Morreu ontem, aos 89 anos, o escritor russo Morreu ontem, aos 89 anos, o escritor russo Alexander Soljenítsin, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1970 e conhecido por suas ferozes críticas ao regime soviético - e em especial às prisões e aos campos de trabalhos forçados em que eram confinados os dissidentes, denunciados em sua célebre obra Arquipélago Gulag. De acordo com o seu filho Stephan, Soljenítsin morreu de insuficiência cardíaca aguda às 21h45 de Maputo.
Ele era considerado o maior escritor russo vivo. Nos últimos anos o autor, já muito debilitado, não aparecia mais em público. Raras imagens captadas pela TV russa o mostravam numa cadeira de rodas a receber convidados na sua casa nos subúrbios de Moscovo. O presidente russo, Dimitri Medvedev, transmitiu as suas condolências à família.
Nascido em 1918, Soljenítsin formou-se em matemática, mas sua paixão sempre foi a literatura. Ele serviu no Exército soviético durante a 2ª Guerra até ser preso, em 1945, por criticar o modo como o ditador Josef Stalin conduziu o conflito. As críticas renderam-lhe uma década na prisão (período no qual enfrentou e venceu um cancro) e em campos de trabalhos forçados na Sibéria - experiências que marcariam as suas obras.
Ele começou a tornar-se um escritor conhecido em 1962, com Um dia na vida de Ivan Denisovich, novela baseada na sua vivência em campos de trabalho forçados - e a sua única obra publicada na sua terra natal durante o regime soviético, por ordem do então líder Nikita Kruchev, ansioso em denunciar os abusos de Stalin. Com a queda de Kruchev, em 1964, Soljenítsin voltou a ser perseguido.
Em 1970, ele ganhou o Prêmio Nobel de Literatura por uma série de livros publicados no exterior, como O Primeiro Círculo e O Pavilhão de Cancerosos. Em O Primeiro Círculo , Soljenítsin descreve três dias na vida dos prisioneiros de Mavrino, "prisão especial" criada numa propriedade rural perto de Moscvo logo depois da 2.ª Guerra. O título é uma referência à Divina Comédia, de Dante Alighieri, e os seus círculos concêntricos do inferno.
O vencedor do Nobel, porém, recusou-se a receber o prêmio em Estocolmo com medo de ser proibido de voltar para casa. Em 1973, publicou em Paris a sua obra mais conhecida, Arquipélago Gulag - um relato minucioso em 1.800 páginas dos campos de trabalhos forçados (ler abaixo). Por causa das denúncias contidas no livro, Soljenítsin foi considerado um "traidor" pelo regime, teve a sua cidadania suspensa e acabou expulso da URSS em 1974.
Do exílio - ele morou na Suíça e nos EUA, onde viveu 18 anos recluso no interior de Vermont - o escritor tornou-se um ícone da resistência ao regime soviético. E um crítico mordaz da cultura ocidental, que ele chamava de "decadente".
RETORNO
Após o colapso da URSS, em 1989, o governo russo lhe devolveu a cidadania. Mas ele só voltaria para a sua pátria em 1994, após concluir A Roda Vermelha, um gigantesco apanhado sobre a Revolução Russa. O retorno foi marcado por uma viagem de comboio de 8.800 quilômetros pela rodovia transiberiana. Em vez de celebrar o início da democracia russa, Soljenítsin passou a denunciar o liberalismo econômico, a corrupção, permissividade sexual e a destruição dos valores nacionalistas da Rússia, entre eles a religião cristã-ortodoxa. As suas obras mais recentes - O Colapso da Rússia, um apocalíptico ataque político aos males da sociedade, de 1998, e Duzentos Anos Juntos, sobre o judaísmo na Rússia, de 2004 - encontraram a indiferença do público. Soljenítsin chegou a ter um programa de entrevistas, cancelado por falta de audiência. "No fim de minha vida, me atrevo a esperar que o material histórico que recolhi entre na consciência e na memória dos meus compatriotas", disse Soljenítsin en 2007, quando o então presidente Vladimir Putin lhe entregou o Prêmio de Estado russo .
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