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quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Cadeira de Machado de Assis, em disputa acirrada na ABL

(Acadêmicos da ABL se reúnem para o famoso chá)

Nunca houve eleição como esta em 111 anos de história da Academia Brasileira de Letras. Nesta quinta-feira, 21, os 39 imortais escolhem entre 21 candidatos quem terá a honra de ocupar a cadeira 23. Não é uma vaga qualquer. Foi inaugurada por Machado de Assis, que escolheu como patrono José de Alencar.



Jorge Amado ocupou-a por quatro décadas. A sua mulher, Zélia Gattai, substituiu-o por sete anos. Nas prévias informais, feitas entre um gole de chá e outro, aparece como favorito o jornalista e crítico de música clássica Luiz Paulo Horta. Também estão na corrida os escritores Antônio Torres e Ziraldo, a historiadora Isabel Lustosa e o crítico literário Fábio Lucas. Vence quem conseguir 20 votos.

Polêmica sobre Ziraldo

Dos cinco candidatos de expressão, Ziraldo é o mais polêmico. "A chamada bolsa ditadura pesou. Ele saiu chamuscado do episódio e isso tem peso na academia", analisa Ivan Junqueira. Em abril, o criador do Menino Maluquinho recebeu 1 milhão de Reais da Comissão de Amnistia do Ministério da Justiça, além da pensão mensal de 4 mil, num processo no qual alegava ter prejuízos com a perseguição política durante a ditadura militar.


Ziraldo não quer falar da sua candidatura: "Aprendi que candidato não deve dar entrevista." E usa um símbolo da ditadura para se justificar. "Como diria Armando Falcão (ministro da Justiça de Ernesto Geisel), nada a declarar." A candidatura de Ziraldo alimentou intrigas na casa. A sua amiga e imortal Ana Maria Machado, de 66 anos, o aconselhou a retirar o seu nome.
Um acadêmico antigo na casa acredita que a indeminização não é problema, até porque outro imortal, Carlos Heitor Cony, recebe o benefício desde 2004. O problema, segundo este acadêmico, foi a reacção de Ziraldo. Na época, o cartunista reagiu assim às críticas: "Estou me lixando. Esses críticos não tiveram a coragem de botar o dedo na ferida, enquanto eu não deixei de fazer minhas charges. Eles tomavam cafezinho com Golbery."


Apesar de ter eleições sempre muito concorridas, existem escritores que não aceitam fazer parte da Academia Brasileira de Letras.


"Tenho muitos amigos lá. Mas nunca pertenci a academias ou grupos. Gosto mesmo é de ficar em casa a estudar", explica o crítico literário Antonio Candido, de 90 anos.


O escritor Luis Fernando Verissimo relembra o pai, Erico. "
Uma vez, após um enfarte, o meu pai foi convidado a se candidatar à ABL e respondeu: ‘Mas eu já sou quase uma vaga!’ Quando o amigo Vianna Moog insistiu, disse: ‘Está bem, Moog. Vou me candidatar para a tua vaga.’ Moog nunca mais tocou no assunto. O meu pai era contra qualquer tipo de formalidade".
Verissimo, o filho, vai na mesma linha: "Eu não me candidato porque não tenho obra literária que mereça a honra nem o físico para o fardão, ainda mais depois que o (Moacyr) Scliar contou que a gente não fica com a espada. Mas também tenho amigos lá dentro e respeito a instituição".

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