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quarta-feira, 28 de maio de 2008

No turbulento mês de maio de 1968, a música teve um dos seus momentos de ouro

1968 pode não ter representado um divisor de águas na música internacional como 1967, ano da inovação trazida pelos Beatles em "Sgt. Pepper's lonely hearts club band", ou os dias de 1977 da explosão do punk. Mas trouxe artistas dentro de sua maturidade criativa e obras extraordinárias, caso dos mesmos Beatles com o "Álbum Branco" ou Jimi Hendrix e o seu ambicioso "Electric ladyland". Estes dois álbuns, considerados actualmente peças fundamentais na história do pop, são apenas os primeiros de uma fila de discos que foram lançados em 1968 e permanecem relevantes até hoje.
O ano de 1968 foi agitado em todo o mundo. Nos Estados Unidos havia movimentos pacifistas (contra a guerra do Vietnam) e contra o racismo. Na Europa, estudantes rebelaram-se contra as autoridades.

Stones e Beatles
De uma forma geral, o período trouxe obras que têm repercussões ainda presentes. Os Rolling Stones lançaram "Beggars banquet", considerado uma volta à forma após a tentativa de embarcar na onda da psicodelia, e também trouxeram como compacto a poderosa "Jumpin' jack flash". Os Beatles também fizeram um movimento similar, com "Hey Jude" no lado A e "Revolution" no lado B, faixa em que Lennon declarava que "todos nós queremos mudar o mundo".
Foi o ano também em que Simon & Garfunkel gravaram a trilha sonora de "A primeira noite de um homem", alavancada por "Mrs. Robinson", que Elvis Presley fez num retorno triunfal num especial de fim de ano, salvando uma carreira em declínio, e quando o Led Zeppelin se formaria para se tornar poucos anos mais tarde "a maior banda do mundo". 1968 foi o período em que os grandes nomes já haviam experimentado bastante (em vários sentidos) e agora já tinham uma noção mais bem definida de quais caminhos poderiam tomar - mesmo que isso acontecesse de forma mais instintiva ou inconsciente.
Ideologicamente, as duas principais bandas da época se encaminhavam para lados diferentes. Lennon falava em paz, depois de uma temproada na Índia, e Mick Jagger se empolgava com a rebelião nas ruas. A já citada "Revolution", dos Beatles, dizia que "quando você fala sobre destruição, você já não pode contar comigo". Jagger escreveu os versos de "Street fighting man" (algo como homem das lutas de rua) inspirado na turbulência política de 1968.
A Guerra do Vietnam também já motivava pessoas, em pleno ápice do movimento hippie e da contracultura, o que estimulou uma série de composições de protestos.
E no Brasil, como foi?
Maturidade não era exactamente a palavra que vinha instantaneamente à cabeça quando era necessário descrever o que se passava no Brasil de então. Era uma época de experiências e de controvérsia quanto a qualquer tipo de proposta.
A jovem guarda entrava em decadência, mas Roberto Carlos brilhava cada vez mais como estrela - seria o vencedor do festival de San Remo, na Itália -, e logo não se vincularia a qualquer grupo específico. Dentro de pouco seria coroado como o maior cantor do país.
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Pra Não Dizer Que Não Falei De Flores (Caminhando)
Geraldo Vandré
Caminhando e Cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Caminhando e Cantando e seguindo a canção
[refrão:]
Vem, vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Vem, vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Pelos campos a fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordoes
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão
[refrão]
Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quarteis lhes ensinam uma antiga lição
De morrer pela pátria e viver sem razão

[refrão]
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a historia na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição
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Os festivais
Mas a grande efervescência estava nos festivais e na chegada do movimento tropicalista. Os fãs da música e os militantes políticos envolviam-se em embates durante as eliminatórias. A ditadura militar engrossava o chumbo e havia muita agitação, divisão e patrulha ideológica.
Caetano Veloso e os Mutantes conclamavam "É proibido proibir", e dois nomes hoje institucionalizados da música brasileira, Chico Buarque e Tom Jobim, eram vaiados porque sua "Sabiá" era escolhida pelo júri do Festival de 68 em detrimento da engajada "Pra não dizer que não falei de flores", de Geraldo Vandré.
Era também a época em que a guitarra elétrica na música brasileira foi considerada uma heresia para muitos, tornando o tropicalismo, com a sua união de brasilidade e não-brasilidade, motivo de discórdia. Outros viam neles falta de engajamento político.(X)

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