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sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Francês Le Clézio é o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura

ESTOCOLMO - O mais prestigioso e cobiçado prêmio literário do mundo vai para o escritor Jean-Marie Gustave Le Clézio, anunciado nesta quinta, 9, o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 2008. A Academia considerou Le Clézio "um escritor da ruptura, da aventura poética e do êxtase sensual, explorador de uma humanidade além da civilização dominante". O escritor destacou-se como romancista com “Deserto”, uma obra que, segundo a Academia "contém imagens magníficas de uma cultura perdida no deserto do norte da África, com a descrição da Europa vista pelos imigrantes indesejados".

Com mais de 30 livros publicados, Le Clézio é o primeiro escritor nascido na França a ganhar o prêmio após Claude Simon, em 1985. Em 2000, o Nobel foi concedido ao escritor nascido na China, mas naturalizado francês Gao Xingjian.

Le Clézio disse ter ficado "muito comovido" ao saber que havia sido o escolhido. Contou que foi a sua mulher quem atendeu ao telefone e recebeu a notícia, da Academia sueca, enquanto ele estava a ler e a escrever. Em entrevista a uma rádio sueca, agradeceu "com muita sinceridade à Academia Nobel", dizendo que também à Suêcia a 25 de outubro para receber o prêmio literário sueco Stig Dagerman, que lhe foi atribuído em junho passado. Pouco antes da notícia do prêmio, Le Clézio disse a uma emissora de rádio francesa que a possibilidade de ganhar tal prêmio "é algo que nos leva a continuar a publicar, que dá vontade de continuar a escrever... Nós escrevemos para ser lidos, para encontrar respostas e essa é uma resposta".

O prêmio Nobel de literatura consiste em 10 milhões de coroas suecas (US$ 1,3 milhão), uma medalha de ouro e um diploma.

Le Clézio, de 68 anos, vive entre Albuquerque, no Novo México, nas ilhas Maurícias e em Nice, cidade francesa onde nasceu a 13 de abril de 1940. A sua forte ligação com as ilhas Maurícias, antiga colônia francesa conquistada pelos britânicos em 1810, vem do facto de os seus pais terem nascido lá. O seu pai era um médico inglês e a sua mãe, francesa. Aos 8 anos, mudou-se com a família para a Nigéria, onde o seu pai trabalhou como médico durante a 2.ª Guerra Mundial e aí começou precocemente a sua carreira literária, com dois livros: Un Long Voyage e Orandi Noir. Ele cresceu entre duas línguas, francês e inglês. Em 1950, a sua família voltou para Nice. Formado em Letras, estudou na França, na Inglaterra e fez a sua tese de doutoramento no México. É autor de romances, contos, ensaios, novelas, literatura infanto-juvenil, e ainda jovem, aos 23 anos, ganhou o prêmio literário Renaudot pelo seu livro Le Procès-verbal, chamando a atenção para a sua literatura. É casado e tem duas filhas.

Por ocasião do lançamento do seu livro A Quarentena, em 1997, o escritor concedeu uma entrevista ao jornalista brasileiro José Castello na qual admitia a influência de Os Sertões, de Euclides da Cunha, para compor um tipo de história que gosta, a da luta do homem com os seus limites. O seu romance reflecte a aventura da sua família, que emigrou da Bretanha, na França, para as Ilhaa Maurícias, ainda no século 18. Segundo Le Clézio, os livros que o influenciaram definitivamente para compor a sua obra foram os de Robert Louis Stevenson, como A Ilha do Tesouro e Kidnapped. Outro, segundo o escritor, foi Os Sertões, de Euclides da Cunha. "Eu diria que, ao começar a escrever A Quarentena, quis fazer um livro que ficasse entre Kidnapped e Os Sertões, isto é, que ficasse entre uma aventura literária e uma reportagem”.

Após tomar conhecimento da premiação, o escritor falou com os jornalistas na sede da editora Gallimard, que publica os seus livros, em Paris, cidade onde estava de passagem, fazendo uma escala entre a Coréia do Sul e o Canadá, fiel à sua fama de viajante incansável. "Escrever não é apenas sentar à mesa consigo mesmo, é escutar o ruído do mundo. Quando você está na posição de escritor percebe melhor o ruído do mundo, vai de encontro ao mundo", disse. Le Clézio, recomendou a leitura de romances, como "uma forma de questionar o mundo. O romancista não é um filósofo ou um técnico da língua, é alguém que faz perguntas e se há uma mensagem que eu gostaria de passar é que se façam perguntas."

Le Clézio afirmou que se sente francês, mas disse que a sua pátria está nas ilhas Maurícias, ex-colônia francesa de onde procede a sua família. Além disso, o escritor define-se como um apaixonado pelo México e a cultura latino-americana.

O prêmio

O vencedor do Prêmio Nobel de Literatura é sempre divulgado pelo secretário permanente Horace Engdahl, nos escritórios do século 18 da entidade, na parte histórica de Estocolmo. Engdahl causou polêmica ao menosprezar a literatura norte-americana na disputa pelo prêmio na semana passada. Disse que o país é demasiado insular e ignorante para competir com a Europa como centro literário do mundo. "Eles não traduzem o suficiente e não participam realmente do grande diálogo da literatura", disse Engdahl. "Essa ignorância é limitante", acrescentou.

Vários nomes figuraram entre os favoritos do ano, como o italiano Claudio Magris, o sírio-libanês Adonis, o americano Thomas Pynchon, a canadiana Margaret Awood e o japonês Haruki Murakami encabeçavam a lista de apostas para o prêmio deste ano.

A casa de apostas britânica Ladbrokes deu ao jornalista e acadêmico italiano Claudio Magris uma chance em três, seguido pelo israelita Amós Oz e pela norte-americana Joyce Carol Oates até a semana passada.
Phillip Roth, o favorito de 2007, caiu para quinto lugar na lista da Ladbrokes. Em último lugar, com uma chance em 150, ficou o cantor e letrista norte-americano Bob Dylan.

A romancista britânica Doris Lessing foi uma vencedora surpresa no ano passado.

Alfred Nobel, que fez fortuna ao inventar a dinamite, criou os prêmios para a paz, a literatura e várias ciências no seu testamento, em 1895. Os prêmios foram entregues pela primeira vez em 1901 e um prêmio adicional, para a economia, foi estabelecido em memória de Nobel, em 1968.

Os prêmios são entregues a 10 de dezembro, data da morte do fundador do prêmio, Alfred Nobel, em 1896.

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