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sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Woody Allen fala sobre 'Vicky Cristina Barcelona'

LOS ANGELES - Woody Allen é visto há muitos anos como gênio do cinema norte-americano, com trabalhos de roteirista que datam dos anos 1960 e grandes sucessos de direcção como "O Dorminhoco" e "Hannah e Suas Irmãs".
Ele recebeu o Oscar de melhor direcção por "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" ("Annie Hall"), de 1977, e foi indicado ao Oscar pelo roteiro de "Ponto Final - Match Point", de 2005.
Nos últimos anos, a crítica especializada vem fazendo pouco de muitos dos seus trabalhos. Mas não é o caso da sua mais recente comédia romântica, "Vicky Cristina Barcelona", que estréia nos Estados Unidos nesta sexta e vem sendo elogiada.
O filme fala dos assuntos românticos de duas turistas norte-americanas (Scarlett Johansson, Rebecca Hall) e dois artistas espanhóis (Penelope Cruz, Javier Bardem).
Woody Allen reservou alguns minutos para falar à Reuters sobre o filme e sua vida.

PERGUNTA: Antigamente o sr. filmava apenas em Nova York; mais recentemente, filmou em Londres. Por que mudou para Barcelona?
RESPOSTA: Eu tinha o embrião de uma história e sabia que ela poderia funcionar numa cidade exótica. Barcelona começou a dizer "vamos financiar um filme seu. Venha para cá". Eu achei que a história funcionaria muito bem em Barcelona. Não é preciso que seja Paris ou Roma. Barcelona é uma das cidades mais encantadoras da Europa.
P: E Penelope Cruz veio lhe procurar para pedir o papel da artista excêntrica - ou louca, como diriam alguns.
R: Ela disse que sabia que eu faria um filme na Espanha e que adoraria participar. Ela é tão linda e é uma actriz tão forte. Achei melhor contratá-la imediatamente, enquanto ela estava interessada e antes que mudasse de idéia.
P: O facto de sair de Nova York e trabalhar em cidades como Londres e Barcelona alargou o âmbito de suas histórias?
R: Sim, simplesmente por ir a um país estrangeiro e estar num ambiente completamente diferente. O facto de que, neste filme, trabalhei com pessoas que não falavam a minha língua obrigou-me a ter idéias muito diferentes. Eu não poderia ter feito "Match Point" na Espanha.
P: Parte do filme trata de pessoas que convivem com seus desejos e anseios não realizados. Você acha que a maioria das pessoas vive assim, ansiando por coisas que desejaria ter feito ou deveria ter feito?
R: Sim. Muitas pessoas desejam mais da vida e não sabem exactamente o que é. Elas sabem que tem que haver algo mais na vida, algo mais interessante, mais romântico, mais apaixonante, mais realizador.
P: É triste.
R: Sempre tive uma visão muito triste de tudo. Essa sempre foi uma crítica feita a minhas comédias, para melhor ou para pior. Quando eu era humorista que fazia shows ao vivo, já havia um elemento de melancolia em meu humor. Desde que comecei a fazer filmes, sempre observaram que havia um elemento de tristeza neles.
P: Você se vê como alguém que tem sonhos não realizados?
R: Com certeza tenho algumas coisas que lamento em minha vida. Tive a sorte de entrar em um relacionamento melhor - o melhor de minha vida - já com alguma idade. (Em 1997, Woody Allen se casou com Soon-Yi Previn, filha de Andre Previn e da atriz Mia Farrow, que tinha sido sua companheira havia muitos anos.) Mas toda a fase anterior de minha vida foi brutal. Passei de um relacionamento que não funcionou para um casamento que não funcionou, para outro relacionamento que não funcionou e para outro casamento que não deu certo. Finalmente, sem qualquer planeamento de minha parte e pelo mais puro acaso - o acaso mais inesperado -, me vi num relacionamento com a pessoa mais improvável, e ele vem dando muito, muito certo para mim.
P: E você foi muito criticado por isso.
R: O público não tem relação alguma com minha vida. Não devo nada ao público por minha vida pessoal. Quem são as pessoas para me criticarem por minha vida pessoal? Seria como se eu fosse a suas casas e lhes desse a minha opinião sobre seu casamento ou sobre como elas criam seus filhos. Elas não têm interesse na minha vida e eu não tenho interesse nas vidas delas.
P: A recepção dada a "Vicky Cristina Barcelona" vem sendo boa. Isso deve ser gratificante.
R: Se você não tivesse mencionado isso agora, eu nem ficaria sabendo. Terminei este filme há vários meses, e, quando termino um filme, não sinto mais o menor interesse nele. Já recebi óptimas críticas de filmes que não ganharam um dólar nas bilheterias. Recebi críticas negativas de outros, e isso nunca significou nada. O facto de lhe chamarem de grande não faz você ser grande, e o facto de dizerem que um trabalho é terrível não o torna terrível. Eu me lembro de, anos atrás, voltar para casa depois de ter um grande triunfo com "A Última Noite de Boris Grushenko" ("Love and Death") e, mesmo assim, a garota do apartamento em frente não quis sair comigo. Eu estava em casa, sozinho, comendo comida chinesa directamente da embalagem, sem nada a fazer excepto assistir à televisão. O sucesso nunca significa nada.

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