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sábado, 12 de novembro de 2011

Livro Kulugwana homenageia mulher moçambicana com 20 histórias de dignidade e coragem


“Os homens “‘são muitas vezes ausentes’”

As "histórias de coragem e dignidade" de 20 mulheres moçambicanas anónimas protagonizam o livro Kulugwana, que a congregação das Missionárias Dominicanas do Rosário lançam hoje (sábado) em Lisboa para assinalar 50 anos de presença em Moçambique.

"São 20 histórias de mulheres que lutam com muita dignidade, com muita resiliência e coragem para sobreviverem. As irmãs queriam dar voz a estas mulheres, não só por elas, mas também para servir de exemplo a outras mulheres", contou à Lusa uma das autoras, Maria Clara Silva, que recolheu os testemunhos em 2010, quando fazia voluntariado numa das missões da congregação.

Tudo começou há três anos, quando a congregação celebrou 50 anos de trabalho missionário em Moçambique e as religiosas decidiram "homenagear algumas mulheres, extraordinárias na sua capacidade de superação e de manter o ideal vivo apesar das dificuldades que têm", como disse à Lusa a irmã Deolinda Rodrigues, da congregação em Lisboa.

"Três voluntárias que estiveram na missão concretizaram esse sonho", acrescentou.

Nas 115 páginas do livro encontram-se as histórias contadas pelas próprias mulheres e escritas por Maria Clara Silva, acompanhadas de 20 poemas, bem como 20 fotografias, da autoria de outra voluntária, a enfermeira Maria Paz Souto Moura. Uma terceira voluntária, a designer Maria Teresa Fontes, encarregou-se do design.

Professora de geografia na zona de Torres Vedras, Maria Clara Silva passou quatro meses e meio como voluntária na missão da congregação no bairro das Mahotas, a cerca de 18 quilómetros de Maputo, e foi ali que conheceu as protagonistas do livro.

"É uma zona suburbana de Maputo. Uma zona de muita pobreza onde as mulheres lutam com muita dignidade pela sobrevivência e sempre com a cabeça erguida. Foi isso que mais me impressionou", disse.

Quanto às histórias, "todas têm um traço comum: a situação de extrema pobreza e muitas vezes de solidão", porque os homens "são muitas vezes ausentes".

A irmã Deolinda concorda: "Todas têm histórias de vida muito complicadas, muito duras. São pessoas que viveram a guerra, que têm histórias de isolamento, maus-tratos ou doenças graves como o VIH sida", conta.

"A dureza é o que transparece, isso e o desejo de querer ultrapassar, a força interior que têm para ultrapassar as dificuldades", acrescenta a religiosa, que recorda que quando há três anos houve uma catástrofe, na região de Inhambane, e as pessoas ficaram sem nada "as irmãs destacavam que não viram ninguém chorar".

"A reacção geral foi: Isto aconteceu, não temos nada, mas temos a vida. Vamos recomeçar. É muito expressivo da capacidade de luta da mulher" em Moçambique, contou.

Clara destaca por seu lado as monitoras do centro social da congregação nas Mahotas, que são alfabetizadoras: "Começam analfabetas e chegam a professoras".

O livro, cujo título em ronga é um grito de exaltação e alegria, foi lançado em Julho em Moçambique e é apresentado hoje (sábado) à tarde na livraria Ler Devagar, em Lisboa. Custa 10 euros e o valor reverte para bolsas de estudo em Moçambique.

As Missionárias Dominicanas do Rosário têm cerca de 30 irmãs nas quatro missões em Moçambique. Algumas são europeias, mas a maioria é já moçambicana.

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