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terça-feira, 19 de agosto de 2008

O nosso Cristovão Colombo, herói anónimo da epopeia libertadora do homem e da terra

Cristovão Colombo, sessenta e um anos, oito dos quais passados nas matas do Niassa e Cabo Delgado como guerrilheiro da Frelimo na luta pela independência nacional de Moçambique, é um antigo combatente.
Nasceu na Missão Católica de Muidumbe, em pleno plantalo de Mueda na ponta norte de Moçambique e hoje, aposentado do Ministério da Educação, reside com a família na vila fronteiriça da Namaacha, na ponta sul do país. Aqui é popularmente chamado por General Colombo, quando na verdade o seu cartão de identificação regista-o como Major.
Porquê então “General” Colombo?. Simples quanto o homem que o “promovera” se ter chamado Domingos Fondo, General de patência ajuramentado, infelizmente já falecido. Fondo, Comandamente Militar da Província de Inhambane nos dificeis anos da guerra, ficou impressionado com o amplo movimento de construção de abrigos nas escolas para a protecção dos alunos contra as investidas da Renamo. Posto ao corrente da paternidade daquela iniciativa, não exitou em patentear (está-se pois em período de guerra) o Colombo (o mentor da iniciativa) à categoria de General. Uma brincadeira que pegou até hoje. Aí temos então o “General” Cristovão Colombo, um “velho” gabarola que, pelas ruas pedregosas da Namaacha, se exibe com um pequeno bastão na mão e acenando “à militar” para todos os que o saudam.

Das matas da guerrilha a dirigente educacional

O nosso “General” adere à luta armada de libertação nacional dois anos depois do seu início, isto é, em 1966, na República da Tanzania. Tinha então 17 anos quando ingressa no Instituto Moçambicano (dirigido por Janet Modlane) em Dar-es-Salaam onde tem como professores, entre outros, Jacinto Veloso (General na Reserva e antigo membro do governo), Fernando Ganhão, um dos fundadores e primeiro reitor da Universidade Eduardo Mondlane, já falecido, e Eduardo Sebastião Koloma, hoje Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros.
O aluno Cristovão Colombo, mal sabia que um dos seus “teachers”, passados pouco mais de quarenta anos, viria a ocupar o mais alto cargo da nação: O Presidente da República Armando Guebuza.
Em 1968 o comando da guerrilha entendeu que o jovem Colombo já estava suficientemente “maduro” para as lides militares e decide enviá-lo para treino político-militar. A morte de Eduardo Mondlane, em fevereiro de 1969, surpreende-o no Centro de Nachingweia.
É “despachado” para o teatro da guerra no Niassa onde combate durante um ano sob as ordens do lendário comandante Romão Fernando Farinha, “movimentam-nos” depois para a frente de Cabo Delgado (em pleno “Nó Górdio”) onde permanece pouco tempo até que, suficientemente “bebido da realidade da guerra”, vai dar aulas no Centro Educacional de Tunduru na Tanzânia. Filipe Nhussi, o actual Ministro da Defesa, foi um dos seus alunos. Isto de 1970 até ao fim da guerra em setembro de 1974.
(Curiosidade: recolho esta trajectória de Cristovão Colombo em pleno jardim Tunduru na capital do país).

De camarada para Senhor Director

Após uma breve estada em Pemba durante o Governo de Transição, o nosso amigo é nomeado primeiro Director Provincial da Educação em Inhambane por Graça Machel, então Ministra do pelouro no primeiro governo de Moçambique independente.
Permanece no cargo por dois anos, durante os quais, para além de ter sido “patenteado” General por orientar a construção de abrigos militares nas escolas, conheceu, conviveu e dirigiu homens de várias origens e índoles, alguns dos quais são hoje renomados políticos, académicos e jornalistas. São os casos de Brazão Mazula (Ex-Reitor da UEM e primeiro presidente da CNEleições) a quem Colombo incubiu de dirigir o sector do ensino secundário; nomeou como directores distritais de educação dos distritos de Inhambane e Govuro, designadamente, Lourenço Hamela, pai de Hipólito Hamela, renomado economista, e Alberto Julai, hoje o jornalista mais velho da Rádio Moçambique.
É com orgulho que Cristovão Colombo desfia uma série de nomes de gente hoje importante que “passou pelas minhas mãos” como o de um grande jornalista da praça, Faustino Igreja de seu nome, hoje correspondente da Rádio Moçambique no Malawi. Faustino Igreja que dos bancos da Escola Emília Daússe em Inhambane, recebeu de Cristovão Colombo uma “guia de marcha” para ir cursar agricultura na Escola Básica Agrária do Chokwe, desertando depois para os bancos das redacções da Rádio pública.
Em 1984, o “General” Cristovão Colombo abandona orgulhosamente o campo de batalha por força das maleitas da idade.
Uma vida vivida plenamente por Colombo e que não é possível descrevê-la com todos os pormenores. Mas quem se interessar pela trajectória deste homem simples pode escutar uma entrevista feita por Maria Judite para o programa “Um Amigo, Uma Conversa” que vai para o ar no domingo, 25, as 20H00, com reposição na madruagada de quinta-feira, as 02H05. Escute no http://www.rm.co.mz/

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