiação dos escritores aproveitou a oportunidade para promover mais uma edição do programa “Jornadas Literárias”, tendo oferecido livros de escritores moçambicanos a instituições de ensino secundário no país.

In Caderno Cultural (jornalnoticias.co.mz)

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Moçambique: “Quem manda nas cidades são os políticos, os especuladores, aqueles que tiram melhor partido econômico”, arquitecto José Forjaz

Nascido em Portugal em 1936, mas radicado desde 1974 em Moçambique, o arquitecto, urbanista e designer José Forjaz vem participando, há décadas, na reconstituição do país, independente de Portugal desde 1975. Profissional de atitude crítica, expôs em São Paulo (Brasil) em junho de 2010 no Museu da Casa Brasileira e deu palestras na Universidade de São Paulo (USP).

Actualmente a trabalhar no planeamento de uma área de Luanda, capital de Angola, ao mesmo tempo em que cria projectos particulares, foi entrevista na altura pela jornalista Camila Molina.

Click aqui para ler a entrevista

Arquitectos moçambicanos querem criar ordem profissional até 2012

(“Janela da moda”, Morrumbala, imagem publicada no ma-schamba.blogspot.com)

Os arquitectos moçambicanos pretendem ter a sua Ordem a funcionar até 2012, após a nomeação quarta feira de uma comissão instaladora que delineará a proposta dos estatutos a submeter ao ministério da Justiça, disse hoje (quinta-feira) à Lusa José Forjaz.

O arquitecto acrescentou que, durante uma reunião de dois dias, terminada quarta-feira, em Maputo, um grupo de arquitectos decidiu criar uma comissão instaladora que se responsabilizará pela definição dos estatutos.

"O nosso cronograma prevê apresentar, em breve, a proposta dos estatutos ao ministério da Justiça, de modo a tornar possível que a Assembleia da República aprecie o documento logo na primeira sessão de 2012", afirmou.

José Forjaz acrescentou que a criação de uma Ordem dos Arquitectos em Moçambique se justifica por "não haver nenhuma organização que represente oficialmente a classe dos arquitectos e os seus interesses profissionais e culturais".

Segundo a fonte, um dos conceituados arquitectos do país, lembrou que actualmente Moçambique tem três Faculdades de Arquitectura, com diferentes formas de formação", pelo que "é necessária a criação de uma entidade que represente a classe profissional cuja responsabilidade social é importante".

Dada a demanda no sector das obras públicas, "torna-se urgente que haja uma organização que oficialmente diga quem deve exercer a arquitectura" no país, afirmou.

Honoris Causa em Educação para Janet Mondlane

A Universidade Eduardo Mondlane atribui a Janet Mondlane o título honorífico de Doutora Honoris Causa em Educação. O acto terá lugar no próximo dia 24, no Centro Cultural Universitário, no Maputo.

Para a atribuição desta honra, a Universidade Eduardo Mondlane justifica que é em reconhecimento do “inestimável exemplo de preocupação e compromisso com a causa da educação do povo moçambicano, antes, durante os tempos da Luta de Libertação Nacional, conduzida pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e no momento actual”.

E em reconhecimento à sua dedicação em prol da educação, o Conselho Universitário decidiu atribuir o título à viúva de Eduardo Mondlane, primeiro presidente da FRELIMO e arquitecto da unidade nacional.

Várias figuras do campo académico, político, cultural e social foram convidados para estarem presentes nesta cerimónia, que contará com a presença dos membros do Governo e personalidades nacionais e estrangeiras convidadas ao acto.

Janet Rae Mondlane nasceu em 1935, nos Estados Unidos. Em 1962 participou na fundação da Frente de Libertação de Moçambique, junto com Eduardo Mondlane e outras importantes figuras moçambicanas interessadas pela libertação do país do jugo colonial português.

Em 1963, Janet Mondlane tornou-se directora do Instituto de Moçambique, onde coordenava actividades de carácter educacional da FRELIMO. Mesmo depois da morte de Eduardo Mondlane, ela continuou a abraçar a causa dos moçambicanos dando, em 1969, prosseguimento ao seu trabalho no Instituto e constituindo-se como uma das personagens principais na luta pela libertação do país.

Depois da Independência de Moçambique, Janet Mondlane ocupou vários cargos de direcção, tendo sido directora do Ministério da Saúde. E de 1986 a 1992 trabalhou na Cruz Vermelha de Moçambique e, em 1996, institui a Fundação Eduardo Chivambo Mondlane.

Em 2000, foi eleita secretária executiva do Conselho Nacional de Combate ao SIDA (CNCS), onde trabalhou até 2003. Actualmente dedica-se à documentação da história de vida de Eduardo Mondlane.

A África dos Moçambicanos é uma “África”

Antônio Heberlê*

Não conheço toda a África, mas sei que muita gente quer participar do crescimento dos países africanos, por isso é comum encontrar pessoas de todo o mundo passando pelos países dessa parte do planeta. Gente curiosa, mas também que se interessa pelas suas riquezas minerais, pela energia, pelos transportes, pelas construções, pela agricultura e pelo comércio, que hoje a cortejam como nunca. A riqueza da região faz os olhos do mundo voltarem-se para o vasto e ainda pouco explorado território, onde ainda se pode encontrar leões à espreita de gazelas na plácida savana.

Além dos tradicionais turistas, o novo despertar da África é motivado pela estabilidade trazida pela onda de paz, já que foi só muito recente que as colônias do continente adquiriram independência dos jugos europeus e hoje os povos da região retomaram a autonomia dos seus destinos. Não foi sem guerras, mas a África está encontrando o seu caminho democrático aos poucos e o orgulho de ser africano já está nos alvos sorrisos que cruzam alegres as ruas e as ruelas locais.

O africano é, por natureza, um povo festivo, cantante e dançante, ainda que as marcas do sofrimento permaneçam no dia-a-dia e tornem-se completamente desumanas nas regiões desérticas, onde a fome impera em meio a fuzis. Mas, apesar disso, emerge uma nova África, que tem, na terra de Mandela, um grande espelho.

Todo africano sabe que Johanesburgo é outra coisa e isto tem servido de incentivo para se acreditar que é possível vencer preconceitos e construir nações independentes e produtivas com o que restou de dignidade após o cheiro de pólvora que ficou suspenso no ar.

Moçambique, por exemplo, é um país rico de recursos naturais que se fortalece por entre as sombras das guerras internas recentes, que refletem a luta pelo aprendizado em se transformar povos servis em democracias modernas. Isto não é nada fácil, porque tende a queimar as etapas naturais da evolução política, sempre lenta e sustentada por interesses diversos.

Então se poderia perguntar por que Moçambique está indo em frente com passos firmes. A resposta é simples. O país tem um potencial imenso para evoluir em todas as áreas. Explora ao seu compasso tudo o que tem e, por isso, é alvo dos desejos imediatos do progresso acelerado, ávido de retornos. Mas não nos enganemos, porque o sofrimento faz perder a ingenuidade, e Moçambique está aprendendo o que fazer com a sua autonomia, uma coisa que precisa ser resgatada, principalmente em cada cidadão e cidadã, antes acostumados a dizer sim, sim, meu amo, meu senhor.

Viver em liberdade nem sempre é fácil, porque, sorrateiramente, tem alguém esperando, querendo levar vantagem. Mas o povo moçambicano está ciente de que precisa escrever a própria história, com erros e acertos, sabendo de quem depende para tomar o melhor caminho. De si mesmo.

Antes eu não entendia por que, quando se quer dizer que uma coisa é imensa, quase sem limites, diz-se que é uma “África”. Hoje sei. Porque a única forma de perceber esse lado do planeta, sua vida e cultura é andar com eles, nos seus ritmos, conviver com as pessoas, ouvir suas histórias e perceber os significados de, por vezes, elas ficarem caladas, pensativas e responderem com a gentileza de um sorriso singular, o que para bom entendedor é uma África de sinceridade, de brandura e muita história pessoal.

* Professor da UCPel, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, consultor da Embrapa na África

“A Italiana”: Anulado leilão da última obra de Malangatana

O leilão da última obra de Malangatana, “A Italiana”, vai ficar sem efeito, revelou ontem à Lusa o filho do artista, Mutxhini Malangatana, afirmando que as licitações para o automóvel ficaram bastante aquém do “valor pretendido”.

“Não foi vendido, porque não atingiu o valor pretendido”, disse Mutxhini Malangatana, justificando que a oferta deveria situar-se “no triplo” da única proposta pública conhecida, de 150 mil dólares oferecidos pelo Banco Comercial e de Investimentos (BCI), do qual a Caixa Geral de Depósitos é accionista maioritário.

Em Maio, a Fundação Malangatana, em conjunto com a empresa João Ferreira dos Santos, doadora do automóvel Fiat 500, lançou o leilão da obra, na internet.

A obra consiste numa pintura sobre a superfície do automóvel. O leilão, que terminou no dia 6 de Julho, apenas obteve duas propostas, mas apenas a do BCI foi tornada pública.

Mutxhini Malangatana disse ainda à Lusa que “A Italiana” irá novamente a leilão, mas, desta vez, este será feito “directamente por especialistas na área”, apontando um prazo nunca “inferior a dois anos”.

“A Italiana” foi a última e única obra do género de Malangatana Valente Ngwenya, que morreu em Janeiro deste ano, em Matosinhos, Portugal, aos 74 anos.

Vasco da Gama vai ser “transferido” para o Museu Regional de Inhambane

O Governo português, através da sua representação em Maputo, garantiu já o financiamento da transferência da estátua do descobridor luso, Vasco da Gama, do local onde se encontra actualmente para o Museu Regional de Inhambane.

Vasco da Gama, um navegador português, aportou a actual cidade de Inhambane em 1498, rezando a história que terá sido ele quem atribuiu o título de “Terra de Boa Gente” à capital provincial, fama que tem vindo a despertar curiosidadede pessoas de muitas nacionalidades.

Em declarações ontem ao “Diário de Moçambique”, o presidente do município de Inhambane, Lourenço Macul, confirmou existir já garantias, da parte da embaixada de Portugal em Maputo, de libertação do valor para o trabalho da transferência da estátua para o museu.

“Fizemos um pedido de financiamento à embaixada de Portugal e já garantiu que vai nos financiar. E houve garantia de que os fundos serão disponibilizados dentro de um mês”, disse Macul.

Segundo o edil, o valor, estimado em cerca de 250 mil euros, servirá para a construção da base para assentar a estátua e outras beneficiações no Museu regional de Inhambane localizado na cidade capital.

“Logo que recebermos os fundos, vamos arrancar com as obras de tal forma que até ao final do ano poderemos ter já transferida a estátua”, sublinhou.

A um tempo, a edilidade local pretendeu criar uma Praça de Turismo com a estátua e nome de Vasco de Gama, o que terá sido desanconselhado pelo governo provincial.

“A estátua de Vasco da Gama existe. Mas o local onde está agora não é muito adequado. Por isso, preferimos transferí-la”, frisou, disse o edil da cidade de Inhambane.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

“Amuletos que me valorizam”: Fotojornalista moçambicano Alfredo Mueche ganha prémio da SADC

(Imagem de AMueche)

O fotojornalista Alfredo Mueche, do semanário Domingo, é o vencedor do Prémio de Jornalismo da SADC 2011, na categoria de fotojornalismo.

O prémio ser-lhe-á entregue durante a cerimónia de abertura da Cimeira Ordinária da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), que hoje arranca na capital angolana de Luanda.

Alfredo Mueche encontra-se naquele país, para onde foi convidado para estar presente na reunião daquele organismo regional.

Esta é a terceira vez que o fotojornalista do domingo é distinguido com o prémio da SADC. Em 2006 ele arrecadou a distinção com um trabalho fotográfico sobre a problemática do HIV/SIDA em África, com uma série fotográfica que ilustra o drama em Moçambique.

E em 2010, Mueche viria a repetir a proeza, mas desta vez com um trabalho que ilustra a crise de água.

Entre outros prémios, Alfredo Mueche foi também galardoado em competições organizadas pelo Media Institute of Southern Africa (MISA), Organização Mundial da Saúde (OMS), Conselho Nacional de Combate ao HIV/SIDA (CNCS) e da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Sobre os prémios que vem amealhando, o fotojornalista refere-se a eles como sendo “amuletos que me valorizam”. Segundo ele, longe de se sentir prestigiado encara cada premiação que recebe como um compromisso para fazer mais.

sábado, 13 de agosto de 2011

Tânia Tomé nomeada para o MOAMA’s junto com Agelique Kidjo, Kaysha e outros nomes sonantes

(Tânia Tomé, vencedora do prêmio Soundcity do Channel Africa’ 2010)

Depois de ter ganho o prémio de música de África no Soundcity music award 2010, com a sua composição “Nhi Ngugu haladza”, a cantora e poetisa Tânia Tomé foi nomeada para o MOAMA’s 2011 (Museke onLine Africa Music Awards), que é uma importante agremiação de música de África.

Tânia Tomé junta-se assim a outros artistas internacionais também nomeados para este award 2011, entre os quais se destacam Angelique Kidjo, do Benin, Freshlyground, da África do Sul, 2 Face Indibia, da Nigéria, Nelson Freitas, Kaysha, da República Democrática do Congo.

Tânia Tomé esteve recentemente no Brasil onde apresentou as suas músicas inéditas que farão parte do álbum de música no qual está a trabalhar no presente momento.

Para Tânia é uma honra fazer parte mais uma vez de um award internacional onde desfilam cantores sobejamente conhecidos no panorama africano.

É mais um reconhecimento internacional do seu trabalho com a música, já que, para além desta nomeação, a cantora e poetisa conta com três prémios de músicas internacionais. Sem grandes promessas, ela espera não obstante e face a todos obstáculos poder ver o seu CD concretizado em 2012.

Tânia Tomé é cantora, compositora, poetisa e economista.

Como cantora inicia a música com apenas três anos, tendo ganho o prémio internacional de música da África Austral organizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em Moçambique com apenas sete anos. E ganhou também o prémio de Música do FEP Canção em 2001 em Portugal, porto.

Já realizou “shows” em vários países desde Alemanha, Portugal, Botswana, Nigéria, África de Sul, Colômbia e vários outros.

Partilhou palcos com artistas renomados, entre os quais Lokua Kanza, Freshlyground, Asha, Tito Paris, Bonga, Otis e João Afonso.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Xikona Anga Xivona: Aos 75 anos Xidiminguana promete para breve um CD “mais apurado” que os sete anteriores

(Imagem da homenagem do músico no Franco-Moçambicano-Foto de Ouri Pota)

O veterano da música ligeira moçambicana, Xidiminguana, que semana passada viu os seus 75 anos de idade assinalados com um espectáculo no Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM), está para colocar no mercado mais uma obra musical de sua autoria.

O autor da popular canção “Xikona”, que anda nas lides musicais já lá vão 60 anos e sete álbuns editados, revelou que o proximo, com 13 faixas, deveria ter sido lançado no espectáculo da semana passado, o que não aconteceu devido à falta de patrocínio para a edição do álbum. A produção e edição é do próprio autor.

Numa entrevista que recentemente concedeu ao jornal Notícias, Xidiminguana disse que o próximo CD é o mais completo que já produziu, quer em termos de orquestração, quer do conteúdo das próprias músicas.

Um naipe de grandes músicos participação na gravação da nova obra, nomeadamente Baba Harris, Filipinho, Félix Moya, General Muzka, Sima, Stélio, Bino, Eduardo Massango, Nene, João Cossa e o músico dinamarquês Jorgen Messell.

Contou ainda com a participação dos falecidos músicos Tony Django e Pilecas.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Cidade da Beira na rota do turismo moçambicano: Festival do Estoril poderá arrancar em Dezembro

A Outro Nível, uma empresa de marketing e publicidade, submeteu semana passada o projecto de turismo cultural denominado “Festival do Estoril” ao Governo de Sofala e ao Conselho Municipal da Beira, segundo revelou ao Diário de Moçambique (DM) o seu director-geral, Joaquim Todo Júnior.

Trata-se de uma iniciativa que se pretende seja igual as que acontecem amiude em praias de outras zonas da região centro do país como, por exemplo, o Festival de Zalala, em que se promove o potencial cultural e turístico da província da Zambêzia.

Todo Júnior explicou ao DM que se pretende que o Governo seja um parceiro nesta iniciativa, uma vez que os objectivos do evento convergem com a pretensão geral de promoção do turismo e a cultura na província de Sofala.

“O projecto já deu entrada nas Direcções Provinciais da Educação e Cultura, Turismo e Comérico, bem como no Conselho Municipal da Beira. Achamos que esta cidade tem riquezas culturais, havemos de envolver artistas locais e não só, pretendemos vender a imagem turística que a Beira tem, a cidade está a precisar duma iniciativa deste género”, afirmou. Referiu que em Zalala não havia um empreendimento turístico antes da realização do seu festival, “mas agora, depois da primeira edição, está sendo erguido um hotel, o que ilustrativo de como este tipo de eventos despertam o interesse dos investidores da área do turismo. É o que pretendemos fazer aqui”.

A praia de Estoril está localizada no bairro de Macúti, na cidade da Beira.

O director-geral da Outro Nível acrescentou que a primeira edição do Festival Estoril está programada para o mês de Dezembro, prevendo-se a presença e actuação de multifacetados artistas musicais de Sofala, entre eles, Jorge Mamad, Madala, Júlia Duarte, Valdemiro José e Neyma. A música moçambicana de raiz far-se-á presente, sendo que do estrangeiro, está programada a vinda do Puto Português e Yola Semedo.

“A Praia do Estoril é um local de que a cidade da Beira pode-se orgulhar, é uma das mais lindas que o país tem, um ponto de referência da província de Sofala. Programamos para Dezembro o evento porque os estudantes estarão de férias, é importante envolvê-los nesta actividade, para além de que nessa altura muitos turistas estarão de visita ao país”, disse Joaquim Todo Júnior. Segundo a fonte, são necessários 630 mil meticais para as despesas básicas do “Festival do Estoril”.

“Bitonga Blues”: As crónicas do “Gitonga” Alexandre Chaúque vão sair em livro em setembro


O jornalista e escritor Alexandre Chaúque lança no próximo dia 12 deste mês, na cidade de Inhambane, o seu livro de crónicas intitulado “Bitonga Blues”. Esta é a segunda obra de Chaúque, depois de em 2002 ter saído com “Inhambane sem badalo”.

A obra, com 103 páginas, comporta vinte e duas crónicas seleccionadas de um conjunto de textos publicados no jornal A Verdade, onde assinava uma coluna com o mesmo nome. Chaúque iniciou a coluna “Bitonga Blues” no matutino Notícias. São crónicas fictícias, mas que partem de uma realidade vivida e testemunhada por vezes.

A apresentação do livro será feita pelo escritor Ungulani Ba Ka Khosa, amigo do autor de “Bitonga Blues”. O lançamento desta obra irá coincidir o da cidade de Inhambane.

As crónicas que estão patentes no presente livro não reflectem o percurso do escritor de escrita, contando ainda com um grande manancial de textos por publicar. É por isso que já está a preparar outros dois livros de crónicas, nomeadamente “Palavras de Resgate” e “Entrevistas Fiticias” que poderão ser lançados no próximo ano.

Na nota de apresentação, o autor faz questão de logo avisar: “com certeza não vai caber a mim explicar o sentido deste livro que lhe é presente”, porém explica que ele resulta de um “impulso irresistível que senti no âmago, após publicação, em cerca de um ano – entre 2008 e 2009 – de crónicas, no jornal “A Verdade”.

Na obra, Alexandre Chaúque evoca lugares e nomes de pessoas e sentimentos que lhe trespassam o espírito, tudo amalgamado num sonho que lhe habita permanentemente. “É um gozo maravilhoso.

Durante o período em que eu publicava no ‘A Verdade’ tinha o demónio que me dava estas crónicas e recebia-as com júbilo, para depois as passar para os outros”, diz.

E quanto à grafia correcta que, segundo diz, não se escreve bitonga e sim gitonga, Chaúque explica: “Eu sei que não devia escrever Bitonga Blues, mas Gitonga Blues. E eu fiz isso em consciência, de propósito, pois sinto-me no direito de subverter as palavras, de aceitar a corruptela”.

sábado, 6 de agosto de 2011

Ilha de Moçambique: Dificuldades naturais e humanas não impedem a vontade de investir no turismo

A Ilha de Moçambique, na Província de Nampula, tem sido um ponto de convergência de turistas de vários pontos do mundo, atraídos pela sua diversidade cultural, espectacularidade das suas praias e, sobretudo, pela raridade do traço arquitectónico dos seus edifícios, alguns dos quais com mais de 500 anos de existência. Daí ter sido declarada património da mundial da humanidade, em 1991 pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

O aspecto de ruína desta que foi a primeira capital de Moçambique está a ser alterada com o aparecimento de alguns novos edifícios, maioritariamente destinados ao turismo. Só este ano, as autoridades municipais da Ilha de Moçambique falam do surgimento de pelo menos três estâncias turísticas, entre pequenas e médias, com potencial para a criação de mais de 40 postos de trabalho.

O principal problema para a optimização destas inicativas reside fundamentalmente na logística: quase todos os produtos industriais que são servidos aos turistas só podem ser adquiridos ou na cidade de Nampula ou em Nacala, locais distantes uns bons quilómetros.

O constrangimento logístico é também devido às restrições de peso impostos na ponte que dá acesso à ilha, o que obriga os agentes económicos a ter que transportar as mercadorias em pequenas quantidades, a partir do Lumbo até ilha, o que só pode ser feito apenas com viaturas ligeiras. Mas isso não impede que os investidores apliquem o seu dinheiro porque acreditam que aquele local é ponto estratégico para os seus negócios.

Curiosamente, entre os habitantes da ilha são poucas as pessoas que têm no turismo a sua principal actividade de renda, sendo que a maioria se dedica fundamentalmente ao pequenos comércio e à produção de sal. Os jovens empreendedores locais, que recentemente se reuniram com o ministro da Planificação e Desenvolvimento, Aiuba Cuereneia, consideraram a actividade turística como sendo algo que exige habilidades adicionais, para além de que a clientela é maioriatariamente estrangeira.

Nova estância em construção

DC Terblanche é um empresário que apesar das dificuldades logísticas e do deficiente saneamento de meio, nalguns bairros, acredita na viabilidade da Ilha de Moçambique como destino turístico. É de origem sul-africana. Na Ilha de Moçambique está a construir um restaurante/bar mesmo junto a praia, com capacidade para cerca de 300 pessoas.

Até ao estágio actual das obras, o empreendedor diz ter investido mais de dois milhões de randes, esperando que até ao fim da construção sejam gastos outros dois milhões. Na fase de laboração, segundo garantias dadas por DC Terblanche, a estância poderá empregar pelo menos 40 pessoas, número que poderá subir com o andar do tempo, já que estão previstos outros projectos paralelos ao principal.

A obra está a ser executada no meio de muitas dificuldades, por um lado a falta água e, por outro, custo alto do material de construção, que tem só pode ser adquirido, à semelhança de outros produtos, em Nampula ou Nacala.

“Mesmo assim a Ilha continua a levar alguma vantagem em relação à Ponta D’ouro sem grandes oportunidades para comprar seja o que for. É preciso ir a Maputo por tudo e por nada. Na Ilha temos uma estrada asfaltada, daí que ir à Nacala ou à Nampula não é muito difícil”, DC Terblanche.

Sobre o o seu interesse na Ilha de Moçambique, Terblanche afirma que reside no facto de que “se trata de um património mundial que é tudo para o turismo. Pode trazer qualquer cliente para aqui, porque todos querem visitar a fortaleza São Sebastião e ver golfinhos”. Explicou que na Ilha de Moçambique a afluência de turistas tem um carácter sazonal. “Agora estamos no período de turistas, mas há um mês não estava cá ninguém”, referiu.

DC Terblanche descobriu a oportunidade de investimento numa das suas visitas de férias à Ilha de Moçambique. Até então o seu contacto com Moçambique limitava-se à Ponta D’ouro, sul da província do Maputo, onde ele detém uma estância turística.

(Com jornal Notícias de Maputo)

Fotografia: Maputo acolhe exposição de 124 retratos sobre Moçambique feitos por cinco autores de várias nacionalidade

O Instituto Camões em Maputo vai expôr até ao dia 26 deste mês um total de 124 fotografias, de cinco autores, com cinco temas que retratam uma viagem à descoberta de Moçambique. A Exposição “Moçambique – Retratos da Minha Alma” pode ser visitada nas instalações do Instituto Camões – Centro Cultural Português de Maputo.

Os autores (Ana Roque de Oliveira, Glória dos Santos, Joachim van Staden, José Sá Pereira e Tjaart van Staden) têm idades variadas e são oriundos de diversas proveniências, nomeadamente, África do Sul, Angola, Moçambique e Portugal, com formações distintas, desde a engenharia do ambiente à engenharia botânica, à ciência ambiental, passando pela gestão de empresas turísticas, entre outras.

Sendo autodidatas. A arte da fotografia surgiu-lhes no caminho pela necessidade de registar a sua própria viagem por Moçambique, como afirma Glória dos Santos, trazendo na memória da sua Nikon um pouco da alma do povo de lugares remotos deste país e o cientista ambiental Joachim van Staden, passou, também, a retratar a essência da alma das gentes de Moçambique, segundo informa o Instituto Camões.

(RM/Africa21)

“Esta exposição retrata uma viagem por Moçambique. Uma viagem plena de paixão, de descoberta, de beleza, e de infindáveis surpresas. Esforçaram-se os artistas por compartimentar as suas emoções em cinco temas bem definidos, e idealizaram, assim, uma mostra organizada, por retratos, vida rural e vida na fronteira com o Índico, modos de vida e paisagens.”, In Ma-schamba.com

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Afonso Dhlakama ameaça dividir Moçambique «em pedacinhos»

O líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, afirmou que Moçambique pode ser «dividido em pedacinhos» se a FRELIMO não aceder à sua proposta de um governo de transição para o país, e disse ser essa situação «um mal pequeno».

«O governo de transição vai ter como tarefa despartidarizar as instituições do Estado. Hoje, até para um aluno passar de classe tem que ir ao comício do (Presidente da República, Armando) Guebuza. Queremos parar com esta situação pacificamente e, se não aceitarem, Moçambique vai ser dividido ao meio, acabou», ameaçou Dhlakama numa entrevista à agência de notícias portuguesa, Lusa, em Quelimane, capital da província da Zambézia.

O líder do maior partido da oposição falava antes de iniciar uma digressão por aquela província, que já foi uma praça-forte da RENAMO mas que hoje vota maioritariamente na FRELIMO.

Leia a entrevista na íntegra de Afonso Dhlakama

+ 'Se a FRELIMO não ceder, Moçambique pode ser dividido'

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Entrevista: Para o escritor Mia Couto, o Brasil é um tio rico, mas distante de Moçambique


Um tio rico, mas distante culturalmente. É assim que Moçambique enxerga o Brasil, na opinião do escritor Mia Couto.

Aos 56 anos, o autor de "Terras Sonâmbulas" (considerado um dos 12 melhores livros africanos do século 20), "O Voo do Flamingo" e outras 24 obras retorna ao País (Brasil) para participar em alguns eventos. Nesta quarta-feira (dia 3), dirigiu uma aula-palestra para alunos do 3º ano do ensino médio do colégio São Luiz, em São Paulo.

"Já me sinto um morto!" Com um misto de brincadeira e espanto, Mia Couto fala ao iG (site brasileiro) sobre ter os seus livros lidos em escolas brasileiras, que normalmente reservam os seus currículos para os cânones da literatura. "Fico feliz que esses livros possam chegar a pessoas mais novas. Mas, por outro lado, o que deveria ser feito são aulas de literatura, de expressão criativa, como suporte para o ensino de uma língua. Quando estudei os autores, eu os odiava. Era algo frio, pouco literário, não era um convite a ler e a escrever."

Couto diz que perdeu a conta de quantas vezes veio ao Brasil. Mas, questionado sobre o número de livrarias existentes no seu país, não titubeia: "Dá para contar nos dedos de uma das mãos".

Não é de espantar que Moçambique tenha tão poucas livrarias e que Mia Couto seja (muito) mais lido em Portugal e no Brasil do que na sua terra natal.

A língua oficial de Moçambique é o português, mas fala-se pelo menos outras 20 neste país de 22 milhões de habitantes que vive de exportações do camarão, algodão e cajú. No relatório do Índice de Desenvolvimento Humano de 2010 da ONU, Moçambique aparece na 165ª posição, à frente apenas de Burundi, Níger, República Democrática do Congo e Zimbabwe (o Brasil está em 73º).

"Mas a situação está a melhor", diz o escritor, sobre o país na costa leste de África que foi colônia de Portugal até 1975 e que logo após a independência sofreu com uma violenta guerra civil que durou até 1992. Moçambique sabe o que é ser democracia há apenas 19 anos. "A democracia é um regime que não pode ser imposto, então há uma cultura democrática que está a nascer nas cidades. Isso não pode ser induzido artificialmente."

Com a devida vênia, transcrevemos a entrevista que Mia Couto concedeu ao iG.

iG: Quando foi a primeira vez que o sr. veio ao Brasil?
Mia Couto:
Foi em 1987, em função do livro "Sonha Mamana África", uma antologia de autores africanos feita por Cremilda de Araújo Medina. Mas quando cheguei foi como se já tivesse cá estado várias vezes. O Brasil é um território imaginário que povoou a minha infância. Então quando cheguei parecia um reencontro.

iG: Após tantos livros, a vontade de escrever, a intensidade ainda são as mesmas?
Mia Couto:
Ainda. O que mudou foi a relação não tão adolescente de, por exemplo, querer dizer tudo num só livro. Ficou mais madura a relação com a escrita, de não querer fazer bonito. Agora ela acontece mais natural. Não há uma busca imediata pelo bonito. O resto é a mesma coisa. Ajuda-me a não pensar na idade que eu tenho.

iG: Sente diferença em como os seus livros são recebidos em Moçambique, em Portugal e no Brasil?
Mia Couto:
Sim, há algumas diferenças, mas no geral o que conta é a história, é a relação das pessoas com a possibilidade de se evadir, de encontar na literatura um convite para repensar o mundo, para reinventar o mundo. Isso é comum. O que muitas vezes percebo é um certo reencontro com uma África que foi idealizada como um lugar de redenção por alguns brasileiros. Reencontrar em África tudo aquilo que foi perdido e que se acumula como frustração do seu dia a dia. Essa África não existe.

iG: O sr. já disse que a sua geração sofreu influências de Guimarães Rosa, de Jorge Amado, mas que, hoje, os africanos conhecem pouco ou nada do Brasil. Estamos culturalmente afastados?
Mia Couto:
Sem dúvida. Há um distanciamento. Há proximidades, que manifestam-se em áreas que não correspondem ao que o Brasil realmente é. Por exemplo, na área da novela, o Brasil está presente como nunca esteve. É pela via das novelas que os moçambicanos conhecem o Brasil. Mas é apenas uma ideia do Brasil. Na literatura houve um empobrecimento, os africanos não sabem o que está a acontecer no Brasil, sobretudo em relação aos novos autores.

iG: O Brasil actualmente é tido como uma força emergente no mundo. Isso é bom ou ruim para Moçambique?
Mia Couto:
É principalmente bom. Um membro da nossa família que tem esse peso no mundo, com as suas políticas externas, pode ser uma voz alternativa. É como ter um tio rico: encontramos nisso uma possibilidade de estarmos presentes no mundo, por via do outro.

iG: Como o senhor situa a narrativa dos seus livros com a tradição oral africana e moçambicana?
Mia Couto:
Não faço como uma missão, não me atribuo essa bandeira. Acontece porque não há outra maneira. Para falar daquilo que quero falar, tem de ser daquela maneira. É algo dominante.

iG: A identidade e o deslocamento permeiam os seus livros. Isso é fruto do contexto moçambicano ou africano?
Mia Couto:
De um contexto mundial. Hoje há uma opção pela busca de identidade, embora em África se manifeste de maneira mais dramática. Preocupa-se porque normalmente essa procura é objecto de manipulação. De repente é uma identidade que se funde na ilusão de haver uma pureza, de sermos nós próprios sem sermos os outros. A identidade só existe no plural.

iG: Há críticos que dizem que a sua literatura é mais intelectual do que física, que trata menos da miséria africana e mais de questões existenciais. O que acha disso?
Mia Couto:
Não aceito essas críticas, não é verdade. Esse lado mais físico, povoado de gente real está presente nos meus livros. A miséria está presente. Abordo de uma forma muito mais sensorial do que intelectualizada.

iG: O sr. não encerra os seus livros com um desfecho impactante, com alguma surpresa. Eles vão terminando aos poucos. Qual é a razão?
Mia Couto:
O final tem de ser construído pelo leitor. É um final em aberto porque a própria vida é assim, não?

iG: Moçambique foi colônia de Portugal até 1975, depois passou por uma violenta guerra civil e tornou-se uma democracia há menos de duas décadas. Como o sr. define a actual situação do país?
Mia Couto:
Está a melhorar. O que foi feito é um esforço enorme para se abrir ao mundo, às tendências do mundo. Um país com exercício democrático verdadeiro. A democracia é um regime que não pode ser imposto, então há uma cultura democrática que está a nascer nas cidades. Isso não pode ser induzido artificialmente.

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