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quinta-feira, 26 de junho de 2008

Clérigo egípcio pede que fiéis rezem menos e trabalhem mais

A preocupação com excessos na expressão da religiosidade por parte da população egípcia - que estaria a afectar a produtividade do país - levou um importante clérigo a recomendar que as pessoas rezem menos e trabalhem mais.
“Rezar é muito bom... dez minutos devem ser suficientes”, diz a fatwa, ou decreto religioso, do Sheik Yusuf Qaradawi, publicado na sua página na internet. Apesar de parecer uma contradição um religioso mandar os seus fiéis a rezar menos, a fatwa de Qaradawi foi elogiada por outros religiosos, que disseram que o Islão não se opõe à produtividade. Um estudo do governo egipcío concluiu que os seis milhões de trabalhadores estatais trabalham, de facto, apenas 27 minutos por dia. A influência dos hábitos ligados a prática da religião sobre a produtividade é perceptível no cotidiano. Muçulmanos devotos rezam cinco vezes por dia, duas delas durante o horário comercial diurno.
E nos últimos anos, o número de pessoas que abraçam a fé com maior devoção tem aumentado. Um dos motivos apontados são as cada vez mais numerosas escolas religiosas, ou as madrassas, abertas com dinheiro da Arábia Saudita, que ensinam uma vertente mais radical do islamismo sunita, o wahabbi, dizem os analistas do fenómeno. Além disso, num país que vive sob o comando do mesmo presidente há vinte e sete anos - em um regime secular com leis de emergência que restringem a actuação política -, muitos consideram que a religião é uma forma de expressar oposição e descontentamento para boa parte da população. A crise econômica que se abate sobre o Egipto é ainda outro factor apontado por aproximar as pessoas da religião. Em anos recentes, locais de trabalho e mesmo estabelecimentos comerciais passaram a disponibilizar espaços apropriados para as pessoas se ajoelharem e rezar.
Quanto maior a devoção, maior o status social da pessoa. O problema é que muita gente está a gastar um tempo cada vez maior neste ritual, que inclui a lavagem dos pés, mãos, braços, cabeça e rosto. E, se, durante a oração propriamente dita, a pessoa resolver recitar um dos versos maiores do Alcorão, a interrupção pode chegar a meia hora. O problema é que se o serviço levar oito horas, a pessoa está eximida de responsabilidade porque se assume que “Deus não quis”. Muitos consideram a expressão Inshallah, que se tornou um maneirismo linguístico, um símbolo da crescente religiosidade do país. Outro símbolo de devoção que vem ganhando prestígio, além do véu para as mulheres e o Inshallah, é a zebiba, ou ferida na testa das pessoas, sinal de que ela se curvou a ponto de tocar o chão por várias vezes. Vários crentes dizem acreditar que a zebiba, por ser desejável, pode ser fabricada artificialmente, por vezes usando um ferro quente.(X)

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