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quarta-feira, 2 de julho de 2008

Mandela, aos 90 anos, já não é terrorista para os EUA


Por: Edmundo Galiza Matos

No passado sábado, (28, junho), uma notícia, daquelas que os editores de jornais e outros meios de comunicação social atiram para as páginas do interior ou para espaços pouco frequentados por leitores ou ouvintes, uma notícia (dizia eu), chamou-me a atenção pelo cinismo que carregava e, pior ainda, vinda de um país com tradições humanistas mais que insuspeitas.
Tal notícia anunciava que o Congresso dos Estados Unidos tinha aprovado na sexta-feira uma iniciativa para tirar o ex-presidente sul-africano
Nelson Mandela da sua lista de terroristas
Que o projecto foi enviado à Casa Branca para sua promulgação; que para o senador John Kerry, um dos promotores da iniciativa, a aprovação daquele projecto, finalmente, retiraria Nelson Mandela da lista negra dos Estados Unidos; que a iniciativa vai ajudar a apagar a enorme vergonha de ter desonrado aquele grande líder.
Esta semana, finalmente, a lei foi aprovada pelo Presidente George W. Bush: Nelson Mandela já não é terrorista aos olhos dos Estados Unidos.
No que considero um insulto da pior espécie para o herói africano, os promotores da retirada de Mandela da lista do governo americano afirmam que a sua iniciativa (passo a citar) “representa um bom presente para Mandela, que completará 90 anos no dia 18 de julho”.
A história desta prenda, para quem acompanha as actividades do Madiba Mandela, começa a 10 de Abril passado, quando a poderosa secretária de Estado, Condoleezza Rice, pediu que restrições consideradas de "embaraçosas" e que impedem a entrada nos Estados Unidos do ex-presidente Nelson Mandela e de outros líderes sul-africanos sejam suspensas. Ora vejamos: O ex-presidente Bill Clinton fez questão de estar presente, em 1994, na tomada de posse de um terrorista chamado Nelson Mandela na presidência da Africa do Sul; e, o que deve ter embaraçado muito a CIA, este terrorista aos olhos do governo dos Estados Unidos, foi por pelo menos uma vez, recebido na Casa Branca pelo mais importante representante do povo americano.
O actual presidente da nação mais poderosa do mundo, George W. Bush de seu nome, certamente que já se encontrou e conversou com o terrorista Nelson Mandela e, ao que consta, não vê nada de mal em apoiar os programas sociais de uma fundação que ostenta o nome do considerado do pai da nação sul-africana.
Bill Clinton, esse, até sexta-feira passada pelo menos, continuava a apoiar o terrorista Nelson Mandela nas suas iniciativas de combate à Sida em África e a favor das crianças.
Chamo a atenção para o facto de que actualmente, qualquer membro do Congresso Nacional Africano, ANC, precisa de uma permissão especial para entrar nos Estados Unidos.
Aliás, os Estados Unidos da América, possuem uma representação diplomática ao mais alto nível, numa África do Sul, cujo presidente, Thabo Mbeki, consta da lista de terroristas elaborada por Washington. Será?
Vale a pena recordar aqui a definição de terrorista feita em 2001 pelo Embaixador británico na ONU, Jeremy Greenstock. Dizia ele então que “O terrorista é aquele que usa a violência indiscriminadamente para matar e causar danos a fim de fazer um pronunciamento político ou cultural e para influenciar de forma injusta e imoral a opinião pública de governos legítimos”.
Pelos vistos, Nelson Mandela, para os Estados Unidos, cabia perfeitamente nesta definição do diplomata britânico. Pelo menos até sexta-feira passada. Será?
Que ninguém fique surpreso se, daqui há alguns anos, quando Robert Mugabe completar os seus 90 anos, os governos norte-americano e britânico, derem como presente ao actual presidente do Zimbabwe, as mais altas condecorações nos seus respectivos países. "Herói na luta contra o neo-colonialismo britânico". Será?

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