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segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Fim de semana alucinante sob os efeitos do Mwaken Mwalo

Não sou muito dado aos prazeres da gastronomia ao ponto de reservar um fim de semana para, de avental, bermudas e t-shirts, me aventurar a confeccionar iguarias à minha “manera”.
Quando muito atiro-me com algum prazer a qualquer coisa que se me deparar à mesa, de preferência verduras do tipo caril de couve (makhofo) ou mathapa com camarão, seco ou fesco, tanto faz. E com piri-piri “sacana”, ressalvo.
No último fim de semana (9/10) a rotina foi quebrada. Meio quebrada para ser mais exacto, porque decidi trocar um bom livro e boa música por empreender uma incursão pelo mundo dos tachos e cheiros afins. E não me saí nada mal como, aliás, o viria a comprovar quando, já de papo cheio e a passar por uma merecida sesta a meio da tarde, “viajei” por mundos estranhos, mas mesmo assim interessantes. A modos que, passei um “Fim de Semana Alucinante”.
A vontade súbita de vestir o avental e incomodar a eterna cozinheira lá do “Sítio” foi movida pelas primeiras imagens que se depararam após pular do catre: um piripireiro todo vermelho a servir de pasto à passarada, os canteiros de alho a suplicar que os colhesse e uma garrafa de aguardente de cajú (Makwen Mwalo) na prateleira. Da cozinha sentia-se o cheiro de codernizes estofadas já prontos para uma boa garfada.
O cenário era por demais convidativo para fazer algo de diferente: do arbusto colhi uma boa fornada do “sacana” e da terra molhada arranquei dois ou trés pés de alho e dos ramos secos do loureiro parti algumas folhas. Trés ingredientes do meu chão que tive o prazer de os transformar, daí a instantes, numa massa pastosa à custa de umas batidas no pilãozinho de pau-preto comprado há vários anos a um escultor maconde.
Evidentemente que aquela “polpa” não era de modo algum para mascar. Destinava-se sim a servir de “abre-apetite” a quem, como eu, não é dado muito aos prazeres da gastronomia. A “polpa”, algo entre o vermelho e o castanho, foi parar no interior do que foi um dia o frasco de café colombiano. Saiu então um piri-piri “filho da p...” embebido em vinagre caseiro e o “Makwen Mwalo” de cajú.
Perguntar-me-ão como é que aquela mistela não explodiu. Não sei dizer mas de uma coisa estou certo: estava “maningue naisse”, facto aliás comprovado pelo Nuno, um puto de sete anos, que não tirava os olhos gulosos do frasco e que só não meteu lá a sua colheirada porque a mãe estava mas é de olho no petiz.
Já bem aviado e em plena soneca, a “viajem” tem início, desembocando daí a instantes num emaranhado de alucinações nunca antes experimentadas.
Vi-me derrepente numa aldeia da longíqua Memba onde um velho camponês me vende um garrafão de cinco litros de Makwen Mwalo acabado de desenterrar a um metro do chão, após ter lá permanecido cinco logos anos para apurar o teor do alcool e eliminar o cheiro a cajú.
Já em Maputo e em plena 25 de Setembro, vejo o Ricardo Rangel a atrapalhar o intenso trânsito, dançando nu ao som de John Coltrane e a gritar: “O fusion de Jimmy Dludlu não é jazz, meus senhores”.
O leitor quer passar pela experiência? Nada mais fácil. A receita está aí.
Mas atenção que a “paulada” varia de pessoa para pessoa. Por exemplo: ao defunto Niquinha podia dar-se-lhe a andar de facão em punho a esquartejar todo o ser vivente que se lhe atravessasse o caminho e aí, então, teriamos toda a malta a gritar: Makwen Mwalo, o que é macua, significa “arranquem-lhe a faca”.

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