Por Edmundo Galiza Matos
As muitas estradas que sulcam o país possuem a sua “curva da morte”, umas mais perigosas que outras, mas todas elas suficientemente traiçoeiras para meter respeito ao mais competente dos automobilistas.
Que me lembre, a primeira vez que transitei numa estrada com uma dessas curvas, foi no troço que vai de Diaca a Mueda, muito famosa mais por ter sido palco de emboscadas sangrentas dos guerrilheiros da Frelimo contra as colunas militares portuguesas, do que por capotamentos de veículos conduzidos por incautos.
Não é preciso ser muito atento para se perceber que grande parte dos acidentes de viação mais mortíferos em Moçambique, têm ocorrido nas curvas acentuadas, apesar de os sinais da sua proximidade serem facilmente notados.
A Estrada Nacional Número 2 (EN2), que vai da capital do país a vila fronteiriça da Namaacha, tem também a sua “curva da morte”, curiosamente plantada a escassos cento e cinquenta metros de um posto de controlo policial. Foi responsável pela morte de muitos automobilistas e pessoas que praticavam o contrabando de produtos ilegalemente importados da Swazilândia, fugitivas das autoridades. No local, para além de sulcos feitos no pavimento pelos veículos acidentados, brilham os cacos de vidro das garrafas de bebidas alcoólicas, restos de favos de ovos e plásticos das bacias e baldes de diversas cores, produtos que se espalhavam por ali cada vez que o carro do “mukherista” capotava. Morria gente e perdiam-se os produtos.
De há uns anos para cá, a “curva da morte” na EN2 não tem sido palco de mortes de importadores ilegais pela simples razão de que o contrabando foi em grande medida travado.
Hoje assiste-se, de tempos a tempos, ao capotamento de veículos de grande porte, transportando quase sempre açucar que o reino vizinho exporta através do porto de Maputo. Nos trés últimos casos de que tenho conhecimento, perderam-se consideráveis toneladas de açucar e ficaram feridas trés pessoas, curiosamente mulheres, que na fronteira haviam apanhado boleia.
No passado sábado, 9, um desses veículos pesados, capotou, espalhando a toda a largura uma quantidade considerável de açucar branco. A mulher que ia no veículo ficou gravemente ferida, correndo o risco de ver amputado um dos seus braços.
Os residentes nas imediações da “Curva do açucar”, pois é assim como agora se chama, são o que mais beneficiam cada vez que um daqueles camiões vira de pneus para o ar. Munidos de sacos de ráfia, baldes e bacias, panelas, capulanas e outros utensílios, toda a gente espera que as autoridades terminem a peritagem do sinistro para, quais abutres, se atirarem ao produto com uma voracidade tal que, em alguns minutos, o local deixa de ser branco para retomar a cor do alcatrão.
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